POR PEDAGOGIA NO TRATO DA NATUREZA MORTA QUE NOS FALA DE AMOR E ATENÇÃO!
Sempre questionei o gênero artístico na arte da pintura que se denomina “natureza morta” e que representa objetos como frutas, flores cortadas, folhas secas na correnteza dos rios, vasos quebrados ou inteiros nas janelas, formigas mortas ou restos de comida deixados no chão. É arte versátil, imaginativa que, segundo minha perspectiva de admirador, tem vida, sim, fala do cotidiano de crianças e idosos, trazem saudades e poetizam com simplicidade a beleza e a amargura da vida presente em tudo que vivência em momentos alegres e tristes como lições e práticas inesquecíveis.
O que idosos me contam acerca das experiências da infância, quando os anos já abateram a vivacidade do corpo, ouvi com nitidez histórias e memórias redescobertas de longa data. Vejamos:
O VASO QUEBRADO: O vento como tempestade na alma abate o vaso de barro que se espatifa no chão duro “de cimento armado até os dentes”. Assim expressou uma idosa para contar-me a tragédia de sua separação do marido. Entendi que muito antes se sentia feliz com ele, florescendo sorrisos, mas também balançando nos momentos de chuva com vento, que despetalavam a sua afeição. Até que um dia a tempestade de uma traição perdurou, e ele a abandonou, expulsou de casa e colocou sua nova mulher no lugar tal como um objeto que se troca sem nenhuma sensibilidade. O contraste veio das reações dos dois filhos adultos que não abandonaram a mãe, admitindo que, mesmo no mundo machista, tiveram gratidão pelo amor materno que sentiam para sempre.
O AVIÃO NAS ÁGUAS DO RIO : 80 anos de vida, dos quais até os 15 anos morou na margem do Rio Amazonas. Desde pequeno, olhava o céu aguardando o avião da Panair trazer as correspondências para a sua cidade. Fitava o avião que fazia seu caminho no rastro do rio. Desde o sinal no horizonte que parecia um cisco preto a distância até o pássaro gigante de asas abertas com o seu corpo em forma de canoa pousando na água. Era um sonho ver o pássaro que não batia as asas ao se aproximar a certa distância da margem. Todo o embarque era feito de canoa. Foi numa dessas vezes que seu irmão pequeno queria ver bem de perto a chegada do pássaro de alumínio.
O irmãozinho aproximou-se, mas o banzeiro forte do hidroavião fez a canoa naufragar com ele para nunca mais ser encontrado. Ele me disse que viveu consolando seus pais até o fim da vida de cada um. Porém, na velhice, consolavam-se na fé de que encontrariam seu filho amado entre os anjos de Deus.
NAVIOS CARREGANDO CACAU, CASTANHA E BORACHA: Os navios cargueiros, quando estavam a uma certa distância, anunciavam com apitos codificados que estavam para aportar. Pois bem, os apitos atiçavam a garotada para correr ao cais. Entre esses garotos estava um menino, hoje idoso a me contar suas estrepulias e danações alegres. Dizia-me que ia nadando até a hélice do navio e de lá pulava n’água, tomavam banho quente nadando na vazão que o navio lançava das máquinas ao rio.
Passou dessas aventura para o momento que, de cócoras e com a calção molhado, ficava olhando o carregamento do navio. Havia alvarengas de ferro lotadas de castanhas e de cacau, produtos valiosos para exportação. Meu interlocutor, filho de velho coletador de castanha da “boca da cobra”, como dizia, contemplava extasiado aquele barulho das castanhas caindo no porão do navio, pois nesse tempo não havia contêineres. Como melodia triste escutava aquele som, porque seu pai, durante a coleta da castanha, ausentava-se de casa, deixando a mãe e os filhos para fazer farinha. Conta com tristeza que, certa vez, um navio aportou apenas porque um dos homens da tripulação havia morrido. O capitão não teve outra opção senão enterrar no cemitério da cidade aquele desconhecido e sem nome. Essa experiência foi tão traumática porque imaginava que os filhos do falecido jamais poderiam vê-lo, nem vivo e nem morto. Ele porém veria o seu pai no fim do “fábrico da castanha”.
Relatou-me essa história com lágrimas nos olhos porque imaginava-se poder morrer na solidão e longe da família, pois se encontrava numa ILPI, (Instituição de Longa Permanência Para Idosos). Para tanto, alimenta um sonho cidadão, que expresso nestes termos: QUE NENHHUM IDOSO MORRA SOZINHO!.
Assim sendo, convido meus amigos leitores a visitar as casas que abrigam idosos e idosas por não terem condições humanas e materiais de permanecer na família ou porque se tornaram um peso para os filhos que os abandonaram como mortos, embora vivos a pedir presença.
POR UM MUNDO DIFERENTE E JAMAIS INDIFERENTE PARA COM A VELHICE, POIS NÃO SÃO NATUREZA MORTA, E SIM UMA HUMANIDADE QUE PEDE CARINHO, ANTES DE MORRER!
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