Sábado da Décima Segunda Semana do Tempo Comum. Julho chegou, dando início ao segundo semestre do ano. O mês de julho, a Igreja Católica, dedica à devoção ao Sangue de Jesus, derramado para o perdão dos nossos pecados. Foi o próprio João Batista, que celebramos no dia 24 passado, quem apresentou Jesus afirmando: “Eis o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (Jo 1,29). Sem o Sangue do Cordeiro não há salvação. Sem a cruz do Calvário de Jesus, não há possibilidade de convivência com o Ressuscitado. Assim, não há cristianismo sem cruz, como alguns querem vivê-lo nos dias de hoje. A cruz está no itinerário do cristão, assim como esteve no de Jesus de Nazaré. Deus o desceu da cruz para dar-lhe a vida plena. A Ele e a nós. A morte foi vencida pela vida, como Deus assim o quis.

Descer os crucificados da cruz é a missão de todo aquele e aquela que querem fazer parte do discipulado de Jesus. Descer da cruz os pobres é a Cristologia da libertação que orienta os passos do seguidor de Jesus. Assim como Deus desceu da cruz o seu Filho amado, também nós devemos descer da cruz os nossos irmãos e irmãs que seguem, ainda hoje, sendo crucificados pelas estruturas do poder politico, econômico e também religioso. A cruz é o ponto de chegada e também de partida para a compreensão da trajetória histórica de Jesus, da revelação do mistério de Deus como um Deus crucificado e do “povo crucificado” como corpo de Cristo crucificado na história. Sem a cruz de Jesus não há cristianismo. Somos introduzidos neste mistério de forma “mistagônica”, ou seja, conduz-nos para dentro do mistério, do plano salvífico de Deus de salvar o mundo em Cristo, conforme São Paulo nos diz em uma de suas cartas (Ef 1,3-13).

Jesus que se compromete com os crucificados da Palestina de seu tempo, como o vemos no Evangelho de Mateus, escolhido para este sábado. Ele está em Cafarnaum, conhecida como a Cidade de Jesus. Foi nesta cidade que Ele escolheu para morar, depois de deixar Nazaré. Ela que está localizada ao norte de Israel, na região conhecida como mar da Galileia, próxima de Betsaida e Corozaim. Fica a 185 km de Jerusalém e a 50 km de Nazaré e a 16 km de Tiberíades. Foi ali que Jesus realizou vários de seus sinais (milagres), que o evangelista Mateus nos apresenta alguns deles no dia de hoje. Jesus preocupado com a realidade de sofrimento dos empobrecidos, cujo evangelista faz referência ao profeta Isaías: “Eram as nossas doenças que ele carregava, eram as nossas dores que ele levava em suas costas. E nós achávamos que ele era um homem castigado, um homem ferido por Deus e humilhado”. (Is 53,4)

Segundo os estudiosos, Mateus, ao escrever o seu evangelho, inspirou-se no Evangelho de Marcos, e também numa determinada fonte Q, que é um texto dos ditos de Jesus, admitido como uma das fontes escritas que foram usadas como referência pelos escritores dos evangelhos de Mateus e Lucas. Esta fonte Q é, supostamente, o material que é baseado na tradição oral do cristianismo primitivo, e conteria os ensinamentos de Jesus. O título do evangelho “Q” vem de uma palavra de origem alemã “quelle”, que significa “fonte”. Assim, toda a ideia de um suposto evangelho Q é baseada no conceito de que os Evangelhos Sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas) são tão semelhantes que os autores devem ter copiado uns dos outros e/ou desta fonte Q.

Estando no meio dos pobres, Jesus realiza dois de seus sinais (milagres): a cura do empregado de um oficial romano (centurião) e a cura da sogra de Pedro. Porém a mais emblemática destas curas é a primeira, quando Jesus fica impressionado com a fé de um pagão que diz uma frase que repetimos até hoje em nossas celebrações eucarísticas: “Senhor, eu não sou digno de que entres em minha casa. Dize uma só palavra e o meu empregado ficará curado”. (Mt 8,8) A fé de um pagão que acredita na palavra de Jesus, sem a necessidade de ter a sua presença física para que o sinal aconteça, mesmo que distante. Ao atender o desejo daquele homem pagão, Jesus mostra que as fronteiras do Reino vão muito além do mundo estreito da pertença a uma origem privilegiada: “nunca encontrei em Israel alguém que tivesse tanta fé”. (Mt 8,10)

Entre o amor e a dignidade. O fato de não ser digno é superado pela força do amor que se abre para acolher o outro, sem se importar com o seu jeito próprio de conceber a sua fé. A dignidade se faz com amor. O gesto de humildade de quem não se acha digno é agraciado pela amorosidade do Filho que veio ser presença viva do Pai em nossas vidas. A fronteira agora é a fé na palavra libertadora de Jesus. Mesmo pertencendo ao grupo dos que se consideram salvos, se não houver essa fé, também não haverá possibilidade de entrar no Reino de Deus. Ainda bem que Jesus nos disse que: “o Reino de Deus está no meio de vocês.” (Lc 17,21) Que tenhamos a mesma fé daquele oficial romano que somente acreditou e tudo se fez conforme a vontade de Deus.