Ierárdi Neto e os Números do Tempo
Pedro Luiz Dias

Crônica
Chama-se Ierárdi Neto, com acento no “a”, como convém aos nomes que atravessam as gerações sem perder a marca da linhagem. É “das antigas”, como se diz nas boas prosas entre bancos de igreja e corredores de seminário. Daqueles que trazem no peito, não um brasão, mas uma lembrança: a de ter sido aluno dos Seminários Redentoristas, da época em que o sino chamava mais do que para a missa — chamava para a vida.
A vida leiga, é verdade, o levou por caminhos outros, mas sem jamais abandonar os ensinamentos afonsianos, que lhe afinaram o espírito e aguçaram a memória. Hoje, Ierárdi é um comunicador digital, desses que sabem manejar as redes como quem folheia um velho livro de crônicas. Tem alma de historiador – e dos implacáveis. Não tolera descuido com datas, nomes, versões. Para ele, memória é altar. E dados históricos, quase dogma.
Outro dia mesmo, estávamos à sombra de uma boa conversa – dessas que nascem de uma dúvida e crescem como árvore antiga. Falávamos da UNESER e do número de encontros que a entidade já realizou. A pauta, à primeira vista, parecia prosaica: em julho próximo, no secular e eterno Seminário Santo Afonso, em Aparecida, que número caberá à edição do encontro?
“Veja, Pedro Luiz”, dizia o Ierárdi com aquele olhar que atravessa décadas, “há colegas que dizem que esse será o 28º encontro, mas nos meus registros será o trigésimo. O XXX, com letras maiúsculas e em latim.”
E não falava da boca pra fora. Trazia consigo anotações e prints e memórias. Com a calma dos que sabem e a paciência dos que ensinam, ele argumentava: “Mesmo os encontros virtuais devem ser contados. Estavam ali pessoas, com o mesmo propósito, em nome da entidade, pela entidade. A comunhão não depende da sala, mas da presença.”
Silêncio. Um daqueles silêncios em que a gente não responde, apenas aceita. Porque ele tem razão. Se o espírito do encontro viveu nos olhos que se encontraram pelas telas, se as lembranças e os risos foram partilhados ainda que a distância, se houve oração e comunhão – então houve UNESER.
E foi nesse ponto da conversa que percebemos: Ierárdi Neto não está apenas a contar encontros. Está a contar vínculos. Está a manter viva a chama que tantos acenderam nas alamedas dos seminários. Está a lembrar que a história não se mede só em marcos, mas em presenças, mesmo as virtuais.
Por isso, que venha o XXX Encontro da UNESER.
Com letra romana, com memória viva, com direito a acento no “a”. Porque quem conta assim não está apenas fazendo história. Está honrando o tempo.
Um abraço fraterno do
Pedro Luiz.
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