Terça feira da 26ª Semana do Tempo Comum. Setembro encerrando, num dia especial para a nossa caminhada de fé. Para a Comunidade Católica, 30 de setembro é o dia da Bíblia, porque nesta data, celebramos a Memória de São Jerônimo, considerado o “o Doutor Máximo das Escrituras”. Esta comemoração de hoje da Bíblia, se deve a uma homenagem à figura de São Jerônimo. Conhecido como o primeiro tradutor da bíblia para o latim vulgar, conhecida como “Vulgata”, popularizando o seu conteúdo. A palavra “Vulgata” em Latim significa “comum” ou “simples”. Isto indica que a tradução foi feita para que as Escrituras Sagradas fossem acessadas pelo maior número de pessoas possível. Tanto Assim que a sua linguagem e seu conteúdo influenciaram fortemente o ocidente de língua latina.
A Bíblia é o livro sagrado para o cristianismo, assim como o Alcorão é para o Islamismo. Uma antologia de textos sagrados. Para os cristãos católicos, a Bíblia é como um “guia” de ensinamentos que orientam o modo de vida a ser seguido pelos seus fiéis, além de apresentar histórias da vida do povo semita, crônicas, parábolas e previsões feitas pelos profetas. Foi por este motivo que Jerônimo, um dos Padres da Igreja Ocidental, dedicou toda a sua vida ao estudo das Escrituras, colocando em prática a Palavra de Deus, lida, vivida, rezada. Conhecer a Palavra de Deus através dos textos bíblicos não se faz apenas com a leitura destes, mas compreendê-los a partir de uma prática conexa com os ensinamentos bíblicos. Este exercício se faz com uma leitura orante do texto, colocando a nossa própria vida no centro desta palavra: “Dai graças ao Senhor, porque Ele é bom; o seu amor dura para sempre”. (Sl 107,1)
A Bíblia nos ensina que os caminhos do Senhor são mais estreitos e elevados que os nossos caminhos pelas trilhas da história. Deus vê o todo, enquanto nós enxergamos apenas uma parte. Ao tomar contato com o texto sagrado, vemos um clarão que ilumina o nosso existir, fazendo com que os momentos na vida em que tudo parece fora do lugar, se encaixem para uma dimensão de caminhada que devemos fazer na companhia dos irmãos e irmãs, que estão indo na mesma direção. Muitas vezes, os nossos planos falham, portas se fecham e as nossas súplicas parecem não serem ouvidas/respondidas. Nessas horas, é natural nos perguntarmos: “Por que Deus permitiu isso?”, ou “Será que Ele se esqueceu de mim, de nós?”. Trata-se de uma visão limitada nossa, mas a compreensão amorosa e infinita de Deus é completa, perfeita.
Seguimos nesta terça feira refletindo com o evangelista São Lucas, que nos coloca diante do contexto de Jesus fazendo a sua caminhada para Jerusalém. Depois de seu ministério na Galileia, realizado com palavras, mensagens e os sinais (milagres) de libertação do povo oprimido e explorado, Ele caminha decididamente convicto para Jerusalém, para o ápice de sua missão de amor pleno. Ele sabe que é lá em Jerusalém que acontecerá a cruz e à ressurreição. Sua hora está chegando: “Chegou a hora em que o Filho do Homem vai ser glorificado”. (Jo 12, 23) Jesus se apresentando como o Messias predito pelas Escrituras, mostrando sua verdadeira missão: dar a vida para salvar e reunir o povo. O Reino de Deus se realizando com Jesus indo até as últimas consequências, para que se instaurasse de vez o Reino de Deus entre nós.
De todos os evangelistas, Lucas é um especialista ao narrar para nós o “caminho de Jesus”. Um caminho que se realiza na história e, para percorrê-lo, o “Filho do Altíssimo” se faz homem em Jesus de Nazaré, trazendo para dentro da história humana o projeto de libertação e salvação que Deus tinha revelado, conforme a promessa feita no Primeiro Testamento: “Bendito seja o Senhor, Deus de Israel, porque visitou e redimiu o seu povo. Fez aparecer uma força de salvação na casa de Davi, seu servo; conforme tinha anunciado desde outrora pela boca de seus santos profetas”. (Lc 1,68-70) Deus abrindo novos caminhos na história humana, manifestando a luz que ilumina a condição do povo, abrindo uma história nova, que se encaminha para a Paz, isto é, a plenitude da vida humana.
O caminho de Jesus inicia com o processo de libertação na história, e por isso realiza nova história: a história dos pobres e oprimidos que são libertos para usufruírem a vida dentro de novas relações de fraternidade e partilha entre as pessoas. Todos sabemos, que o programa da ação libertadora de Jesus é apresentado nos seus ensinamentos na sinagoga de Nazaré (Cf. Lc 4,16-22). Por essa razão, o caminho provoca confronto, choque com aqueles que julgam a história como já realizada e querem manter o sistema de exploração, manipulação e marginalização organizado por eles. Tal sistema, porém, mostra apenas a história tal como é contada pelos ricos e poderosos, que exploram e oprimem o povo, reduzindo-o à miséria e a fraqueza. O grande ensinamento deste texto de Lucas para nós hoje é que o caminho de Jesus força-nos a uma revisão dessa história, começando a contar a história a ser construída pelos pobres e marginalizados. Desse modo, surge entre nós o caminho da salvação, que é o caminho da paz e da justiça para todos. “Quando rezamos, falamos com Deus. Quando lemos a Sagrada Escritura, Deus fala conosco”. (São Jerônimo)
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