Francisco (Chico) Machado. Missionário e escritor.

Sábado da segunda semana da Páscoa.
O mês de abril vai chegando ao seu final. Logo estará passando as coordenadas para o mês de maio. Abril nada indígena. O que era pra ser um mês para se comemorar a presença dos indígenas no meio de nós se transformou num pesadelo a céu aberto. Mais do que comemorar, os povos indígenas saem a caça de seus direitos, diuturnamente violados, como no caso do povo Yanomami, que convive com cerca de 56 mil milicianos transvestidos de garimpeiros em seu território. “Meu povo tem o direito de viver em paz e em boa saúde, porque ele vive em sua própria casa. Na floresta estamos em casa! Os Brancos não podem destruir nossa casa, senão, tudo isso não vai terminar bem para o mundo”, alerta-nos Davi Kopenawa Yanomami. Davi esteve recentemente na ONU denunciando o desmonte das políticas públicas do atual governo, a serviço dos grandes invasores de terras.

O mês de abril é também o momento em que tradicionalmente se realiza a Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Neste ano, a 59ª Assembleia Geral da CNBB foi programada para ser realizada em duas etapas: 1ª etapa de 25 a 29 de abril e a 2ª etapa de 29 de agosto a 2 de setembro de 2022. A primeira etapa foi realizada no formato virtual e a segunda será presencialmente. Destas assembleias participam cardeais, arcebispos, bispos diocesanos e auxiliares, coadjutores, além dos bispos eméritos e representantes de organismos e pastorais da Igreja, que são convidados. Lembrando que a Igreja Católica no Brasil possui 278 circunscrições eclesiásticas, num total de 480 bispos, dos quais 307 exercem alguma missão e função de governo, e mais 166 bispos/arcebispos eméritos (aposentados).

Para um momento crucial que ora estamos vivendo de dilapidação dos valores éticos, morais e, sobretudo de profunda ameaça ao estado democrático de direito, o posicionamento da CNBB soa como uma voz profética no fim do túnel, como fica evidenciado em sua Mensagem ao Povo Brasileiro: “Assistimos estarrecidos, mas não inertes, os criminosos descuidos com a Terra, nossa casa comum. Num sistema voraz de “exploração e degradação” notam-se a dilapidação dos ecossistemas, o desrespeito com os direitos dos povos indígenas, quilombolas e ribeirinhos, a perseguição e criminalização de líderes socioambientais, a precarização das ações de combate aos crimes contra o meio ambiente e projetos parlamentares desastrosos contra a casa comum”.

Um sábado em que a liturgia do dia nos remete ao contexto histórico onde Jesus passou grande parte de seus três anos de ministério público. Cafarnaum, em Israel, é conhecida por ser a cidade de Jesus, já que foi lá que Ele teria morado por muito tempo e também teria realizado diversos sinais, como a cura de um paralítico, a cura da sogra de Pedro. Foi lá também que o Mestre chamou os seus primeiros seguidores para fazer parte de seu discipulado. Cafarnaum que no tempo de Jesus, ficava ao norte de Israel, na região do mar da Galileia, cerca de 185 km distante de Jerusalém e a 50 km de Nazaré. Uma terra de “gentios” que segundo a tradição bíblica eram considerados não-hebreus, marginalizados. A estada de Jesus nesta região talvez tenha acontecido para se cumprir aquilo que fora dito pelo profeta Isaías: “O povo que andava nas trevas viu uma grande luz, e uma luz brilhou para os que habitavam um país tenebroso”. (Is 9,1)

O contexto é o imediatamente após Jesus ter saciado a fome da multidão. Eles queriam proclamá-lo como rei pela saciedade de bens. Enquanto isso, os discípulos queriam voltar a normalidade sem ter tanta gente assediando Jesus e vão para o outro lado do mar. Mas Jesus vai ao encontro deles andando sobre as águas, para o temor dos discípulos. Mais uma vez, como no tempo do Êxodo (Ex 3,14), Jesus se dá a revelar à eles dizendo: “Sou eu. Não tenhais medo”. (Jo 6,20). Também nós algumas vezes nos comportamos como a estes discípulos e queremos nos eximir da responsabilidade de assumir o compromisso com a vida em plenitude. Jesus vem ao nosso encontro e faz a correção de rota nas nossas vidas. “Sou Eu” está conosco, por mais que o mar esteja agitado e a escuridão se faça presente em nossa caminhada de vida. Precisamos da ajuda d’Ele para dar cabo a nossa missão. Mais do que acreditar é preciso confiar que Ele ressuscitado vive em nós e por nós. A Ressurreição de Jesus é a nossa esperança. Esperar esperançando, fazendo, acontecendo, mesmo que ameaçados pelo medo, como diria Voltaire: “A esperança é um alimento da nossa alma, ao qual se mistura sempre o veneno do medo”.