Foto de Gisele B. Alfaia

Foto de Gisele B. Alfaia
Um idoso amigo revelou-me um milagre do sol e da chuva, do tempo em que era um caprichoso e sábio agricultor de tomates e mamões nas beiradas dos rios e dos lagos. Vamos ouvi-lo e incrementar sua experiência acontecida, em Tefe, AM, com o enredo de um pequeno livro, muito interessante.

Então, era numa época em que ele não sabia ler os sinais da natureza, mas que lhe dava a impressão de estar bem próxima a morte das mudas de plantas. Depois de extremado cansaço para semear tomates no alto do barranco e aguardar o tempo do transplante, sentia-se desfalecido. Subia e descia com suas latas, levando água do igarapé que secava no verão intenso, para não fenecer seu canteiro de mudas de tomates. Mas conseguiu e as salvou com sua teimosia e com toda a força da qual ainda dispunha com fé, mas com risco de se desesperar.

 

No tempo certo do transplante, depois de construir as leiras e adubar a terra com NPK (nitrogênio, potássio e fósforo), replantou-as nas leiras, ajudado por alguns trabalhadores contratados, confiando que as chuvas chegassem para aliviar a terra tórrida do verão escaldante. Quem passava por elas, não acreditava que fossem crescer, de tão frágeis.

No amanhecer do dia seguinte, foi espiar as mudas e começou a desesperar-se, vendo as plantinhas envergadas ao chão e secando, debaixo daquele céu escaldante e de um amarelo brilhante de sol. Contemplava o lago, cintilando aos seus olhos com lágrimas que chegavam. Com o choro contido, foi ajoelhar-se à sombra de uma imbaúbeira para pedir a Deus um milagre, mas acabou debruçado sobre folhas secas. Falou com Deus, com poucas palavras, mas sabia que Deus já conhecia a sua dor.

Foto de Gisele B. Alfaia

 

Foto de Gisele B. Alfaia

Contou-me que naquela posição de entrega à terra, começou a sentir uma espécie de saudável tremor no corpo como uma sensação gostosa de confiança na alma. Orou dispensando as palavras. Ainda de joelhos viu o lago sereno e um pequeno rastro de nuvem perdida entre o verde distante, do outro lado da margem. Ele, conhecedor da Bíblia, me disse que não foi nuvem, em forma de mão, como na Bíblia, um profeta esperava morrer de fome e sem pão.

A nuvem. em forma de mão, é mencionada na história de Elias, no livro de 1 Reis. Mais especificamente, no capítulo 18, versículo 44, o servo de Elias avista uma pequena nuvem do tamanho da mão de um homem vindo do mar. Essa nuvem é interpretada como um sinal da chuva que estava por vir, após um longo período de seca. 

Foi me relatando que a sua nuvem trazia a brisa leve soprando uma paz que se alojou no seu coração, em forma de confiança de que nada estaria perdido em sua plantação de tomates. Pois aquela nuvem foi se expandindo tanto que cobriu o céu durante três dias e três noites de chuva fina.

“Era Deus me falando e acreditei que chegara um inverno provisório para salvar minhas plantas. Uma experiência de que Deus existe para nos amar. Não era coincidência e sim providência, em tempo de precisão. Mesmo com minha humilde oração sem palavras, Deus, Senhor dos Tempos e das Estações, mandara um inverno chuvoso em pleno verão amazônico que resultou numa produção imensa de tomates.”

 

Comparando um pouco forçosamente, conhecí um livro com o tíitulo de “O Pequeno Mestre da Nuvem Branca” cujo enredo era buscar nos montes, a primavera perdida”, (Editora Telucazin, 2023) de André Kondo. Embora seja um livro classificado como literatura infanto-juvenil, tem um pouco de cada um de nós, de crianças e idosos, capazes de abrirem o coração para a fé e para o sentido da vida que não findará com o fracasso.

 Meu amigo disse-me, quando registrei sua experiência, que se imaginou flutuando sobre as nuvens com uma mão acariciando seu rosto e trazendo o fruto do seu trabalho em uma abundante plantação de tomates de todos os tipos, inclusive cereja.
 No romance citado acima, o autor viajante das terras do Oriente, disse que a floração das cerejeiras é o prenúncio da primavera e do outono da vida.
 Há, nesta literatura, um Templo da Nuvem Branca”, um lugar tão alto que parece flutuar sobre as nuvens. Um menino curioso, inteligente e alegre que é constantemente confrontado por um outro aprendiz de monge, dez anos mais velho, muito sério e ranzinza. O Velho Mestre, líder do templo, percebendo o constante embate, resolve dar uma missão aparentemente impossível para a dupla: “Quero que me tragam a primavera no equilibrio das estações da natureza e da vida para morrer entre flores e folhas avermelhadas“.
 Um milagre que marcou o meu amigo agricultor como uma experêencia de Deus que jamais se apagara! Um fato, que ninguém pode desmentir por ter acontecido com ele, sem nenhum merecimento. Apenas uma súplica e um começo de desespero.” E assim, passei a confiar que Deus está no coração de cada um, sem precisar de provas”.

Nelson Peixoto, em 19 de julho de 2025.