Terça feira da Vigésima Terceira Semana do Tempo Comum. Setembro é o mês da Bíblia. Sempre, a cada ano, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), escolhe um dos 73 livros (46 do Antigo Testamento e 27 do Novo Testamento) da Bíblia, para a nossa reflexão e aprofundamento, para assim conhecermos melhor a Palavra de Deus. No intuito de alimentar a nossa fé em Jesus de Nazaré e vivenciá-la comunitariamente, em comunhão com toda a Igreja no Brasil, neste ano de 2025, o Mês da Bíblia será focado na Carta aos Romanos com o inspirador lema “A esperança não decepciona” (Rm 5,5). Esse lema, escolhido pelo Grupo de Reflexão Bíblico-Catequética (GREBICAT), ganhou ainda mais significado com a escolha do Papa Francisco para o Jubileu da Encarnação de 2025,
Setembro muito quente aqui pelas bandas do Araguaia. Um misto de sequidão (baixa umidade do ar), fumaça e vento, com as queimadas proliferando a céu aberto. Apesar do calor intenso, dormi o sono dos justos e, muito cedo, já estava eu rezando na companhia de meus visitantes de cada manhã. Oração que deve fazer parte da nossa vida, sobretudo a cada amanhecer, agradecidos pelo dom da vida de mais um dia, onde Deus nos dá a chance de recomeçar a cada manhã, fazendo o novo de novo, de forma diferente e original, assim como está descrito no último livro do Novo Testamento: “Eis que faço novas todas as coisas”. (Apoc 21,5) Como Deus é o Senhor da história, a fonte e o fim da vida, Ele dá a vida a quem a desejar. Assim, nos tornamos filhos e filhas, participando da realidade do próprio Jesus, que se fez um conosco no meio de nós.
Faltei com os meus rabiscos no dia de ontem. Justamente no dia do nascimento da Nossa Mãe (Natividade de Maria), não tive como sentar para rabiscar. Passei o dia numa interlocução entre as lideranças do Povo Xavante, e o gestor municipal de São Félix do Araguaia. Como tenho facilidade com a língua A’uwé, traduzi a demanda reivindicativa destes indígenas, no que diz respeito a perfuração de poços artesianos nas aldeias, já que a água que chega até eles, vem fortemente contaminada pelo agrotóxico das lavouras de soja da região, impedindo, inclusive, a realização de alguns rituais feitos com os Wapté (jovens adolescentes que estão chegando a fase adulta). A água de que tanto necessitam, serve não apenas para o consumo interno, mas também para a irrigação de suas lavouras.
“Quem reza se salva, quem não reza se condena”. Passei 20 anos da minha vida, período em que passei no meio da família redentorista, como formando e depois como presbítero, ouvindo esta frase de Santo Afonso Maria de Ligório, fundador da Congregação. A oração é um dos meios para chegarmos até Deus. Nos momentos de intimidade com Ele, podemos manifestar a nossa angústia e fazer chegar até Ele os nossos anseios, mas também, um momento oportuno para escutar o que Ele nos diz, já que, estar com Deus é estar em sintonia com os filhos seus. Por este motivo, devemos sempre encontrar tempo na correria diária de nossa vida, para reservar momentos, para estar a sós com Deus, num diálogo, franco, aberto de entrega total nos braços de Deus. É o que Jesus fazia, mesmo sabendo que a unicidade divinal entre o Pai e o Filho, era um estado permanente de imanência na transcendência.
No dia de hoje, vemos Jesus, exercitando esta sua ligação com o Pai. Ele sempre reservava momentos para a oração, principalmente antes das principais decisões a serem tomadas no exercício de seu ministério messiânico. Oração na ação! Oração para a ação! Sim, Jesus rezava! Como podemos ver nos Evangelhos. A oração era uma parte fundamental da sua vida e missão para se conectar com Deus Pai, compreender a sua missão e fortalecer a sua fé. Em diferentes momentos, incluindo noites inteiras, madrugadas, antes de tomar decisões importantes e em momentos de angústia. Ele frequentemente se retirava para lugares solitários para rezar, como vemos em Mc 1,35, onde se levantava cedo para rezar. No registro do Evangelho de hoje, Lucas nos apresenta Jesus rezando numa montanha, e depois escolhe e chama os doze discípulos que farão parte de seu primeiro grupo: “Passou a noite toda em oração a Deus. Ao amanhecer, chamou seus discípulos e escolheu doze dentre eles, aos quais deu o nome de apóstolos”. (Lc 6,13)
O discípulo, a discípula chamado, se transforma em apóstolo/a. Jesus escolhe os doze, que formarão o núcleo da comunidade nova que Ele veio criar. A palavra apóstolo quer dizer “aquele que Jesus envia” para dar continuidade a sua obra e missão. Quem adere a Jesus, torna-se também apóstolo/a enviado/a na mesma missão dos primeiros. A oração nos ajuda a sintonizar com o projeto de Deus, nos mostrando o caminho que devemos seguir hoje, nas estradas da história, construindo o Reino de Deus entre nós. É por este motivo que a oração não pode ser dissociada da ação. Rezar com Deus é abrir horizontes de ação na defesa das causas dos irmãos, sobretudo daqueles que mais sofrem, são rejeitados, descartados e marginalizados, inclusive pelos “devotos” que só sabem rezar entre as paredes dos templos, ou nas altas madrugadas, mas ao saírem dali ignoram os irmãos caídos pelas calçadas, ou nas encruzilhadas da vida. Como dizia o Papa Francisco: “A oração é o respiro da fé, é a sua expressão mais adequada. Como um grito que sai do coração de quem crê e se confia a Deus”.
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