Terça feira da Décima Oitava Semana do Tempo Comum. A Igreja hoje celebra a Memória do Presbítero São Domingos de Gusmão (1170-1221). Fundador da Ordem dos Pregadores, cujos membros são mais conhecidos como Frades Dominicanos. Domingos nasceu na Espanha. Filho de família nobre, rica, dedicou-se aos estudos se tornando uma pessoa muito culta. Marcou e influenciou profundamente o pensamento da Europa durante a Idade Média (séculos V e XV). Foi canonizado pelo Papa Gregório IX, em 1224, que lhe dedicava especial estima e amizade. São Domingos tinha o firme propósito de “falar somente com Deus ou sobre Deus”.

8 de agosto. Numa dada como esta, recebemos a triste notícia da páscoa de nosso profeta do Araguaia. Três anos já se passaram. Apesar de sabermos que este dia iria acontecer, estávamos sempre adiando para mais distante a sua consumação, pois não queríamos perder aquele que nos ensinou, motivou a caminhar por estas terras, procurando sermos fieis à proposta de Jesus de Nazaré. Nasceu na Espanha no ano de 1928, mas naturalizou-se brasileiro, chegando por estas terras no ano de 1968, ano em que havia sido implantado pelos militares aqui no Brasil, o terrível Ato Institucional Número 5 (AI-5), e como Missionário Claretiano, enfrentou as agruras e os desafios da exclusão, da miséria e da fome em terras mato-grossenses do “Vale dos Excluídos”.

Tomei contato com Pedro, através de seus escritos, seus poemas, quando iniciei o Curso de Teologia no Instituto Teológico São Paulo (ITESP), no ano de 1985, em São Paulo. Lembro-me que, num dado dia, Pedro estava programado para dar uma palestra em São Paulo e, todos nós estudantes do curso de teologia, boicotamos as aulas que teríamos naquele dia e fomos ver Pedro falar. Ali conheci aquele homem franzino, mas de voz forte e incisiva. Paixão à primeira vista por aquele jeito simples bispo de ser. Mal sabia eu que, ao final do meu terceiro ano de sacerdócio, estaria aportando no mês de janeiro de 1992, na Prelazia de São Félix do Araguaia, para trabalhar com aquele que era um dos nossos maiores ícones da caminhada de Igreja.

Ao dar entrada em sua humilde casa, vi que eu não estava em qualquer lugar, mas na casa mais aconchegante e acolhedora daquela região. Quem chegava, era acolhido de forma amorosa, com todas as portas e janelas escancaradas. Senti uma energia tão grande ao estar ali, que fui acometido por um misto de choro e sorriso, tal era a minha alegria de estar pisando o mesmo chão daquele bispo, que não gostava de ser chamado de “Dom”. Depois de um abraço caloroso, um e aperto enérgico de mão, fui sendo apresentado a toda àquela gente que ali estava, iniciando assim uma nova etapa sem volta em minha vida.

Aos desanimados e abatidos na luta, Pedro costumava repetir: “Não podemos nos esconder, devemos dar uma contribuição de paz e esperança; uma esperança contra toda esperança”. Foi com estas palavras que se encarregou de dar-me um “kit missão”, que eu só fui compreender a sua razão, quando estava peregrinando pelo sertão afora: uma bicicleta, uma rede e uma lanterna de três elementos, como era chamada aquela ferramenta por aqui a época. E ainda me deu um sábio conselho: “não se esqueça das cordas, pois uma rede sem cordas pode não valer de nada”. Ali me tornei um “prelazia” para o resto da vida, abandonando por completo a vida urbana, sem medo de ser feliz.

Pedro vive em todos aqueles e aquelas que o conheceram de perto. Um homem a frente de seu tempo. Nele a profecia se fazia em forma de versos e no seu jeito simples de sua espiritualidade de seguidor fiel do Mestre Galileu. “Eu sou a minha espiritualidade”, dizia ele. Enfrentou a morte e as tempestades do mar revolto, com a confiança de quem acredita no Deus de Jesus de Nazaré. Confiança que faltou ao outro Pedro, como nos relata Mateus no seu evangelho que meditamos no dia de hoje: “Senhor, se és tu, manda-me ir ao teu encontro, caminhando sobre a água”. (Mt 14,28)

Pedro, como sempre, é o protótipo de todos nós e da comunidade que, nas nossas dificuldades, nas nossas crises, duvidamos da presença de Jesus no meio de nós. Como Pedro, estamos sempre exigindo de Deus um sinal. E mesmo vendo estes sinais acontecendo na história, continuamos tímidos e com medo dos conflitos, paralisando assim a nossa fé e as nossas ações. O texto de hoje nos faz entender que precisamos crescer na fé e não temer os passos dados dentro das aguas agitadas do mundo. A frase dita por Jesus a Pedro não se trata de uma mera retórica: “Coragem! Sou eu. Não tenhais medo!” (Mt 14,27) Como o nosso Pedro sempre nos dizia na nossa caminhada por aqui: “O contrário da fé, não é a dúvida; o contrário da fé é o medo”. Que não tenhamos medo de sermos fieis junto à “Testemunha Fiel”.