Quarta feira da Vigésima Segunda Semana do Tempo Comum. Nesta data, a liturgia celebra a Memória de São Gregório Magno, papa e doutor da Igreja. Nasceu em Roma, no ano 540. Formou-se em Direito e iniciou uma carreira na política, chegando a ser eleito, inclusive, prefeito de Roma. Alguns anos depois ingressou na vida religiosa monástica na Ordem de São Bento (OSB). Costumava dizer aos seus com entusiasmo: “O caminho é estreito e difícil para aquele que caminha por ele triste e com pena de si; porém é largo e fácil para aquele que caminha com amor”.
Como quis ser um dos primeiros a serem atendidos, rezei nesta manhã, ainda bem cedo, no consultório do meu cardiologista. Felizmente, os exames e consultas estão findando de forma satisfatória. Assim sendo, já estou me preparando para pôr o pé na estrada, de volta para casa, uma vez que a Primeira Romaria das Águas e do Cerrado, vem chegando, e eu preciso estar em São Félix do Araguaia, para este grande evento da nossa Igreja, que acontecerá nos dias 6 e 7 de setembro. O túmulo do pastor e profeta do Araguaia, acolhendo os romeiros, fazendo renascer a esperança em seus corações com o seu legado. Não poderíamos escolher lugar melhor para os primeiros passos desta romaria.
Pedro, sempre Pedro, como nossa inspiração maior, no seguimento de Jesus de Nazaré, como testemunhas fiéis do Ressuscitado. Seu legado nos fortalece na caminhada, nos fazendo acreditar que a luta é maior e requer a participação de todos, na construção do Reino, que se faz aqui e agora. Eu acredito que, lá de cima, ele está a repetir, as palavras que gostava de nos dizer: “fé, esperança, teimosia e resistência, na procura do Reino”.
Pedro, não o nosso, é também lembrado pela liturgia no dia de hoje. Jesus, cura a sogra de seu discípulo Pedro. Episódio este que aparece nos três Evangelhos Sinóticos de Mateus, Marcos e Lucas, cuja mãe da esposa de Pedro estava padecendo de uma febre muita. Se para nós, a febre é sinal/sintoma da manifestação de algo que no nosso organismo não vai bem, naquele tempo, era sinal de outras expressões. A febre era sinal de maldição, manipulada pela concepção religiosa.
Na cultura judaica do tempo de Jesus, a febre alta podia ser interpretada como uma doença relacionada a uma forma de possessão demoníaca. Muitas pessoas passavam por experiências assim. Para aquela cultura, o demônio era visto como um ser que “queimava” e podia matar. A doença, de maneira geral, quase sempre era vista como punição de Deus, como está descrito num dos livros do Pentateuco: “Se não me escutardes e não puserdes em prática todos estes mandamentos, se desprezardes as minhas leis (…) porei sobre vós o terror, a tísica e a febre…” (Lv, 26,16).
A cura de Jesus é um ato de libertação, não somente da doença em si, mas da maldição, imposta às pessoas doentes. Todavia, o que mais chama a nossa atenção, é o ato imediatamente após, assumido por aquela mulher forte: “Jesus ameaçou a febre, e a febre a deixou. Imediatamente, ela se levantou e começou a servi-los”. (Lc 4, 39). Assim como hoje, lá também as mulheres se ocupavam com a tripla jornada exaustiva: cuidar da casa, da família e do trabalho fora de casa. Era assim e é assim nos dias de hoje, tanto que eu costumo dizer: se as mulheres não ganharem o Reino de Deus, ninguém mais chegará lá. No tempo de Jesus, embora diante de uma cultura fortemente influenciada pelo patriarcalismo, em que as mulheres não gozavam de nenhum prestígio, Jesus pensa e age diferente. Tanto que fez questão de contar com algumas mulheres em seu grupo, dando a elas o protagonismo das ações.
O texto de Lucas hoje nos ajuda a entender que a Boa Notícia do Reino é o amor incondicional e gratuito de Deus, que provoca a transformação radical das estruturas que escravizam as pessoas, inclusive em forma de doencas. Para anunciar a Boa Nova do Reino, Jesus vai ao encontro daqueles que ainda não a conhecem, os pobres e marginalizados. Ao libertar aquela mulher do demônio dos religiosos, as pessoas podem levantar-se e porem-se a serviço. Os demônios reconhecem quem é Jesus, porque sentem que a palavra e ação dele ameaçam o domínio que eles têm sobre as pessoas. Como bem dizia o saudoso Papa Francisco, “não se dialoga com o demônio”, mas faz transparecer a força do amor misericordioso de Deus, que é superior a tudo.
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