Terça feira da Sexta Semana da Páscoa. Devagar vamos trilhando o caminho rumo à Pentecostes. Menos de duas semanas, e já estaremos pisando no chão da Solenidade do Envio do Espírito Santo sobre os Apóstolos. Antes, passaremos pela Ascensão de Jesus, que é a sua entrada na glória e a exaltação da sua condição humana na divindade maior de Deus. Jesus eleva-se ao céu, onde está sentado na glória triunfal de Deus. Com esta solenidade, acontece a exaltação da natureza humana, a vitória humana sobre o pecado e a morte, pela vida de Jesus. Este é o caminho que estamos percorrendo, até contar com a presença forte e transformadora do Espírito da Verdade, para sermos continuadores da mesma missão de Jesus, na procura do Reino. “Sereis minhas testemunhas”. (At 1,8)
No data de hoje há 461 anos, a humanidade perdia um dos maiores teólogos de sua história. Falecia em Genebra, na Suíça, aos 54 anos, João Calvino (1509-1564). Foi ele uma das lideranças máximas do protestantismo, que ficou conhecido por Calvinismo. Calvino foi influenciado pela corrente humanista e também pelo Luteranismo de Martinho Lutero, desenvolvendo a sua própria teologia, ajudando-nos a pensar a fé, para além da forte influência da Igreja Católica. Tendo em vista a perspectiva macro ecumênica, como gostava dizer nosso bispo Pedro, esta afirmação feita por Calvino nos faz pensar: “Os homens jamais encontrarão um antídoto para suas misérias, enquanto, esquecendo-se de seus próprios méritos, diante do fato de que são os únicos a enganar a si próprios, não aprenderem a recorrer à misericórdia gratuita de Deus”.
Deus é misericórdia sempre! Foi assim que Jesus nos revelou o rosto maternal de Deus. Mas, antes de entrar nesta amorosidade do Deus da criação, lembramo-nos de que no dia de hoje somos convidados a comemorar uma de suas criações. É que no dia 27 de maio, temos a oportunidade de celebrar um dos nossos biomas: Dia Nacional da Mata Atlântica. Lembrando que este bioma ocupava uma área de 1.110.182 Km², correspondendo a 15% do território nacional. Todavia, com a degradação ambiental, provocada pelo próprio homem, estima-se que exista apenas 7% do bioma natural, da floresta que existia originalmente. Sua extensão de mata passa por toda a costa litorânea que vai do Rio Grande do Norte ao Rio Grande do Sul. Recordando que o Brasil é formado por seis biomas com características distintas: Amazônia, Caatinga, Cerrado, Pantanal, Mata Atlântica e Pampa.
Pensando na misericórdia do Deus Criador de tudo e de todos, em contrapartida com a indiferença humana que insiste em destruir aquilo que cuida da sua própria subsistência. Esta é a vida humana, que tem tudo nas mãos, mas que despreza a sabedoria divina, optando pela sua própria ignorância. Um Deus que cuida de nós com carinho maternal e, não satisfeito, envia-nos gratuitamente Aquele que veio mostrar o caminho que conduz à verdadeira vida, que o evangelista São João resumiu de forma cristológica teologal, esta presença viva do Filho em nós: “O Verbo se fez carne e habitou entre nós”. (Jo 1,14). Verbo, Palavra, Logos, com um significado filosófico mais amplo, para nos dizer que a Palavra é a Sabedoria de Deus vislumbrada nas maravilhas do mundo e no desenrolar da história, de modo que, em todos os tempos, as pessoas sempre tiveram e têm algum conhecimento dela, já que Jesus, Palavra de Deus, é a luz que ilumina a consciência de toda a humanidade.
Mais uma vez a liturgia nos coloca diante do contexto de Jesus despedindo-se dos seus discípulos, preparando-os para a jornada que iniciaria a partir dali, sem a presença física d’Ele com eles. Naturalmente, num misto de tristeza pela perda, decepção por não tê-lo, e frustração, Jesus os encoraja, apontando para a direção da força que virá até eles, devolvendo-lhes a inspiração e disposição, para permanecerem na luta: “No entanto, eu vos digo a verdade: É bom para vós que eu parta; se eu não for, não virá até vós o Defensor; mas, se eu me for, eu vo-lo mandarei”. (Jo 16, 7) Uma ausência que se faz presença, graças ao mistério da revelação de Deus. Já não contarão mais com o Jesus de Nazaré, mas com o Cristo da fé, o Ressuscitado, que ganha força, graças a intervenção divina de Deus, que não permite que a morte tenha a última palavra, descendo o Filho da cruz e fazendo a vida triunfar n’Ele para nós.
Os discípulos sentem o calor deste afago amoroso de Jesus, mostrando toda a misericórdia do Deus Salvador. Os discípulos sentem-se encorajados, mesmo sem entenderem plenamente o que tudo aquilo significaria na vida deles, sabendo que seriam perseguidos por aliarem-se a um “malfeitor”. Ser testemunhas vivas desta proposta de Deus era o desafio maior a ser desenvolvido ali naquele contexto. É através do testemunho dos discípulos, que o testemunho de Jesus continuará na história. Assim, guiados pelo Espírito, eles se tornam capazes de discernir os desafios do mundo, a partir da palavra e ação de Jesus. Foi assim com eles e é assim também com todos nós, que abraçamos o projeto do Reino de Deus, revelado por Jesus. O mesmo sistema que condenou Jesus “ontem”, continua perseguindo seus seguidores. A perseverança e a fidelidade fazem parte do seguimento de Jesus. Aquele que pensa que o simples fato de acreditar em Jesus, o isentará de maiores desafios e problemas, verá que está profundamente enganado. Resta-nos confiar na força transformadora do Espírito, renovando as nossas estruturas pessoais limitadas. Quanto a isso, João Calvino já nos alertara: “Deus jamais encontrará em nós algo digno do seu amor, senão que Ele nos ama porque é bondoso e misericordioso”.
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