Décimo Terceiro Domingo do Tempo Comum. Junho chegando ao seu final em clima de festa. Os festejos juninos de nossa devoção popular, sendo concluídos com a grande festa destes dois homens, seguidores fiéis de Jesus de Nazaré. Enquanto um conviveu diretamente com o Mestre, o outro precisou “cair do cavalo”, passando assim por um processo de conversão: de perseguidor contumaz dos primeiros cristãos, passa a ser aquele que vai expandir o cristianismo para além dos muros de Roma. Pedro e Paulo, inspiradores de nossa fé cristã, pelo testemunho dado ao Ressuscitado e, como este, dando também a vida pelas causas do Reino. Pedro e Paulo, testemunhas de vida nova.

O discípulo e posteriormente apóstolo Pedro, foi o primeiro, entre os discípulos, a professar a fé em Jesus de Nazaré e também a dar testemunho de seus ensinamentos, morte e ressurreição; ele foi chamado a reunir e conduzir a comunidade apostólica dos primeiros “do caminho”. O martírio deste primeiro seguidor de Jesus é recordado em 29 de junho, junto com São Paulo. Paulo, por sua vez, é considerado o Apóstolo dos Gentios, e um dos maiores missionários da história do cristianismo, tido como o primeiro “teólogo” cristão. Fazia parte do grupo dos fariseus, convertido a Jesus, e consagrado, entregando-se, ao anúncio da encarnação, morte e ressurreição de Jesus. Seu martírio (decapitado) é recordado também no dia 29 de junho, junto com São Pedro. A data de hoje marca também o dia em que os restos mortais foram carregados, junto aos de São Paulo, para as catacumbas de São Sebastião, em Roma, no ano de 257.

Comecei o meu domingo ainda muito cedo. Dei-me de presente alguns momentos, rezando na capela da casa de nosso bispo Pedro. Estar ali rejuvenesce o espirito, absorvendo a energia boa que brota daquele lugar sagrado. Senti-me em estado de graça, reconhecido a Deus pelo dom da minha vida e pelo privilégio de estar ali, naquele lugar histórico. Aproveitei para rezar com o salmista: “Eu te louvarei, Senhor, com todo o meu coração; cantarei todas as tuas maravilhas. Em ti me alegrarei e saltarei de prazer; cantarei louvores ao teu nome, ó Altíssimo”. (Sl 9,1-2) Na compreensão do bispo e poeta do Araguaia, as maravilhas de Deus são suas intervenções libertadoras, que respondem ao clamor dos pobres e oprimidos, como compromisso selado desde sempre: “Eu vi a miséria do meu povo que está no Egito. Ouvi o seu clamor contra seus opressores, e conheço os seus sofrimentos. Por isso, desci para libertá-lo do poder dos egípcios e para fazê-lo subir dessa terra para uma terra fértil e espaçosa”. (Ex 3,7-8)

Ser agradecidos a Deus é um dom de quem sabe que não está sozinho e nem perambula pelas encruzilhadas, sem rumo e sem destino. Louvar a Deus com gratidão é reconhecer Suas bênçãos constantes em nossas vidas, seja nos momentos de alegria, tristeza e também nos obstáculos e desafios. É estar em atitude permanente de agradecimento por Sua bondade e cuidado, para conosco, demonstrando nossa fé em Sua presença inefável, em forma de mistério em nós. Fiz-me gratidão expressando em forma de oração, conduzindo minhas ações, tendo como referência impar a pessoa de nosso bispo Pedro, como se eu o sentisse ali ao meu lado rezando comigo, como muitas vezes o fizemos juntos.

Pedro e Paulo. Casaldáliga e Arns. Amigos declarados, e em sintonia no jeito de ser Igreja comprometida com a vida e as causas dos pequenos, Apóstolos de ontem e de hoje. Como nasci num período histórico privilegiado, trabalhei sob a batuta de ambos. Primeiro, na Região Episcopal de São Miguel Paulista, num período em que as regiões episcopais faziam parte de um colegiado, ligado a uma das maiores arquidioceses do mundo, só perdendo para a Cidade do México e Guadalajara. Depois, ainda muito jovem (três anos de presbitério), aportei-me aqui pelas bandas da Prelazia, tendo Pedro como nosso pastor, e nunca mais consegui levantar acampamento. Os indígenas foram responsáveis por este pacto, selado com a vida e as causas deles. Como se eu fosse filho desta Prelazia. Lá se vão 33 anos de cumplicidade.

“Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo”. (Mt 16,16) Esta confissão de Pedro demonstra que aquele homem estava disposto a tudo para seguir os passos de seu Mestre. Cada dia que passa, venho tentando atualizar em minha vida e ações na história, este compromisso de Pedro com Jesus. O Pedro daqui muito me ensinou e ajudou a ir encontrando respostas aos desafios que a vida, na luta das causas do Reino, nos coloca na ordem do dia. Mais do que uma fé de cumprimento de normas e ritos no interior dos templos, somos desafiados a confessar Jesus como Messias criando um mundo plenamente humano, onde tudo é de todos e repartido entre todos. Desta forma, esse messianismo nos ajuda a destruir as estruturas de uma sociedade injusta, onde há uma elite burguesa bilionária à custa de pobres, e poderosos à custa de fracos e explorados. Com certeza, esta não é a vontade de Deus e nem de seu Messias para a nossa humanidade. Termino os meus rabiscos de hoje trazendo uma frase complexa do grande psicanalista austríaco Sigmund Freud (1856-1939): “O homem é dono do que cala e escravo do que fala. Quando Pedro me fala sobre Paulo, sei mais de Pedro do que de Paulo”.