Quinta feira da Décima Segunda Semana do Tempo Comum. Quatro dias apenas nos separam do mês de julho, que vem logo à frente. O mês dos recessos e férias escolares. O mês da nossa temporada de praia, aqui pelas bandas do Araguaia. Enquanto as temperaturas lá fora despencam, nós aqui nos preparativos para esta temporada. Estamos atravessando o 177º dia do ano de outros 188 que teremos para cumprir esta jornada. Um dia muito triste para o cenário politico brasileiro. Seguimos repercutindo a decisão tomada pelos integrantes do Senado Federal Brasileiro. É que no dia de ontem (25), os representantes daquela, casa fizeram o favor de votar o projeto que aprova o aumento do número de deputados federais, de 513 para 531. Mais 18 sanguessugas para mamar nas tetas de nossos impostos. A estimativa é que vai aumentar os gastos da Câmara em R$ 150 milhões por ano.

O projeto de lei complementar foi aprovado com 41 votos favoráveis contra 33 contrários. Ainda tiveram a tremenda cara de pau de afirmar, no texto que cria estas novas vagas, que não aumentará as despesas totais da Câmara entre 2027 e 2030. Acredite quem quiser! Temos uma dos congressos mais caros do mundo. O Brasil possui o segundo Congresso Nacional mais caro do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos. Significa que cada um dos 513 deputados brasileiros e dos 81 senadores custa mais de US$ 7 milhões de dólares por ano – seis vezes mais que um parlamentar francês, por exemplo. Como “representantes” do povo, triste e vergonhoso saber que estes cidadãos brasileiros não estão nem ai para a realidade sofrida do brasileiro, preocupados apenas com seus interesses e de suas cifras bancárias.

Enquanto as guerras lá fora seguem com o genocídio criminoso das populações civis, gente inocente e indefesa, seguimos aqui dentro do país com as nossas contradições, de um lugar que tem tudo para ser um dos melhores lugares do mundo para alcançarmos o bem viver. Esta é a visão de muitas de nossas lideranças indígenas, na luta constante na defesa de seus territórios sagrados. Quem ainda defende os nossos biomas, são estes povos. Basta andar aqui pelo Mato Grosso para termos esta constatação a olhos nus. As áreas ainda preservadas são aquelas em que vivem os povos originários. Bem disse nossa grande liderança indígena Daniel Munduruku: “Os povos indígenas são a última reserva moral dentro desse sistema. Ao dominar a natureza, o homem ocidental pensa que pode chegar à felicidade. A natureza não é objeto para ser simplesmente explorado”.

Natureza como elemento essencial de nossa existência, seguimos também, refletindo sobre a palavra de Deus, que no dia de hoje de Mateus, com mais uma fala de Jesus, nos fazendo uma provocação: “Nem todo aquele que me diz: Senhor, Senhor, entrará no Reino dos Céus, mas o que põe em prática a vontade de meu Pai que está nos céus”. (Mt 7,21) Por em prática a vontade de Deus. Mas qual é mesmo a vontade de Deus? Eis o “X” da questão. Como saber que aquilo que fazemos no nosso cotidiano é a vontade de Deus para nós? Ou será que o que buscamos, são as nossas vontades próprias, colocando-as no colo de Deus como se fossem a sua vontade para nós?

Com o texto de Mateus hoje, estamos findando o “Sermão da Montanha”. Sermão da Montanha, também conhecido como “Sermão do Monte”, é o conjunto de ensinamentos principais que Jesus passou a seus discípulos. Foi assim chamado de Sermão da Montanha porque Jesus tinha o costume de ensinar no monte, onde havia mais espaço, mostrando assim os discípulos e nós como devemos viver. Neste sermão Jesus fez sete ensinamentos básicos assim distribuídos: as bem-aventuranças – quem é abençoado por Deus (Mt 5,1-12); a Lei de Deus e a atitude do cristão – O coração é tão importante quanto as ações (Mt 5,17-18); ajudar os pobres, oração e jejum – as boas ações devem ser feitas por amor a Deus e não para querer a admiração de outras pessoas (Mt 6,1); as preocupações da vida – preocupar mais com as coisas de Deus (Mt 6,19-21); julgar os outros – a hipocrisia mata (Mt 7,1-12); falsos profetas – saber identificar os falsos profetas (Mt 7,15-16); o melhor alicerce para a vida – quem segue os ensinamentos de Jesus permanecerá firme (Mt 7,21-29) Este último é o nosso texto de hoje.

Nem mesmo o ato de fé mais profundo nosso, que é o reconhecimento de Jesus como o Senhor, faz com que entremos no Reino de Deus (Reino dos Céus, no dizer de Mateus). Se o nosso ato de fé pela palavra não for acompanhado de ações concretas no dia a dia, se torna vazio e sem sentido. O Reino de Deus não está nas alturas, mas no meio de nós, na medida em que o abraçamos e o fazemos acontecer no aqui e agora de nossa história, com as ações que vamos desenvolvendo. Se assim não for, faremos como aquela pessoa que construiu a sua casa sobre a areia, alimentando uma fé de teoria vazia, sem passar pela experiência prática da fé. Como o texto de hoje conclui, devemos construir a nossa casa sobre a rocha inabalável da fé: “Caiu a chuva, vieram as enchentes, os ventos deram contra a casa, mas a casa não caiu, porque estava construída sobre a rocha”. (Mt 7,25) A fé não se resume a palavras vazias, que saem da nossa boca (cheia de boas intenções), mas das ações comandadas por um coração que abraçou as mesmas causas de Jesus, em favor dos desfavorecidos, pobres e marginalizados. Como costumava dizer nosso bispo Pedro: “Com os pobres em busca da Casa Grande”.