Sexta feira da Décima Oitava Semana do Tempo Comum. Dia de festa para a comunidade Dominicana, que celebra hoje a Memória de São Domingos de Gusmão, o fundador da Ordem dos Pregadores. A Ordem dos Dominicanos foi criada em 1216, cuja ramificação feminina, das Irmãs Dominicanas de Monteils, filiou-se em 1875. Domingos de Gusmão e seus seguidores passaram a ser conhecidos como homens sábios, pobres e austeros, tendo como características essenciais a ciência e a pregação. Domingos nasceu em 24 de junho de 1170, na Espanha e pertencia a uma família nobre. Dedicou-se aos estudos, tornando-se uma pessoa muito culta. Fez a sua páscoa aos 50 anos de idade, no dia 8 de agosto de 1221. Foi canonizado pelo Papa Gregório IX, que lhe dedicava especial estima e amizade, em 1234.
8 de agosto. Dia de luto para nós aqui da Prelazia de São Felix do Araguaia. Há cinco anos (2020), acontecia aos 92 anos de idade, a páscoa de nosso pastor, poeta, profeta, Pedro Casaldáliga. Sabíamos que este dia aconteceria, mas a tristeza da sua partida ficou estampada nos rostos de todos os que o conheceram e com ele conviveram. Nossa referência maior de uma Igreja comprometida com as causas da vida, que perdia seu grande incentivador e articulador deste jeito de ser Igreja, fundamentada na mística dos Mártires da Caminhada, nas pegadas da testemunha fiel, Jesus de Nazaré. Ele que não tinha dúvida das opções que fazia com a própria vida desapegada, e nos incentivava a irmos nesta mesma direção quando dizia: “Na dúvida, fique do lado dos pobres”, frase imortalizada por ele.
8 de agosto, um dia especial para este mineiro radicado às margens do Araguaia. Foi neste dia que nascia em Montenegro, Rio Grande do Sul, aquele que marcou a minha vida de jovem seminarista, estudante de teologia, pelo seu testemunho à frente das lutas sindicais da região do ABC Paulista: Dom Claudio Hummes (1934-2022). Cláudio Hummes O.F.M, foi um frade franciscano, que, quando bispo da diocese de Santo André/SP, ordenou-me diácono no ano de 1988, na nossa comunidade de inserção, na favela do Jardim Oratório, em Mauá/SP. Segundo os vaticanistas, o Cardeal Dom Cláudio Hummes, foi um dos articuladores do conclave que elegeu o Papa Francisco. Das mãos de Dom Cláudio, rumei para Dom Angélico Sândalo Bernardino, Região de São Miguel Paulista, e de lá, cai nas mãos de Pedro. Fui bem servido de bispos, que me fizeram ser quem sou por aqui, assumindo as cruzes de cada dia, junto aos povos indígenas.
Neste sexta feira do 220º dia do ano, somos desafiados pelo texto litúrgico a assumir a cruz de cada dia e botar o pé na estrada. Todavia, para assumir o peso da cruz, precisamos passar por um processo de transformação. Aliás, a transformação faz parte da constituição humana. Ela é essencial na vida do ser humano. Todos os dias, somos desafiados na busca de sermos transformados e melhorar nas várias áreas das nossas vidas, sem nos esquecermos, todavia, que a maior e mais importante transformação só pode ser feita por Deus em nós. Quanto a isto, São Paulo nos dá uma dica valiosa, quando afirma assim em uma de suas cartas: “Não se amoldem ao padrão deste mundo, mas transformem-se pela renovação da sua mente, para que sejam capazes de experimentar e comprovar a boa, agradável e perfeita vontade de Deus”. (Rom 12,2)
O evangelista Mateus, através de um dos ensinamentos de Jesus, dando-nos as coordenadas de como fazer o seguimento de Jesus, nas encruzilhadas da vida. Aliás, o texto que a liturgia nos apresenta hoje tem também o seu paralelo no Evangelho de Marcos 8,34-38. Jesus fala claramente aos seus, de como deve ser este seguimento, se quisermos ser coerentes às pegadas d’Ele: “Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga. Pois quem quiser salvar a sua vida vai perdê-la; e quem perder a sua vida por causa de mim, vai encontrá-la”. (Mt 16,24-25) A condição fundamental para abraçar a cruz, está intimamente ligada a frase posterior que Jesus faz questão de frisar: “por causa de mim”.
Para a vivência da fé cristã, a cruz é sinal de martírio, de entrega da própria vida e de serviço às causas da vida. No tempo de Jesus, a morte de cruz estava reservada a criminosos e subversivos. A crucificação era a punição mais cruel e terrível, adotada pelo poderio romano. A morte de Jesus não se deve apenas a um problema teológico, mas econômico. O crime pelo qual Ele foi condenado foi ter apresentado um Deus completamente diferente daquele imposto pelos líderes religiosos, um Pai amoroso e compassivo, que nunca pede a seus filhos, mas que sempre dá. Quem quer seguir a Jesus tem que estar disposto a se tornar marginalizado por uma sociedade injusta (perder a vida) e mais, a sofrer o mesmo destino de Jesus: morrer como subversivo (tomar a cruz). Assumir a cruz por causa de Jesus tem um significado teológico/cristológico, mas também político e social, vendo-a como um símbolo da luta dos pobres e oprimidos por justiça e libertação.
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