@francysadaosj

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Estudei a velhice de dois Santos e a velhice de pobres indigentes, que além de desprezados, eram invisibilizados, ou seja, tratados com indiferença, tal como o Lázaro da parábola de Jesus, que ficava à porta do rico, que comia iguarias, vivendo de luxo e fazendo dos pobres, lixos descartados que nem dava para reciclar, mas para reproduzir dentro do modelo econômico concentrador. (Lucas 16, 19-31)

 

Foi por causa dessa indiferença que a ONU estabeleceu o da 1º de outubro como o Dia Internacional da Pessoa Idosa, recebendo do Brasil o referendo para tornar-se, também, o Dia Nacional, como evento forte de sensibilização e reforço para uma cultura do cuidado e sempre novas conquistas dos direitos para um saudável envelhecinento.

 

O mês de outubro lembra a beleza musical do compositor Vivaldi, com suas 4 estações. Hoje, esqueço a “primavera” da vida (crianças e jovens), saúdo o “verão” (adultos em fase de trabdlho) e não aceitou o frio do “inverno”, da hibernação do sentimento do descaso. Dou destaque ao OUTONO DA VIDA que a cada ano vai se condensando em multidões, cada vez maiores, ao ponto de, em breve espaços de anos, inverter a pirâmide etária. Teremos uma população com menor número de crianças e jovens, menos gente produzindo as riquezas, através do trabalho e, mais gente idosa, ultrapassando os 60 anos de vida, numa expectativa de vida, com média de 80 anos.

   

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Apesar das conquistas dos direitos da Pessoa Idosa, com a Lei de nº 10.741 de 1º de outubro e da Lei nª 14.423 de 22 de julho de 2022, passando a se chamar de Estatuto da Pessoa Idosa, são muitas aquelas que vivem fora do foco da atenção e do cumprimento dos seus direitos fundamentais.

 

Diante da realidade de quem nasceu pobre, cresceu e chegou a velhice em situação de pobreza, muitos direitos são urgentes a serem conquistados. Desde o nascimento, a adolescência, vida adulta até a velhice, não poderão viver sem políticas públicas universalizadas.

 

A luta da sociedade será para não permitir que ninguém morra na indiferença, sem ver a Justiça amanhecer para todos os idosos.   

 

Para rebater esse realismo da negação dos direitos de quem ainda está no verão da vida, precisamos nos perguntar e responder, coletivamente, como queremos viver quando formos idosos. E quem é pessoa idosa, obriga-se a fazer uma retrospectiva da vida, voltando ao tempo de criança e contabilizando os direitos que conquistaram.

 

Neste texto, introduzo a experiência da velhice de Santo Afonso Maria de Liguori, relendo um livro ” Memórias de Outono”, quando avançado nos anos, certo companheiro com sua inteligência intuitiva, pode comparar os últimos anos da vida do santo com a trajetória de nossa vida.   Vejamos:

 

Gisele B Alfaia

Gisele B Alfaia

1.      As lembranças da infância, da criatividade com poucos brinquedos, dos folguedos das praças, ainda não virtuais, onde o abraço e o empurra-empurra faziam parte da alegria. Com certeza, a teimosia e o drama, quando éramos crianças, os adultos não cediam aos nossos desejos e travessuras, a não ser quando a pedagogia era: “desde pequeno é que se dobra o pepino deste menino”. Era um mundo e um tempo diferentes aos de hoje.

 

2.      Nossos pais tinham uma força moral que escapava em forma de gritos, igual ao velho ditado: “cachorrão que muito late, não morde”.

 

A “mordida” era forte em forma de surra de correção, porque os pais do passado não esqueciam o livro dos Provérbios 29:15: “A vara e a repreensão dão sabedoria, mas o rapaz entregue a si mesmo envergonha a sua mãe”. Também em Provérbios 23:13-14 se lê: “Não deixe de disciplinar a criança; se você a castigar com a vara, ela não morrerá.   

 

Em consequência dessas experiências, vivíamos, enquanto crianças e, mais ainda, como jovens, em um conflito quase que permanente: Obediência à autoridade ou a rebeldia ao poder patriarcal. Essa era a questão. Conforme a escolha primordial, estaríamos treinando para uma velhice protagonista, passando pela vida adulta crítica, ou acomodado, sentindo-se vítima da injustiça dos pais, dos empregadores e dos governantes.

 
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Assim era, mas faz apenas 35 anos da promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente, uma conquista árdua e mobilizadora para tirar a condição de menor e projetar a criança como sujeito de direitos. Estas crianças serão os idosos valentes para prosseguir em novas conquistas na terceira idade? Enquanto o Estatuto da Pessoa Idosa, tem apenas 22 anos, pois falta muito para que conquistem, por exemplo, mais Centros de Convivência, Fóruns, Conselhos de Direitos e Conferências, ILPs com o padrão de qualidade da Fundação Dr. THOMAS, em Manaus, AM, a fim de protagonizarem uma outra história, deixando de serem meros assistidos para tornarem-se ativistas ferozes, no bom sentido. Não dá mais para idosos viverem de migalhas que caem da mesa dos politicos e dos ricos. Eles terão que aprender, muito cedo na vida, a conquistar seus direitos e se juntar como classe de trabalhadores ou de aposentados, a fim de mudar a engrenagem do sistema que privilegia aqueles que já nasceram ricos e são donos dos meios de produção (terra, água, tecnologias e as mídias, como as emisorras de TV, jornais e plataformas digitais).

 

Que bom saber que o Dia do Idoso é tão próximo do dia 04 de Outubro, que é o Dia de São Francisco de Assis, que junto com Santo Afonso nos ensinaram a caminhar em busca dos pobres e idosos para anunciar-lhes a ternura e o cuidado com os doentes e esquecidos, e mostrar que as riquezas que possuímos devemos usá-las para o bem comum e para lutar contra tuda que causa sofrimento.

 
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Perguntamos para concluir: O que é a velhice para Afonso e São Francisco? Podemos conferir que é uma “segunda infância”, mas contestando a mentalidade e o juízo ou o preconceito sobre quem é criança ou idoso. Não são mais os incapazes, que só dão trabalho, atrapalham, vidas gastas e sem importância.

O fato é que a fragilidade da vida e a dependência são cada vez mais reais para os idosos, mas Afonso e Francisco nos dão a fórmula:“Humildade, meu velho”, de húmus mesmo, terra fértil a nos tornar e desabrochar como semente, brotando na videira da ressurreição de Jesus.

 

Nelson Peixoto, em 4 de outubro de 2025 – Dia de São Francisco de Assis.