Terça feira da 31ª Semana do Tempo comum. Dia de festa para a Igreja Católica, que celebra na data de hoje, a Memória de São Carlos Borromeu (1538-1584). Dedicou sua vida à missão de defender a Igreja e cuidar dos pobres e, para isso, não mediu esforços. Colocou seus bens à disposição para matar a fome do povo, até chegou a pedir esmolas quando não tinha mais o que oferecer. Foi um Cardeal italiano e Arcebispo de Milão, sendo o primeiro bispo a fundar seminários para a formação dos futuros padres. Promoveu sínodos diocesanos e, através de seus escritos, possibilitou o conhecimento da Doutrina da Igreja. Foi beatificado pelo Papa Clemente, em 1602 e canonizado em 1610, pelo Papa Paulo V. Um de seus lemas de vida se resume nesta frase: “Somos todos fracos, confesso, mas o Senhor Deus nos entregou meios com que, se quisermos, poderemos ser fortalecidos com facilidade”. Ao lado de São Luís Gonzaga, é o protetor dos seminaristas.
Uma terça feira em que os amantes, como eu, da boa música, estamos de luto. Faleceu ontem na cidade da Belo Horizonte, onde nasceu, Salomão Borges Filho, mais conhecido como Lô Borges (1952-2025). Cantor e compositor brasileiro que, ao lado de Milton Nascimento, Márcio Borges, Beto Guedes, Toninho Horta, e Wagner Tiso, fundaram o Clube de Esquina, grupo de artistas mineiros, que marcou presença na música popular brasileira nas décadas de 1970 e 1980. Este movimento musical revolucionou o cenário artístico do país, misturando jazz, rock, bossa nova e sons regionais mineiros, mudando para sempre o rumo da música popular brasileira. Cresci ouvindo as canções deste grupo, que marcou a nossa época. Hoje, vivemos uma crise de identidade da música brasileira, tendo que ouvir um “’sertanojo’ universitário” de péssimas letras e melodias sem criatividade.
Uma terça feira que ainda repercute em nós, pelo menos nos mais sensíveis à realidade social dos pretos, pobres da periferia, com a chacina produzida pelas (des)ordens de um (des)governador, membro da Renovação Carismática Católica (RCC). Para tristeza maior nossa, foi aplaudido de pé pelos “católicos” de bem, da comunidade que frequenta. O mais triste ainda é que na tal celebração, estavam presentes padres e também um bispo, isto no Dia de Finados, em que rezamos pelas pessoas que já fizeram a sua páscoa. Que Igreja é esta que consegue aplaudir as ações que provocaram a morte de pessoas trabalhadoras inocentes, dentro das suas casas? Como será que estas pessoas leem o Evangelho das Bem-Aventuranças, ou o Magnificat pronunciado pela Mãe dos Pobres? Certamente movidas pela a ideologia da indiferença e da cultura do ódio.
Esqueceram de vez a proposta do Evangelho, seguindo por outros caminhos que, com certeza, não é o mesmo do Jovem Galileu. Ainda bem que Lucas hoje nos traz o Evangelho da esperança dos pobres. Esperança movida pela indignação e pela coragem, quando Jesus “da a letra” ao Fariseu que o convidou para estar em sua casa: “Traze para cá os pobres, os aleijados, os cegos e os coxos”.(Lc 14,21) Esta lista é muito maior, segundo o desejo de Jesus, manifesto em seu plano de amor, no anúncio do Reino: as mulheres, as crianças, as prostitutas, os cobradores de impostos, os doentes, os pagãos. Gente da ralé, da periferia do submundo da indiferença dos grandes e poderosos, aqueles que são os destinatários primeiros do Reino, mostrando que Deus e Jesus tem um partido: o partido dos pobres.
Os primeiros a participarem da festa do banquete do Reino, são os indesejados, pobres e marginalizados. Aqueles que sonham e nunca desistem na busca de serem felizes. No texto de hoje, vemos Jesus apresentar o Reino de Deus como um grande banquete, em que Deus reúne os seus convidados preferidos. Ainda que os representantes oficiais e os habituados à religião da alienação e do comodismo, recusem o convite, dando mais importância aos seus próprios afazeres, o Reino permanece aberto para aqueles e aquelas que, comumente, são julgados como excluídos e indesejados: os marginalizados da sociedade e da religião que se fecha sobre si mesma com os seus cultos e trajes, marcados pelo paganismo do Império Romano, e não se abrem para os clamores dos que sofrem. Como já estava escrito num dos livros sapienciais do Primeiro Testamento: “Quem oprime o fraco, o pobre, ofende a Deus, mas quem se compadece do indigente e marginalizado, honra o Criador”. (Prov 14,31)
Deus está ao lado dos pobres e marginalizados, fazendo-se presente na vida deles. Esta sua relação de amorosidade com eles, se manifesta através da misericórdia, da compaixão, de seu amor incondicional, com a identificação de Jesus com os necessitados, cuidando deles com a promessa de ouvir o grito dos pobres quando ninguém mais o faz. Jesus olha e sente compaixão pelos marginalizados, empobrecidos que são oprimidos por sistemas econômicos, incentivando os seus seguidores e seguidoras a assumirem a defesa dessas pessoas: “Quando deres um banquete, convide os pobres, os aleijados, os mancos e os cegos. Feliz será você, porque estes não têm como retribuir. A sua recompensa virá na ressurreição dos justos”. (Lc 14,13-14) Que consigamos fazer acontecer a proposição do Papa Francisco: “Cada cristão e cada comunidade são chamados a ser instrumentos de Deus ao serviço da libertação e promoção dos pobres, para que possam integrar-se plenamente na sociedade”.


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