Terça feira da Vigésima Quarta Semana do Tempo Comum. No dia de hoje, a Igreja celebra a Memória dos Santos Cornélio e Cipriano, dois grandes pastores e mártires dos primeiros séculos do cristianismo. Por este motivo, para desespero de alguns fundamentalistas, a cor litúrgica é vermelha. Cornélio foi eleito Papa em 251, num período de fortes perseguições contra os cristãos, durante o império de Décio. Seu pontificado foi marcado pela firmeza e misericórdia. Enfrentou divisões internas, como o cisma de Novaciano, que defendia a exclusão definitiva dos cristãos que haviam renegado a fé diante das perseguições. Cornélio, pelo contrário, insistiu que a Igreja deveria acolher os arrependidos com penitência e perdão. Em 253, sob o imperador Galo, Cornélio foi exilado para Civitavecchia, onde morreu mártir, provavelmente por maus-tratos nas condições de prisão.
Já São Cipriano, Bispo e Mártir, nasceu em Cartago (atual Tunísia) no início do século III. Foi convertido ao cristianismo na vida adulta, entregou-se como estudioso das Escrituras e da teologia. Foi eleito bispo de Cartago em 249. Pastor zeloso se destacou por sua sabedoria, por sua clareza doutrinal e pela unidade com a Igreja de Roma. Escreveu obras importantes sobre a unidade da Igreja e a autoridade episcopal. Durante a perseguição do imperador Valeriano, Cipriano foi preso e condenado à morte. No dia 14 de setembro de 258, foi decapitado diante do povo, tornando-se exemplo de coragem e fidelidade. Uma das frases ditas por Cipriano gera controvérsias até os dias de hoje: “Não pode ter Deus por pai quem não tem a Igreja por mãe”. Sim porque conheço muitos que não pensam assim, e são mais próximos de Deus que muitos que não saem de dentro das Igrejas.
Cornélio e Cipriano seguiram os passos de Jesus. Por falar nos seguidores do Mestre Galileu, nesta semana, celebramos o nascimento de um destes, que muito nos ensinou com a sua vida. Mais precisamente no dia 14 setembro passado, o Cardeal Dom Paulo Evaristo Arns, O.F.M. nascia em Forquilhinha, Santa Catarina. Ele que faleceu em São Paulo no ano de 2016. Dom Paulo pertencia a Ordem dos Frades Menores (OFM). Aliás, o carisma franciscano tem diferentes Ordens. Além desta já citada, tem também a Ordem dos Frades Menores Capuchinhos (OFMCap.), a Ordem dos Frades Menores Conventuais (OFMConv.) e a Terceira Ordem Regular (TOR). Dom Paulo foi o quinto arcebispo de São Paulo, tendo sido o terceiro prelado dessa Arquidiocese a receber o título de cardeal, com quem tive o privilégio de trabalhar, no inicio da minha caminhada presbiteral. Muito triste ter que comunicar ao nosso bispo Pedro, da morte do amigo que ele tanto admirava.
“Ser cristão é trabalhar para que haja justiça e solidariedade em todos lugares”, afirmava Dom Paulo. Como Jesus, que está sendo solidário com uma mãe viúva, que está a caminho do cemitério, para sepultar o seu único filho, como Lucas, sinteticamente, descreve no texto que a liturgia reserva para a nossa reflexão no dia de hoje. Jesus age movido pela compaixão: “Ao vê-la, o Senhor sentiu compaixão para com ela e lhe disse: Não chores!”. (Lc 7,13) O verbo “mover-se de compaixão” é um verbo que expressa um sentimento interno profundo e visceral, tanto que em algumas traduções, o original grego pode ser traduzido como “sentir com as entranhas”, indicando uma reação profundamente emocional, de quem sente a dor do outro como sua dor.
No contexto bíblico, misericórdia se entrelaça com a compaixão, uma vez que para ambas as palavras, tem-se o significado de amorosidade, perdão e bondade, especialmente a de Deus para com os seres humanos, manifestada no alívio do sofrimento e na suspensão da condenação que se merece. Mover-se pela compaixão e pela misericórdia é um ato de amor incondicional que não depende dos méritos humanos, mas é oferecido gratuitamente para ajudar e perdoar, e é tanto uma virtude divina quanto um chamado para que demonstremos a mesma bondade no nosso agir cotidiano, para com os pobres, os indesejados e necessitados. Em Jesus, Deus se faz presente com a sua compaixão, oferecendo sempre o seu amor incondicional e gratuito. Deus é amorosidade na gratuidade do seu Jeito de amar, para que a vida prevaleça e não a morte de quem quer que seja.
Na pessoa de Jesus, Deus vem visitar o seu povo. Visitar e se fazer presente, estabelecendo sua morada definitiva entre nós. Não é mais o “Deus das alturas”, mas é Deus-conosco, já que o nome Emanuel significa “Deus-conosco”. Esta palavra tem a sua origem no hebraico Immanuel, composto pelas palavras “com” (im), “nós” (anu) e “Deus” (el). Este é um nome profético da Bíblia, que se refere ao nascimento de Jesus e simboliza a presença divina, de esperança e proteção. Ao devolver a vida daquele jovem rapaz, aos braços de sua mãe aflita, Jesus mostra, através de sua atividade libertadora, que Deus está presente e vem salvar o seu povo. Essa visita de Deus através de Jesus é a manifestação do amor compassivo e misericordioso, que atende aos mais pobres e necessitados. Quem entendeu esta dinamicidade, foi o “Código Samurai” que assim escreveu: “Tenha compaixão, ajude os seus companheiros em qualquer oportunidade. Se a oportunidade não surge, saia do seu caminho para encontrá-la”.
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