Quarta feira da Décima Oitava Semana do Tempo Comum. Neste dia, a liturgia abre espaço para celebrar a Festa da Transfiguração do Senhor. A Transfiguração de Jesus é um dos cinco sinais que encontramos nos Evangelhos, que se junta ao Batismo, a Crucificação, a Ressurreição e a Ascensão. Esta é celebrada desde o século V no Oriente e desde 1457 no Ocidente. O seu significado prende-se na preparação dos seguidores e seguidoras de Jesus para a permanência firme na fé, rompendo a escuridão das trevas da morte, com a sua resplandecência de Jesus, o Deus que se faz humano. Lembrando que ao narrar este fato, Lucas não usa a palavra “transfiguração”, como os comentários bíblicos nos trazem. Ao invés disso, ele descreve que a aparência do rosto humano de Jesus mudou e suas vestes ficaram brancas e resplandecentes.

Lucas é um dos evangelistas que faz questão de descrever a humanidade de Jesus. É bom lembrar também, que ele está escrevendo para as comunidades da cultura greco-romana. Assim, ao transcrever a “transfiguração” de Jesus, ele focaliza esta transformação da aparência de Jesus como um momento de revelação da sua glória divina, mas de forma que não soe como uma ruptura com sua natureza humana. Acompanhado dos discípulos Pedro, Tiago e João, se juntaram a Moisés e Elias. Neste cenário Teofânico, Jesus ouve uma voz vinda do céu que diz “Filho” e as suas roupas brilham, tornando-se extraordinariamente radiantes. Segundo esta Tradição Javista, uma nuvem surgiu e encobriu os apóstolos, ouvindo-se as palavras: “Este é o meu Filho, o Escolhido. Escutai o que ele diz!” (Lc 9,35). Esta revelação reforça a identificação de Jesus como o Messias, preparando os discípulos para o que se seguiria a partir daí, coisas que eles demoraram em entender e aceitar.

Na Transfiguração acontece o encontro entre Jesus, a Lei e os profetas, mostrando assim a sintonia perfeita entre o Primeiro e o Segundo Testamento, revelando-se o casamento entre a natureza humana e a natureza divina, sendo Jesus a ponte entre os dois mundos. Moisés representa a Tradição Javista (J), que é caracterizada pelo uso do nome (Iahweh) Javé para Deus. Esta tradição está muito forte e presente no Pentateuco, formado a partir da combinação de várias fontes literárias, incluindo a javista (J), a eloísta (E), a deuteronomista (D) e a sacerdotal (P). Essa forma de nominar Deus aparece nos textos da Bíblia Hebraica “Stuttgartensia”, mas quando foram traduzidos para o português, o termo “Elohim” é geralmente traduzido como “Deus”. Se Moisés, representa a Lei, Elias representa a tradição profética. A presença de ambos ao lado de Jesus confirma que Ele é aquele que vai cumprir, tanto da Lei quanto os Profetas, sendo o centro do plano de salvação.

Em meio a esta Festa tão importante para a fé cristã, como educador que procuro ser, não poderia me esquecer da data de hoje, tão significativa para os educadores. 6 de agosto é o Dia Nacional dos Profissionais da Educação. Esta data foi instituída para homenagear todos os profissionais que atuam na área da educação, além dos professores, é claro! Sensibilizados, devemos reconhecer a importância do trabalho dos diversos profissionais, como funcionários administrativos, coordenadores pedagógicos, entre outros, que contribuem para o bom funcionamento das instituições de ensino. O objetivo é valorizar e reconhecer o trabalho desses profissionais, que são essenciais também para a formação dos estudantes. Antes, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), falava de trabalhadores de escolas e universidades habilitados na categoria de profissionais da educação escolar básica. Agora passaram a ser reconhecidos como “Profissionais da Educação”, dignificando-os e recebendo a valorização e o respeito devido que merecem.

Feito este parêntese, retornemos ao contexto litúrgico da festa de hoje. No seu Evangelho, Lucas sempre nos mostrou um Jesus orante. Apesar da sua vida corrida, encontrava momentos para estar a sós com Deus: “Jesus se retirava para lugares desertos, a fim de rezar”. (Lc 5,16); “Jesus foi para a montanha a fim de rezar. E passou toda a noite em oração a Deus”. (Lc 6,12); “Jesus estava rezando num lugar retirado, e os discípulos estavam com ele. Então Jesus perguntou: Quem dizem as multidões que eu sou?” (Lc 9,18) Sempre tinha os seus momentos de oração. A narrativa de hoje apresenta um destes momentos. Nos momentos de tomada de decisão, Jesus a fazia depois de uma oração de intimidade com o Pai. Ao mostrar este Jesus orante, Lucas quer dizer que Ele, através de sua palavra e ação, está realizando a vontade do Pai.

Na transfiguração de Jesus aparece claramente esse sentido da oração: “Da nuvem, porém, saiu uma voz que dizia: “Este é o meu Filho, o Escolhido. Escutai o que ele diz!” (Lc 9,35). E a vontade do Pai é que Jesus realize a promessa feita por Deus e transmitida pela Lei e os profetas. Entretanto, para realizar esta promessa, terá que passar pela experiência dolorosa da Morte, Ressurreição e Ascensão, quando então, acontecerá o ato supremo de libertação do povo, acabando com todas as formas de opressão, exercidas pelo sistema implantado em Jerusalém, cujas autoridades religiosas da época se subjugavam. Evidente que o desfecho que acontecerá com Jesus, não teve uma boa recepção para o seu discipulado, que nas pessoas de Pedro Tiago e João, quiseram ficar ali no bem bom, sem querer descer da montanha, para enfrentar os desafios árduos da planície. Atitudes semelhantes que podemos ver hoje em alguns setores da nossa Igreja, que se deixam seduzir pela “Teofania da montanha”, trancafiando-se atrás das paredes dos templos, em louvores, adornados à incensos e adoração de seus egos e suas roupas luxuosas. Transfiguração é saída, serviço, entrega e doação pelas causas do Reino!