Fui mexer nos guardados
( afinal, todo mundo tem guardados,não é?),achei um”santinho”do óbito o da minha avó Maria!
Minha avó que poucas lembranças me deixou.
Tudo que sei dela me foi contado por minha mãe!
Na minha visão foi uma mulher forte, decidida: criou e educou 11filhos!
Três mulheres e oito homens…
Teve posses e,pobre ao final da vida ,peregrinou em casa de filhos.
No último ano de sua vida veio morar conosco.
Era 1954 .Eu tinha sete anos.
Dormíamos no mesmo quarto.
Ela ,pontualmente, todos os dias, 18 horas ,ouvia bênçãos no rádio com o terço em punho!
Silenciosa…
Eu olhava os lábios, sons imperceptíveis quase!
Um dia ela deu me um terço, que chamou rosário…
Ensinou me a rezar:
Credo,Pai nosso, Glória e aves Maria…
Muitas vezes fiquei ao lado dela.
Fingia que rezava.
Na verdade só queria estar ali…
Tudo era motivo para ela ir à missa.
Várias vezes na semana, não só aos domingos.
A missa era em latim.
(Herdei o Manual dela e o tenho até hoje!)
Aprendi o responsório da missa em latim, sem entender nada…
” et cum spirituo tuo ”
Não sabia o que era,mas sabia…papagaio…
Um dia me disse:
“Antoninho, arruma te vamos a igreja tomar cinzas…”
Opa! Deve ser gostoso!
Fomos, era quarta feira de cinzas…
Ao final da missa,fomos em fila:
O padre encheu minha cabeça de cinzas:
“Quia pulvis es et in pulverem reverteris”…
Não tome nada…só me encheu a cabeça de cinzas!
Quis limpar a avó não permitiu…
Voltamos pra casa.
Dei de cara com o Nori.
(Claro esperava o jantar)
” É bom essa cinza que você foi tomar?”
Quando contei o que era ficou impressionado:
“Você vai morrer? Deixa suas coisas pra mim!”
Eu queria matar o verme mas tinha vindo da missa,segundo a vó estava santificado!
Jantamos. Meu pai tomou um meio copo de vinho.
A avó recusou.
Disse que o dia era santo. Não se podia beber…
Lembrei da avó, do pai e do Nori…vou tomar uma taça de Júlia Florista, de Lisboa. Camila, barista, diz que vou gostar!
Boa e abençoada tarde/noite pra todos.
Que seja abençoada!
Fui mexer nos guardados


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