Sexta feira da 26ª Semana do Tempo Comum. O mês missionário para a comunidade católica vai, aos poucos, nos adequando na caminhada de fé. Como o mês de Outubro é o mês das missões, para este ano a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) nos propõe como tema: “Missionários da esperança entre os povos”, escolhido pelo Papa Francisco em sintonia com o Jubileu da Esperança, e o lema “A esperança não decepciona” (Rm 5,5). Esta temática escolhida tem como objetivo, fortalecer os laços de solidariedade e promover a animação missionária. Um convite feito a todos nós para sermos os portadores da esperança que vem de Jesus de Nazaré, em meio às realidades conflitivas do mundo. Essa esperança deve ser vivida em meio a uma luta perseverante, ancorada na certeza, garantida pelo Espírito Santo que nos foi dado.

Sextou em clima de martírio para os caminhantes na esperança da fé. É que no dia de hoje, a liturgia nos propõe celebrar a Memória dos Santos André de Soveral e Ambrósio Francisco Ferro, presbíteros; Mateus Moreira e companheiros. É por este motivo que a Cor Litúrgica é vermelha. Não nos esqueçamos de que a História da Igreja, desde seus primórdios, foi marcada pelo martírio. Pessoas, por causa da sua fé, deram suas vidas, derramaram o seu sangue pelo Reino. Vidas pela vida! Vidas pelo Reino! Como afirmou um dos primeiros escritores do cristianismo Tertuliano (160 d.C.-240 d.C), esse derramamento de sangue se tornou um “sangue dos mártires é a semente dos novos cristãos”. É o testemunho dos mártires inspirando outras pessoas, fortalecendo a comunidade cristã, contribuindo assim para a continuidade na caminhada.

“A tua palavra é lâmpada que ilumina os meus passos e luz que clareia o meu caminho”. (Sl 119,105) Com estas palavras do salmista, iniciei o meu dia na companhia de Pedro. Quis estar com ele, em forma orante, não apenas por causa do mês missionário que estamos atravessando, mas principalmente por causa dos Mártires da Caminhada, que hoje estamos celebrando sua Memória. Pedro tinha como referência e inspiração para a sua caminhada de fé, a história de vida daqueles que derramaram o seu sangue, como testemunhas fieis do Ressuscitado. Não conseguiram mata-lo, apesar das várias tentativas. Mas ele tinha a convicção da sua vida doada pelo Reino e se o matassem, “morreria de pé, como as árvores”. Foi assim que ele expressou em um de seus poemas. O salmista nos ajuda a entender que a Palavra é a revelação de Deus, que nos leva a descobrir o sentido da vida e a discernir o nosso caminho na história, em meio às diversas situações, afinal esta “Palavra se fez homem e habitou entre nós” (Jo 1,14).

O Evangelho de Lucas de hoje, nos coloca diante da situação de Jesus concluindo a sua mensagem de envio dos setenta e dois discípulos/apóstolos. Estes, dando os primeiros passos de sua missão, sentem na pele a rejeição da proposta do Reino. O texto lucano cita nominalmente duas cidades: Corazim e Betsaida. São cidades antigas da Galileia, mencionadas em Mateus 11,20-24 e Lucas 10,13-15), onde Jesus realizou muitos milagres, mas que não se converteram e nem se arrependeram de seus pecados. Por este motivo, Jesus amaldiçoou ambas as cidades, predizendo que elas sofreriam um julgamento mais severo no futuro do que as cidades de Tiro e Sidom, que já eram consideradas cidades pagãs. Os seguidores de Jesus precisam entender que a proposta do Evangelho ultrapasse as fronteiras da Galileia, chegando até os gentios, enquanto as cidades que, por primeiras, ouviram a sua pregação permaneçam fechadas num judaísmo anticristão.

“Quem vos escuta, a mim escuta; e quem vos rejeita, a mim despreza; mas quem me rejeita, rejeita aquele que me enviou”. (Lc 10,16) A proposta de Jesus ultrapassa as fronteiras do legalismo religioso. Ultrapassa, inclusive, as paredes dos templos, que se fecham sobre si mesmos. Jesus organiza os seus discípulos para anunciarem a Boa Notícia no caminho e começarem a realizar os atos que concretizam a construção do Reino de Deus na história humana. E aqueles que não quiserem aderir a esta Boa Notícia, ficarão de fora desta nova história. A cultura e a tradição são realidades muito fortes em nossas vidas. Muitas vezes nos apegamos a elas, pensando que assim fazendo, estaremos aderindo a proposta de Jesus, sendo seguidores seus. Não é a tradição e a prática devocional que nos aproxima de Jesus, mas a fidelidade e o testemunho de suas ações no meio de nós, sendo continuadores desta mesma missão.

Corazin, Betsaida e Cafarnaum são exemplos da auto-suficiência e orgulho que não reconhecem a presença do Reino nas ações realizadas por Jesus. Por isso serão julgadas com mais severidade do que as cidades pagãs de Tiro, Sidônia e Gomorra, consideradas símbolos da perdição. A cada dia que passa Jesus continua desafiando a nossa confiança humana. Em Jesus, Deus quis se revelar plenamente sendo Deus conosco em nossa realidade humana. Todavia, Deus não quer se impor para as pessoas. Ele espera de cada um de nós um ato de fé, uma escolha livre e incondicional pelo seu Amor e pelo seu Reino, acontecendo aqui e agora. Os que rejeitam a proposta de Jesus são aqueles mesmos que preferem continuar a realidade de desigualdade, como os maiores construtores desta sociedade que não está a serviço da vida dos pequenos, pobres e marginalizados.