Quarta feira da Sétima Semana da Páscoa. O mês de junho vai dando as suas coordenadas. Aqui e acolá já podemos ver os preparativos para as tradicionais festas juninas. Santo Antônio vem abrindo a porta. Em alguns lugares, é comum a realização da “Trezena de Santo Antônio”. Por falar nele, embora tenha vivido poucos anos (36 anos), este santo de origem portuguesa, tornou-se um dos santos mais populares do mundo. Aqui no Brasil, herdamos dos portugueses tal devoção, passando a fazer parte de maneira bastante incisiva de nosso calendário litúrgico. Mais do que um “Santo casamenteiro”, como muitos o veem, ele é o patrono das mulheres estéreis, dos pobres, dos viajantes, dos pedreiros, dos padeiros, entre outros.
Estamos atravessando o 155º dia do ano de nosso calendário gregoriano. Estamos dentro da Semana de Oração pela Unidade Cristã (SOUC). Esta semana que começou no dia 1º, vai até o dia 8 de junho. Lembrando que esta é uma proposta feita pelo Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC), que tem como tema para este ano, inspirado na pergunta de Jesus a Marta na narrativa da ressurreição de Lázaro: “Crês nisso?” (Jo 11,26), cujo objetivo principal é nos desafiar na reflexão sobre o verdadeiro significado da fé cristã. Rezar é sempre bom, ainda mais quando rezamos com o objetivo de nos unirmos em torno de uma compreensão da fé, em forma de unidade entre nós, é melhor ainda.
A título de informação, fazem parte do CONIC as respectivas denominações religiosas: Igreja Católica Romana, Igreja Católica Ortodoxa Siriana, Igreja Cristã Reformada, Igreja Episcopal Anglicana do Brasil (IEAB), Igreja Metodista, Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB) e Igreja presbiteriana Unida (IPU). Todas elas unidas para desenvolver uma perspectiva ecumênica da fé cristã. O CONIC surgiu (1982), num contexto bastante difícil da realidade brasileira, em que o país estava atravessando os anos de chumbo da ditadura militar (1964-1985), cujo governante era João Batista Figueiredo. Ali, a expressão do movimento ecumênico nacional se deu num momento de reconstrução democrática do Brasil e, como cristãos, movidos pela fé, fomos desafiados a fazer o enfrentamento, como Jesus diante do Império Romano de sua época.
“Para que eles sejam um assim como nós somos um”. (Jo 17,11) Para que todos sejamos um. Na semana de unidade dos cristãos, somos todos desafiados a viver a fé de forma que saibamos aceitar e respeitar a fé do outro, principalmente daquele outro que não tem a mesma fé que eu. Isto significa que não existe uma denominação religiosa mais importante que a outra. Na compreensão ecumênica, todas as manifestações religiosas concorrem para a unicidade do mesmo Deus. Assim, a Mãe e o Pai de Santo com os seus orixás e suas divindades ancestrais do povo negro, são tão importantes quanto a devoção religiosa daquele ou daquela que vive dentro das paredes dos templos, adorando o Deus que acreditam servir. Assim como há a unicidade entre o Pai e Jesus, o Deus que acreditamos é um só e Pai/Mãe de todos nós.
Todavia, em tempos de modernidade e do avanço das redes digitais, em que as pessoas acumularam mais “amigos” virtuais que presenciais, há uma contraditória inversão de valores, predominado os ataques virtuais, mentiras dominadas pelo ódio, contra inclusive as pessoas que possuem sua forma própria de viver a fé cristã. É esta hipocrisia religiosa que o texto do Evangelho de João vem nos alertar no dia de hoje. Ao mesmo tempo em que Jesus está alimentando de coragem e esperança os seus discipulados, para a missão que assumirão a partir dali, Ele também os empoderam e enviam, para que possam enfrentar os desafios do mundo de cabeça erguida: “Como tu me enviaste ao mundo, assim também eu os enviei ao mundo. Eu me consagro por eles, a fim de que eles também sejam consagrados na verdade”. (Jo 17,18-19)
Os discípulos, sendo preparados para darem continuidade à mesma missão de Jesus. Eles são enviados ao mundo e não retirados dele. O mundo é o lugar da realização da missão de todos aqueles que fizerem a sua adesão pelo projeto do Reino anunciado por Jesus. Não se trata de “sair do mundo”, de ser retirado dele, como em algumas pregações ainda vemos acontecer entre nós, como se este fosse algo a ser evitado como forma de chegar mais fácil à Deus. O próprio evangelista, em outra passagem, narra uma das falas interessantes de Jesus em relação a este mesmo mundo: “Deus enviou o seu Filho ao mundo não para condenar o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por meio dele”. (Jo 3,17) Na missão que os discípulos são enviados a realizar, eles deverão assumir a mesma atitude amorosa de Jesus, que manifestou todo o amor do Pai, para salvar e dar a vida a todos. Portanto, a missão deles e nossa não é “sair do mundo”, mas sim permanecermos unidos, presentes no meio da sociedade, dando testemunho concreto de Jesus, através das nossas ações. Desta forma, estaremos certos de que o Pai nos protegerá de nos contaminarmos com o espírito do “mundo”, cujas ameaças e seduções, em formato de tentação, estarão sempre presentes nas nossas vidas. Que sejamos fortes como Paulo e possamos viver aquilo que ele escreveu: “Que o Deus da esperança os encha de toda alegria e paz, por sua confiança nele, para que vocês transbordem de esperança, pelo poder do Espírito Santo”. (Rom 15,13)
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