Sábado da 31ª Semana do Tempo Comum. Entramos no primeiro final de semana do mês de novembro, dos quatro outros mais, que teremos pela frente. Já nos preparando para o final do ano, que avistamos no horizonte das nossas perspectivas. Novembro ainda não nos trouxe ainda a chuva costumeira para esta época do ano por aqui. Tem formado bastante, mas a água não chega, talvez carregada pela forte ventania. Estamos precisando dela, já que os nossos pequenos produtores dos assentamentos circunvizinhos, já estão reclamando bastante a sua ausência, prejudicando as suas produções da agricultura familiar.

Acordei muito cedo e fiz a minha costumeira oração matinal, as margens do Araguaia. O Sol ainda dormia o seu último sono da noite, mas quando acordou, fez registrar os seus brilhantes raios, nas águas do rio, que corriam apressadas, com destino ao Tocantins. As manhãs por aqui são cada dia mais lindas que a outra. Deus se manifestando através de sua criação. Segundo a teologia, são sinais visíveis de uma “teofania”, que quer dizer “manifestação de Deus”. Esta palavra nos vem de dois termos gregos “theos” (Deus) e “phainein” (manifestar). Tudo isso para referir-se num encontro pessoal com Deus, onde Sua presença é revelada de uma forma tangível e observável, por meio deste fenômeno natural, que os meus olhos puderam registrar. Um senhorzinho, que estava também ali, me confidenciou: “não me canso de ver todos os dias este espetáculo”. Eu também não, disse eu.

Fiz uso em memória do texto do Evangelho de Lucas, proposto pela liturgia para este sábado, em que Jesus se refere às riquezas. Depois de contar a parábola do administrador desonesto, como vimos ontem, Jesus continua com a formação/instrução dos discípulos, desta vez falando sobre a administração que estes devem ter, acerca das riquezas (dinheiro). Administrar com fidelidade, como fica expresso neste versículo dito por Ele: “Quem é fiel nas pequenas coisas também é fiel nas grandes, e quem é injusto nas pequenas também é injusto nas grandes”. (Lc 16,10) A infidelidade é um perigo que todos corremos, se não estivermos convictos acerca da radicalidade do compromisso do seguimento de Jesus de Nazaré.

O grande desafio, a que somos submetidos, como testemunhas no seguimento fiel de Jesus, trata-se da fidelidade à pobreza evangélica. Desapegar dos valores superficiais, para buscar o valor supremo que está no anúncio profético do Reno de Deus. Uma opção que fazemos de forma pessoal, livre e consciente, sempre dispostos a fazer da nossa vida, uma doação permanente pelas causas do Reino. Reino de Deus que está dentro de nós, como assim Jesus assegurou a seus discípulos: “O Reino de Deus está dentro de vós”. (Lc 17,21) Isso significa que o Reino de Deus não é algum lugar distante ou algo inacessível, como uma previsão apocalíptica. Os valores do Reino se manifestam na prática da justiça.

A alternativa que resta para o fiel seguidor de Jesus é ser fiel e, com humildade, dedicação e serviço, não trair as causas de Jesus, em que as riquezas devem ser usadas em favor dos empobrecidos. Amar a Deus é amar os pequenos, e com eles fazer morada, como Jesus assim o fez. Amizade solidária no serviço prestado a eles. O amor deve ser vivido em forma de serviço, porque o amor que não se torna serviço não é verdadeiro. Não um amor de palavras, mas de gestos concretos, fazendo com que as riquezas sejam investidas naqueles que necessitam. Neste sentido, o apego às riquezas (dinheiro) tornou-se algo doentio para alguns. Para estes, Jesus diz claramente: “Ninguém pode servir a dois senhores: porque ou odiará um e amará o outro, ou se apegará a um e desprezará o outro. Vós não podeis servir a Deus e ao dinheiro”. (Lc 16,13)

Algumas traduções bíblicas trazem esta frase da seguinte forma: “ninguém pode servir a Deus e a Mamom ao mesmo tempo”. Lembrando que “Mamom” é um termo da literatura judaico-cristã que se refere ao dinheiro, a riqueza material e a busca gananciosa por lucro, muito comum entre os religiosos do tempo de Jesus, e também nos tempos atuais da “monetização”. A palavra também pode ser personificada como um “demônio”, que representa a avareza e a adoração às riquezas. O que Jesus quis dizer aos discípulos, seja numa tradução ou noutra, é que a dedicação excessiva ao dinheiro, afasta a pessoa do projeto de Deus. No seu conhecimento sapiencial de Deus, Jesus quer que façamos a opção pelos pobres e não pelas riquezas. Esta opção é o tema central no Evangelho. Através de sua vida, ensinamentos e ações Jesus, na sua opção cristológica, prioriza o bem-estar e a dignidade das pessoas marginalizadas e desfavorecidas. Ele que se fez pobre, com os pobres e para os pobres, quer que façamos o mesmo e não o apego às riquezas.