Entre o Altar e a Encruzilhada – Crônica de um Leigo

Por: Pedro Luiz Dias

 

Hoje, logo pela manhã, recebi um link para ler uma matéria muito boa, por sinal, que falava sobre a encruzilhada na formação presbiteral. Um artigo belíssimo, publicado no portal da Unisinos, em que o autor fazia uma reflexão profunda e oportuna sobre a formação dos padres.

Por uma razão pessoal, estive na cidade de Mogi das Cruzes, SP, para resolver alguns documentos. Como cheguei muito cedo, aproveitei para visitar a igreja onde meu pai havia sido administrador: a Igreja de São Benedito — belíssima, aliás, e muito bem conservada.

Ao entrar, percebi que a missa da manhã já estava em andamento, e o padre fazia a homilia. Que bela homilia! Falava sobre os padres como administradores do patrimônio e das almas, e sobre o zelo que deveriam ter por suas comunidades. A igreja, às seis da manhã, estava cheia.

Terminada a celebração, senti vontade de cumprimentar o padre pela homilia, ainda inspirado pelo artigo que eu havia lido da Unisinos.

Dirigi-me à secretaria paroquial, onde fui muito bem recebido pelos leigos que ali trabalhavam. Pediram que aguardasse um instante. Ofereceram-me café, foram gentis, perguntaram o que eu desejava. Um clima de acolhimento verdadeiro.

Pouco depois, uma senhora me avisou:

— Pode entrar, o padre está na sacristia.

Fui.

“Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo”, cumprimentei.

Nenhuma resposta.

Insisti, cordial:

— Padre, muito bom dia. Meu nome é Pedro Luiz. Vim cumprimentá-lo pela homilia.

Mas o reverendo, de costas, permaneceu de costas, guardando seus paramentos em silêncio. Mencionei, então, que meu pai havia sido administrador da paróquia por muitos anos. Nem assim houve reação.

Percebendo o evidente distanciamento — e um certo desprezo —, resolvi encerrar a tentativa de diálogo.

— Muito obrigado, padre. Tenha um bom dia — disse, já me retirando.

Ele apenas murmurou, lacônico:

— Tenha um bom dia.

Saí dali um tanto chocado.

Logo cedo, havia lido sobre a encruzilhada na formação presbiteral; e, logo em seguida, vivi pessoalmente o retrato exato da tese do artigo.

Foi um contraste duro. Triste.

Como comentei depois com um amigo, rezei pela vocação daquele padre — para que ele não trate assim suas ovelhas. Porque essa não é a Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo: a Igreja que acolhe, que escuta, que é educada e atenciosa.

Certamente o reverendo devia estar com algum problema pessoal. Soube, depois, que não era dali — veio de uma paróquia distante, no norte do estado. Não citarei nomes, por respeito.

Mas a constatação permanece: ainda há, sim, sacerdotes muito mal formados, pouco educados, e que não zelam por aquilo que pregam.

E é nessa contradição entre o púlpito e a prática que a fé dos leigos, tantas vezes, é colocada à prova.