Sábado da Décima Segunda Semana do Tempo Comum. Dia de comemoração na caminhada de fé de nossa Igreja. Neste dia 29 de junho, a liturgia nos propõe duas festas profundamente significativas: Memória do Imaculado Coração de Maria e a Solenidade de São Pedro e São Paulo, apóstolos. Esta última, celebrada nesta data, em função do martírio de ambos, ocorrido em 29 de junho do ano de 67. Inicialmente chamado de Simão, Pedro foi duramente perseguido por Nero, preso e, depois, crucificado de cabeça para baixo. Já Paulo, foi condenado à morte e decapitado pelo Tribunal romano. Antes de suas mortes, Pedro e Paulo seguem por caminhos diferentes, dedicando suas vidas ao seguiment0 fiel de Jesus de Nazaré, levando adiante a proposta do Reino, tornando-se pilares da Igreja nascente.

Em meio a estas festas tão importantes para a nossa caminhada de fé, abro um parênteses, nestes meus rabiscos de hoje, para rememorar nesta data, o nascimento de um grande escritor francês, que marcou e influenciou o pensamento de muitos leitores do século XX. Estou falando de Antoine de Saint-Exupéry (1900-1944). Saint Exupéry é o escritor da uma das obras mais importantes da literatura infantil mundial: “O Pequeno Príncipe”. Obra publicada pela primeira vez em abril de 1943. Tenhamos o cuidado para não fazer como um determinado professor, dia desses, que confundiu esta obra com “O Príncipe”, de Maquiavel. O Pequeno Príncipe se tornou o livro de cabeceira de muitos jovens como eu, nos idos dos anos 60/80 e 90. Sempre trouxe comigo uma de suas citações, que nos ajudam a pensar outro mundo possível, quando ele diz: “Amar não é olhar um para o outro, é olhar juntos na mesma direção”.

Retomando a reflexão bíblica do texto do Evangelho do dia, que é o nosso principal enfoque aqui, deparamo-nos com uma perícope do evangelista São Lucas, que nos apresenta a Família de Nazaré, Jesus, Maria e José, participando da Festa da Páscoa, cumprindo assim a tradição judaica da época. O menino estava com 12 anos de idade. Como um especialista em narrar a infância de Jesus, Lucas diz que quando Jesus tinha 12 anos de idade – por volta de 8 d.C., seus pais o levaram a Jerusalém mais uma vez. A ocasião para essa viagem foi a festa da Páscoa. Eles ficaram em Jerusalém, visitaram o Templo e, por fim, se prepararam para voltar para casa, quando acontece o inesperado para o coração aflito daquela Mãe, que não encontra seu filho na caravana de volta para casa.

Antes de entrar no assunto propriamente dito, lembramos que, segundo a tradição judaica, no tempo de Jesus, por volta dos 12 anos, os meninos judeus estavam às portas de entrar para a idade adulta. Isto os permitia participarem do “Bar Mitzvah”, uma celebração que simbolizava o início de suas responsabilidades religiosas e comunitárias. Este cerimonial consistia na concessão da maioridade religiosa aos jovens judeus, sendo considerada a mais importante cerimônia na vida de um judeu. De acordo com as leis do judaísmo, todos os adolescentes já são responsáveis pelos seus atos e escolhas dentro da religião judaica a partir do momento que celebram o “Bar-Mitzvá”. Lembrando também que na época de Jesus, a entrada na fase adulta não era rigidamente determinada pela idade, mas, muitas vezes era associada a eventos culturais.

“Os pais de Jesus iam todos os anos a Jerusalém, para a festa da Páscoa. Quando ele completou doze anos, subiram para a festa, como de costume”. (Lc 2,41-42) A Família de Nazaré cumprindo assim a tradição judaica de seu tempo, estando presente a uma festa muito importante para o povo judeu. Estando ali, o menino se faz presente em meio aos religiosos do Templo, interagindo com eles sobre as questões teológicas. Segundo os relatos bíblicos, pouco sabemos sobre a juventude de Jesus. Este incidente de hoje, narrado por Lucas, nos ensina que Jesus era filho de pais muito devotos a seus rituais religiosos. Como exigido pela sua fé, José e Maria faziam a sua peregrinação anual a Jerusalém para a festa da Páscoa. A permanência de Jesus no Templo não foi uma mera coincidência, ou ato de desobediência aos pais, mas o resultado da consciência de saber que Ele tinha a tarefa de cuidar dos interesses do Pai: “Por que me procuráveis? Não sabeis que devo estar na casa de meu Pai?” (Lc 2,49)

Os mestres e doutores da Lei ali presentes ficaram admirados com a sabedoria daquele jovem menino. O fato de que Ele estava surpreendendo os “entendidos” do Templo com a Sua sabedoria e conhecimento, demonstra que aquele menino foi muito bem preparado por seus pais, para assumir a missão que lhe fora designada. Sua escuta e perguntas aos anciãos mostram que era absolutamente respeitoso, assumindo o papel de um “principiante”, um “calouro”, assim como era apropriado para um jovem da Sua idade. Como podemos observar através deste texto Lucano, as primeiras palavras de Jesus mostram que toda a sua missão decorre da sua relação filial com o Pai. Isto significa que essa missão provém do próprio Mistério divino de Deus e da realização de sua vontade entre a humanidade. Entretanto, tudo isso só tem sentido dentro do mistério da Encarnação do Verbo, onde Jesus, em sintonia de unicidade com o Pai, vai aprendendo a viver a vida humana como qualquer outro ser humano como nós. O texto de hoje omite o último versículo, que faz todo sentido e nos permite concluir todo este mistério sob a ótica de Deus: “Jesus ia crescendo em sabedoria, estatura e graça diante de Deus e dos homens” (Lc 2,52).