Quarta feira da Décima Quarta Semana do Tempo Comum. Neste 190º dia do ano de nosso calendário gregoriano, a Igreja celebra a Memória de Santa Paulina. Amabile Lúcia Visitaine (1865-1942) Apesar de ser considera a primeira “santa brasileira”, ela nasceu mesmo foi em Vigolo Vattaro, Itália. Veio para o Brasil em setembro de 1875, com apenas 10 anos de idade. Em 12 de julho de 1890, fundou a Congregação das Irmãzinhas da Imaculada Conceição, dedicando-se ao cuidado de órfãos e idosos, especialmente filhos dos negros escravizados. Foi beatificada em 1991 e canonizada em 2002, pelo Papa João Paulo II. É celebrada na data de hoje em função de sua morte, ocorrida neste dia, na Casa-geral de sua congregação, em São Paulo. Ela é a intercessora para doentes com câncer. Costumava dizer às pessoas com quem convivia: “Sede bem humildes, é Nosso Senhor quem faz tudo, nós somos seus simples instrumentos.”

O Senhor é tudo em nossas vidas! Foi assim com os seus discípulos, e é assim conosco, enviando-nos em missão para anunciar a Boa Nova do Reino. É desta forma que somos chamados e desafiados a entender a proposta de Jesus feita aos seus discípulos, que o texto do Evangelho de Mateus nos oportuniza refletir nesta quarta feira. Jesus que escolheu nominalmente e chamou os seus discípulos, ensinando e os preparando para a missão que teriam que desempenhar a partir daquele momento: “chamou os doze discípulos e deu-lhes poder para expulsarem os espíritos maus e para curarem todo tipo de doença e enfermidade”. (Mt 10,1) Ou seja, eles recebem o mesmo poder de Jesus: “desalienar” as pessoas (expulsar demônios) e libertá-las de todos os males (curar as doenças). No âmbito filosófico e sociológico, “desalienar” está relacionado à libertação do indivíduo de relações sociais opressoras e à recuperação da sua autonomia e consciência crítica. Agora apóstolos, eles são desafiados a formar o núcleo da nova comunidade, chamada a continuar a palavra e ação de Jesus.

A missão incumbida aos doze é primeiramente a de reunir o povo para seguir a Jesus, o pastor das ovelhas perdidas da casa de Israel. Esta missão se realiza mediante o anúncio do Reino e pela ação que concretiza os sinais da presença do Reino: “Em vosso caminho, anunciai, o Reino dos Céus está próximo”. (Mt 10,7) Uma missão que se realiza na historia concreta da luta do povo mais sofrido e abandonado. E esta missão precisa ser desenvolvida em clima de gratuidade, pobreza e confiança, comunicando o bem fundamental da paz, isto é, da plena realização de todas as dimensões da vida humana. Os discípulos, agora apóstolos enviados são os portadores da libertação; rejeitá-los é rejeitar a salvação e atrair sobre si o julgamento.

Como podemos observar a missão dos apóstolos se dá na gratuidade de quem se entrega pelas causas do Reino, e se realiza no contexto concreto da historia dos pobres e marginalizados. Jesus não envia os seus discípulos para construírem templos, mas para serem templos vivos da palavra de Deus, levando a libertação aos que precisam ser libertados. Jesus não os envia para ensinar doutrinas religiosas devocionais, como aquelas defendidas pelas autoridades religiosas do Templo de Jerusalém, mas para que eles mesmos fossem a presença viva do Filho de Deus que “veio para que todos tenham vida e vida plenamente!” (Jo 10,10) Jesus, os ensina que, o único meio de libertar-se dos opressores ou de uma instituição opressora é comprometer-se com o Filho de Deus, pois Ele é a única alternativa viável para a libertação. Sim, porque Jesus é o modelo de pastor que não busca seus próprios interesses; ao contrário, Ele dá a sua própria vida a todos aqueles e aquelas que aceitam sua proposta.

A ação de Jesus é sinal de libertação. Esta afirmação me faz recordar da minha ordenação diaconal, presidida por Dom Claudio Hummes (1988), bispo de Santo André a época, quando ao final dela, ele me chamou do lado e me disse esta frase que nunca me esqueci: “Chico o caminho pra libertação é a libertação do caminho”. A libertação trazida por Jesus, anunciada e levada adiante pelos apóstolos, tem o compromisso com a vida humana, que se faz na construção do Reino de Deus na história dos pequenos. Assim, o objetivo primeiro dos apóstolos é fazer com que o Reino aconteça como libertação de todas as formas de opressão. Em Jesus, nos apóstolos enviados por Ele, e em cada um de nós, Deus está presente na história da humanidade.

Nossa missão no seguimento de Jesus é muito concreta e objetiva: fazer o Reino acontecer aqui e agora na história. Nosso bispo Pedro, numa de suas canções, bastante conhecida de todos, dizia numa de suas estrofes: “Queremos terra na terra, Já temos terra nos céus”. Desta forma, pelo batismo, recebemos a missão de sermos também enviados como apóstolos e apóstolas de Jesus, para fazer o Reino acontecer, superando todas as injustiças, opressões e desigualdades, para construirmos uma terra de irmãos, onde todos e todas tenham os mesmos direitos de viver com dignidade de filhos e filhas de Deus. Os destinatários primordiais desta missão são os descartados de nossa sociedade: “Ide, antes, às ovelhas perdidas da casa de Israel! (Mt 10,6) Aqui entra a “Opção Preferencial pelos Pobres”, que não se trata de “comunismo” (para alguns), mas sim sermos fieis ao Evangelho. O compromisso da Igreja é com os mais necessitados, buscando justiça social e libertação. Essa opção, defendida pela Teologia da Libertação, não é apenas uma ação assistencial caritativa, mas um chamado à transformação da sociedade, denunciando as causas da pobreza e promovendo a dignidade humana.