Quinta feira da Décima Terceira Semana do Tempo Comum. O mês de julho vai se delineando em nossas vidas, marcado no compasso da história. Estamos vivendo a estação do Inverno, que teve o seu inicio no dia 20 de junho e vai até 22 de setembro, com temperaturas mais baixas e dias mais curtos. A natureza segue despindo-se de suas roupagens. Sábia que é, neste período as árvores perdem as folhas como um mecanismo de adaptação para sobreviver ao frio e à falta de água. Assim, a queda das folhas reduz a perda de água por transpiração, já que o ar frio e seco do inverno dificulta a reposição da água perdida pelas folhas. A natureza é repleta de magia, entretanto, para sintonizar com esta sua sabedoria, é necessário preencher-nos de sensibilidade no contato e cuidado para com ela. Na sua sabedoria indiana, Gandhi já nos dizia: “A Terra fornece o suficiente para satisfazer as necessidades de todos, mas não a ganância de todos”.

Quinta feira em que me despi da cama ainda muito cedo, para ter alguns momentos de mística e espiritualidade ao lado daquele que se fez despojado de todos os símbolos de poder. Pedro se fez pobre, com os pobres e para os pobres. Testemunhou em vida a pessoa do Ressuscitado, se fazendo um, nas causas dos pobres e marginalizados. Desfez-se dos símbolos de poder de uma Igreja clerical (Mitra, Báculo e Solidéu), oriundos da influência do Império Romano, para ser e se fazer Igreja viva nas causas dos indesejados do “Vale dos Esquecidos”, como era chamado anteriormente o hoje Vale do Araguaia. Estar ali no túmulo de Pedro é sentir a energia que emerge daquele lugar sagrado, preenchendo de esperança as nossas utopias, acreditando que podemos ser e fazer diferente a nova história de outro mundo possível.

Pedro, pastor, poeta, místico e profeta das causas da vida, das causas do Reino. Uma vida inteira dedicada ao seguimento, como testemunha fiel de Jesus de Nazaré. É este legado que tentamos levar adiante, tendo-o como nossa inspiração maior, nas causas que hoje abraçamos, sobretudo num Brasil em que a classe politica, que se diz “representante do povo”, se faz representante dos interesses nefastos e mesquinhos de uma elite rica e abastada, que vive à custa da exploração da grande maioria do povo empobrecido. Por este motivo, pedi a intercessão de Pedro, para que tenhamos a força necessária para seguir sendo a resistência resiliente, na procura do Reino de justiça, paz, igualdade e fraternidade, fazendo jus a uma das frases do escritor Franz Kafka (1883-1924), que no dia de hoje celebramos a memória de seu nascimento e páscoa: “A solidariedade é o sentimento que melhor expressa o respeito pela dignidade humana”.

3 de julho. Nesta data também a Igreja celebra a festa do Apóstolo São Tomé. Tomé, que em aramaico, significa “gêmeo”, cujo apelido, com o qual era conhecido – Dídimo – tinha o mesmo significado em grego. Um homem que não era muito instruído, mas, certamente, compensava esta lacuna pelo imenso amor que sentia por Jesus. Segundo a tradição apostólica, ele recebeu a missão de evangelizar a Síria e, depois, a cidade de Edessa, da qual partiu para fundar a primeira comunidade cristã na Babilônia, Mesopotâmia. Geralmente, quando se fala de Tomé, se começa de trás para frente: depois da Ressurreição, por não estar presente na aparição de Jesus aos Apóstolos, não acreditou no que lhe disseram.

O texto que estamos refletindo no dia de hoje, proposto pela liturgia, faz parte de um contexto maior das “aparições de Jesus ressuscitado”. Como sabemos, foram três as aparições de Jesus: a primeira na manha de domingo, para Maria Madalena (Jo 20,14-16); a segunda a tarde deste domingo para os discípulos no caminho para Emaús, (Lc 24,13-35) e a terceira para os discípulos reunidos à beira do mar (Jo 20,19-31 e Lc 24,36-43). O relato de hoje trata-se da incredulidade de Tomé. Lembrando que os discípulos ainda estavam abalados pela morte de Jesus e pelas violências que sofreu na crucificação. Porém, ao ressuscitar, Jesus apareceu, imediatamente, aos seus discípulos para tranquilizá-los. Tomé não estava ali presente, naquele momento e, por isso, não acreditou no que diziam. Talvez, por causa da sua teimosia ou por sentir-se ausente, quis tocar as feridas dos cravos, nas mãos e no peito de Jesus. Tomé era um homem como outro qualquer. Por isso, Jesus o satisfez, ao voltar oito dias depois. Assim, Tomé acreditou, imediatamente, a ponto de fazer sua importante confissão: “Meu Senhor e meu Deus!” (Jo 20,28)

Todos e cada um de nós temos os nossos “momentos de Tomé”. Na realidade, ele simboliza todos aqueles e aquelas que não acreditam no testemunho da comunidade e exigem uma experiência pessoal, particular para acreditar. Todavia, Jesus faz questão de revelar-se a Tomé dentro da própria caminhada da comunidade. Não se trata de uma experiência pessoal apenas, mas a força do ressuscitado que se faz presente na caminhada da comunidade, que se une em torno de seu testemunho. Ou seja, todas as gerações do futuro acreditarão em Jesus vivo e ressuscitado através do testemunho da comunidade que acredita. As marcas do amor estão presentes na vida daqueles e daquelas que, ao testemunharem a presença viva do Ressuscitado, lutam e fazem acontecer o Reino, através das ações concretas no dia a dia. Nada de pregações sem as marcas deste amor, sem Jesus, sem os indesejados, sem a cruz e sem o compromisso e a identificação com os machucados da história. “Bem-aventurados os que creram sem terem visto!” (Jo 20,29)