22º Domingo do Tempo Comum. Como neste ano temos o quinto domingo no mês de agosto, o calendário litúrgico reserva este dia para celebrar a vocação do catequista na Igreja Católica. É um dia para homenagear e valorizar o trabalho mais das mulheres, já que elas, em maior número, se dedicam a anunciar o Evangelho e a formar novos cristãos para a comunidade, através da catequese. Um trabalho sumamente importante, embora pouco reconhecido dentro de uma proposta de Igreja mais clerical. Ainda bem que o Simpósio Internacional sobre Catequese de 2017, fez uma escrita bastante lúcida acerca da vocação dos/as catequistas: “Ser catequista é uma vocação de serviço na Igreja; que se recebeu como um dom do Senhor que, por sua vez, será transmitido aos demais”. O que seria da nossa Igreja sem a participação das mulheres e, sobretudo das mulheres catequistas?
Um domingo em que dedico ao meu ato de rabiscador, chacoalhando dentro do ônibus que nos levará à cidade de Goiânia, depois, é claro, de vencer os pouco mais de 1.100 km que separam São Félix da capital dos goianos. Não sou escritor, mas neste domingo, não podia deixar de registrar a partida de um deles do meio de nós: Luís Fernando Veríssimo (1936-2025). O escritor gaúcho morreu aos 88 anos, na madrugada deste sábado (30), onde nascera, em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Ele estava internado na UTI do Hospital Moinhos de Vento desde o dia 11 de agosto. A causa da morte foi complicações decorrentes de uma pneumonia. Veríssimo, cujo pai era também escritor (Érico Veríssimo), conquistou o Brasil com seus livros e crônicas. A minha porta de entrada para a sua arte de escrever, foi a leitura que fiz de “O Analista de Bagé”, cuja primeira publicação aconteceu em 1981. Quem não leu precisa ler! Esta sua frase sempre me provoca: “Quando a gente acha que tem todas as respostas, vem a vida e muda todas as perguntas”.
Referindo-nos ao sábado, no dia de hoje, somos desafiados a refletirmos com o texto de Lucas que a liturgia nos propõe para este domingo, cujo inicio diz que Jesus esta num dia de sábado, na casa de um fariseu, convidado que fora para sentar-se a mesa com este. Aliás, Lucas é o único dos evangelistas que mostra os fariseus tão próximos de Jesus que até o convidam para casa e se sentam com Ele à mesa. Os demais evangelistas relatam as contendas entre estes e Jesus, quase sempre sendo criticados duramente pelo Mestre galileu, por causa da intransigência e hipocrisia destes “serviçais da Lei”. Apesar das divergências existentes entre eles, Jesus não deixa de chamar a atenção daquelas lideranças religiosas, de forma contundente.
Num dia de sábado, Jesus é convidado para um “banquete”, na casa de um importante fariseu anônimo, ocasião em que, para o povo semita, era considerado um momento de encontro fraterno, onde aqueles que estavam à volta da mesa partilhavam o mesmo alimento, estabelecendo laços de comunhão, proximidade, familiaridade, em forma de irmandade. Certamente, naquele momento especial, relembravam os textos lidos e refletidos durante o cerimonial celebrativo na sinagoga. Lembrando que era no Shabat (o Sábado judaico), que os judeus reúnem-se na sinagoga para os serviços religiosos, que incluem a leitura da Torá e dos profetas, além de servir como um dia de descanso, oração, estudo da Torá e convívio social com a família e comunidade. É ali naquele momento que Jesus aproveita para falar sobre o Reino de Deus, manifestado pela presença divina sobre a humanidade, tornando-se o conceito central na pregação de Jesus. Deus que se faz um conosco!
Mesmo sendo um momento sagrado para os fariseus, eles se comportam de forma completamente oposta a proposta de Jesus, quando fala do Reino de Deus. E, neste sentido, Jesus critica o conceito de honra deles baseado no orgulho e ambição, na busca pelos melhores lugares de destaque, honra e prestígio, gerando aparências de justiça, mas escondendo todos os contrastes sociais presentes naquela sociedade de sua época. Contrapondo a isto, Jesus vai lhes dizer que a honra da pessoa depende de Deus, o único que conhece a situação real e global da pessoa humana; essa honra supera a crença de que a pessoa pode adquirir pelos seus próprios méritos e não como dom gratuito de Deus. Diferente da postura dos fariseus, Jesus mostra que o verdadeiro amor não acontece em forma de comércio, mas serviço gratuito, pois o pobre não pode pagar e o inimigo não pode merecer. Só Deus pode retribuir ao amor gratuito.
“Busquem, pois, em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas serão acrescentadas a vocês” (Mt 6,33).Numa sociedade que classifica as pessoas pelos seus merecimentos, quase sempre advindos pela classe social, cujo poder aquisitivo a denomina como merecedora das dádivas do Criador, vemos que a proposta do Reino de Deus anunciado por Jesus vem na ordem inversa desta logica meritocrática. Os primeiros a serem chamados para fazer parte do banquete do Reino, são os pobres, os doentes, os excluídos e marginalizados, as mulheres, os estrangeiros, os pagãos. É exatamente esta gente marginalizada pelos fariseus de ontem e de hoje, classificados por estes como “pecadores”, que sentarão à mesa do banquete da vida, que é o Reino de Deus. Não é o lugar que ocupamos que é o mais importante, mas o nosso olhar para aqueles que estão numa situação de melhor cuidado. “Quando deres uma festa, convida os pobres, os aleijados, os coxos, os cegos. Então tu serás feliz! Porque eles não te podem retribuir. Tu receberás a recompensa na ressurreição dos justos”. (Lc 14,13-14)
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