Quinta feira da Décima Semana do Tempo Comum. Apesar de usarmos a nomenclatura “comum”, não significa que este tempo é de menos importância, na nossa caminhada de fé. Pelo contrário, no período litúrgico Comum, celebramos semanalmente a Páscoa de Jesus. Durante este período litúrgico é este mistério pascal que vamos aprofundando, através das leituras propostas pelo Lecionário Litúrgico. Este ciclo anual é composto de trinta e três ou trinta e quatro semanas, nas quais comemoramos o próprio mistério pascal de Jesus, em sua plenitude maior, principalmente aos domingos. Observa-se que durante este Tempo Comum, a Igreja usa a cor verde, para significar a simplicidade, a fidelidade e perseverança do cotidiano, alimentando a esperança, de caminharmos com o Mestre Jesus de Nazaré.
Quinta feira, véspera de nosso primeiro festejo junino: Santo Antônio. Uma quinta feira em que os casais celebram o Dia dos Namorados. Por falar em namorados, a Lua não poderia estar em dia melhor. Ontem ela estava soberba, banhando de luz todas as aguas do Araguaia. Segundo os mais entendidos no assunto, tratava-se da Lua de Morango, sendo observada em várias partes do mundo. No dia de ontem, ela atingiu 100% de iluminação, precisamente às 3h45 (horário de Brasília) desta quarta-feira, 11 de junho de 2025. Os mais encantados como eu, fui testemunhar de perto esta dádiva de Deus, às margens do Araguaia, deixando florescer em mim, o espirito de nosso fotógrafo maior, Sebastião Salgado que, certamente, segue lá de cima fazendo os seus registros pontuais. Pena que grande parte das pessoas, não se deixa sensibilizar por estes momentos de plena manifestação de Deus, em forma de Teofania.
Bem fez nosso bispo Pedro, que quis ser sepultado à beira do Araguaia, no cemitério do Povo Iny (Karajá), à sombra de um imenso pé de Pequi, entre um peão e uma prostituta. Primeiro que ele sabia que aqueles ali ao lado, nos precederão no Reino dos Céus (Mt, 21,31); segundo que, estando ali, poderia contemplar na eternidade as belezas e formosuras do Araguaia. Foi com este espirito que fui nesta manhã, beber de sua espiritualidade revolucionária libertadora, buscando ser fiel às causas da vida, na perspectiva do Reino. Em pouco tempo, já não era mais o brilho da lua, uma vez que o senhor Sol veio aos poucos dissipando a penumbra do amanhecer. Voltei para casa ainda repensando a simplicidade de vida de Pedro, como está descrito ali no seu epitáfio: “Para descansar eu quero só esta cruz de pau com chuva e sol estes sete palmos e a Ressurreição”.
Aproximadamente, uns sete séculos antes de Jesus, o profeta Isaías nos dizia que a segurança é fruto da paz e “a paz é fruto da justiça”, (Is 32,17) Neste texto pós-exílio, o profeta já via sinais de que aquele povo ali devia alimentar em si, e na luta do dia a dia, uma nova esperança do mundo novo onde reine a justiça e o direito, gerando paz e prosperidade para todos. É nesta perspectiva que a liturgia desta quinta feira nos oportuniza refletir com o texto extraído do Evangelho de Mateus. Assim, podemos perceber que há uma interligação entre a proposta de Deus no Antigo Testamento, alinhada a chegada do Messias, vindo cumprir a promessa feita pelo Deus de Abraão, Isaac e Jacó. A Antiga Aliança se corporificando na pessoa do Verbo encarnado: Jesus de Nazaré.
Segundo o evangelista Mateus, Jesus é o Messias que realiza todas as promessas feitas no Antigo Testamento. Essa realização ultrapassa as expectativas puramente terrenas e materiais dos contemporâneos de Jesus, que esperavam apenas um rei nacionalista para libertá-los da cruel dominação romana na Judeia, iniciada em 63 a.C., quando Pompeu invadiu Jerusalém e se intensificará durante o período neotestamentário. Frustrados em suas expectativas, eles o rejeitam e o entregam à morte. Por isso, a comunidade reunida em torno de Jesus torna-se agora a portadora da Boa Notícia à todas as pessoas, a fim de que elas pertençam ao Reino do Céu. Vejamos que Mateus não fala em “Reino de Deus”, mas em “Reino dos Céus”, uma especificidade da literatura deste evangelista que compõe os três Evangelhos Sinóticos. Apresentado como o Emanuel, que significa: “Deus está conosco” (Mt 1,23), vemos que este Jesus traz em si a presença viva de Deus, comunicando a palavra e ação que libertam as pessoas e as reúnem como novo povo de Deus.
A palavra chave do Evangelho de hoje é “justiça”. Jesus está alertando os seus discípulos, para que a justiça deles seja completamente diferente da justiça das autoridades religiosas de Jerusalém: “Se a vossa justiça não for maior que a justiça dos mestres da Lei e dos fariseus, vós não entrareis no Reino dos Céus”. (Mt 5,20) Nesta tradução, está a palavra “maior”. Em outras traduções podemos ver “superar”. O importante na mensagem de Jesus, é saber que não devemos fazer como os doutores da Lei e os fariseus, sejam os de ontem, sejam os de hoje. Sim, porque também hoje, há muitos destes personagens, fazendo exatamente o que faziam os fariseus do tempo de Jesus: “Eles falam e não praticam”. (Cf. Mt 23,1-12)
O texto de hoje também nos ajuda a entender como Jesus interpreta a Lei numa concepção que coloca a pessoa humana acima de qualquer Lei. Nesta sua compreensão, Jesus alerta o discipulado afirmando que a lei não deve ser observada simplesmente por ser lei, mas por aquilo que ela realiza de justiça. Justiça em primeiro lugar! Cumprir a lei com fidelidade, não significa subdividi-la em observâncias minuciosas, criando um tipo de burocracia escravizante. Significa buscar na lei a inspiração para instaurar a justiça e a misericórdia, a fim de que todas as pessoas tenham vida e relações mais fraternas. Não há lei sem justiça! Não há justiça sem paz! O tamanho da justiça é a paz e o bem viver que ela produz, gerando vida em abundancia para todos.
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