QUE NOS FALAM E ENSINAM A VOAR E A VIVER FELI

Foto do escritor: peixotonelson

A FORÇA PEDAGÓGICA DA NATUREZA E AS LIÇÕES DE VIDA PARA IDOSOS E CRIANÇAS.

 

A linguagem da natureza para ser compreendida precisa de iniciação de um perseverante e atento caminhar de descobertas, pois é vital para o desenvolvimento humano e a garantia da continuidade da vida, assim como a plenitude da realização do Projeto Original da Criação. Sejamos crianças ou idosos, temos muito ainda a aprender. Assim crendo, apresento este texto que é mais do que uma historia. É a expressão de uma mística a nos fazer reviver e despertar o desejo de entender as falas da Criação de Deus Pai.

Foto NP

Foto NP

Ao anoitecer dos dias comuns, alguns raios de sol projetavam uma luz tênue sobre a cabeça de um gavião solitário, pousado sobre a haste de uma palmeira, cuja folhagem em forma de dedos maleáveis me falavam de sua sabedoria. Quando o vento refrescava a noite, aqueles “dedos” apontavam igualmente para mim como se falassem revelando igualmente o olhar brilhante do pássaro observador sobre a sombra onde eu me abrigava.

 

Ao amanhecer, o gavião abria as asas e começava seu voo rasante para depois sumir na direção de seu habitat diurno. Chamava-me a atenção o seu voo que parecia uma queda do alto para em seguida, aremessar-se no horizonte, driblando os prédios.

 

Comentava esta obra noturna do gavião silencioso, acrescentando a experiência das asas em movimento do pássaro, com uma amiga doutoranda de pedagogia. Ela insinuou por intuição o poder dos pássaros e da natureza para ensinar-nos a viver e a morrer. Falava das crianças encantadas quando visitavam os zoológicos, correndo entre as prisões, mas também dos idosos cadeirantes, limitados, sem poder voar e sem andar. Estes sonhavam na ternura que tinham com os pombos com os quais partilhavam pipocas nos dias em que eu conversava com eles, pois me tornara um pipoqueiro aprendiz para compensar a ausência do titular.

 
 

Minha conversa com a amiga doutoranda sobre essa experiência com o gavião e com os pombos, fui lembrando de um livro intitulado “Fernão Capelo Gaivota”, que é uma fábula em forma de novela, publicada em 1970.

 

Traz a vitalidade de uma pequena gaivota tentando aprender sobre a vida, sua sobrevivência em grupo e sobre suas buscas em voos distantes, assim como o esforço da autoaperfeiçoamento em vida coletiva de sua espécie.

Entretanto, o nosso gavião com seus “dedos de folhas”, já cansados dos anos nos fazem situar a favor dos pombos sem dono que enfeitam a cidade, por mais que muitos prevenidos digam que eles não passam de ratos do ar e condutores ou vetores de meningite.

 

Nesse caso dos pombos alimentados pelos idosos que conheço, nos fazem entender que a partilha da pipoca nas tardes de calor, se torne o gesto solidário daqueles que ainda sonham em voar ou correr sem cadeiras de roda.

 

Lições que a vida dá para não amortecer antes do tempo ou ficar paralisados sem conquistar o céu azul e o infinito do Amor, mesmo entre quedas e levantes. Foi assim que no livro e no filme, um bando de gaivotas encontra um monte de lixo cheio de peixes mortos, deixados por um barco de pesca, quase igual a pesca seletiva do passado amazonense das geleiras que ao encontrar um cardume de tambaqui de maior valor comercial, jogavam os peixes menos nobres nos lagos em desperdício.

 

No livro, está Fernão Gaivota (ou Jonathan Segull, nome original em inglês), com o desejo de deixar tudo isso e acreditar que pode encontrar mais sanidade em outras partes do mundo. Certo dia, resolve voar para bem longe e alcança um paraíso de gaivotas sensatas a se alimentarem de peixes que se entregam livremente para fazer o equilíbrio da vida. Neste paraíso harmônico e abundante ele pensa em apresentar suas experiências exitosas ao seu bando viciado na mesmice dos dias.

 

Assim segue a novela. Ele volta para seu monturo de cabeças de peixes, mas ninguém acredita no paraiso que encontrou. Ninguém liga a mínima, até que Fernão cura uma velha gaivota idosa que havia morrido. A utopia tem seu lugar quando temos a esperança ativa a nos mobilizar.

 

Gavião e Gaivota, as personagens deste texto, nos apontam para a aprendizagem que nos faz pensar na vida e melhorar o mundo, acreditar na interdependência entre os seres e encontrar as mensagens de vida que nos humanizam. Não podemos aceitar o destino da fome nem dos pombos de rua, nem os desposos e dejetos que envenenam os pássaros, assim como os peixes dos mar e dos rios que morrem por não sonhar num mundo mais maravilhoso.