Quinta feira da Sexta Semana da Páscoa. Maio vai chegando ao seu final. Já é possível enxergar no horizonte o mês que vem vindo. Logo estaremos em meados de mais um ano de nosso calendário cronológico. Enquanto isso, vamos trilhando o passo a passo da história, esperançando e acreditando em dias melhores, muito embora, a depender de alguns de nós, este mundo caminha para o colapso. Resta-nos, com a nossa altives e proatividade, irmos construindo outro mundo possível, em que todos possam desfrutar da alegria de viver. O esperançar da utopia nos faz acreditar que seremos capazes de fazer o novo diferente. Nesta perspectiva, gosto de pensar com o nosso bispo Pedro: “Se você vê infelicidade, é difícil se sentir totalmente feliz, mas se você tentar ser solidário e simples, há um tipo de felicidade subjacente que permanece”.
Uma manhã bastante diferente das temperaturas típicas aqui pelas bandas do Araguaia. O outono, dizendo a que veio, nos deu de presente uma temperatura bem mais amena. Este clima, desperta em nós a nostalgia, tanto que amanheci declamando silenciosamente no recanto da memória, o poema “Mar Português”, do poeta modernista lusitano, Fernando Pessoa (1888-1935). Nesta sua obra prima, está ali uma das frases de todos conhecida: “Tudo vale a pena quando a alma não é pequena”. De alma engradecida, aproveitei para agradecer ao Deus Criador, o dom da vida e a possibilidade de viver neste tempo histórico, rodeado de pessoas especiais, que Ele colocou na minha vida. Mesmo distantes, elas estão presentes, e engrandecem o meu eu, me fazendo ser aquilo que sozinho não conseguiria sê-lo. Sou quem sou em virtude destas pessoas que me fazem ser a pessoa que sou.
Na minha meditação orante, busquei compreender melhor a atitude dos discípulos de Jesus, diante de uma de suas falas, que o evangelista São João descreve no texto do evangelho, escolhido pela liturgia para esta quinta feira. Jesus, segue falando para os seus, sobre a sua partida, despertando no seu grupo, um misto de tristeza e alegria: “Pouco tempo ainda, e já não me vereis. E outra vez pouco tempo, e me vereis de novo”. (Jo 16,16). Tristeza por não tê-lo mais fisicamente com eles; e alegria por saber que a partir de então, estando junto do Pai, será um grande intercessor nas causas e lutas a serem travadas na missão que o discipulado assumirá no seu apostolado. Evidente que Jesus está se referindo à morte-ressurreição, mas também à sua glorificação pelo Pai, e a vinda do Espírito e à nova ordem de coisas criadas pelo acontecimento de Jesus, como Verbo encarnado do Pai.
A linguagem de Jesus parece complexa, gerando dúvidas e desentendimento no seu discipulado, que gostaria de permanecer no bem bom, sem que Jesus passasse pelo caminho da cruz do Calvário. Não é a primeira vez que eles manifestam tal atitude. O exemplo da Transfiguração no Monte Tabor, Pedro quis permanecer acomodado, diante daquilo que seus olhos contemplavam, a Lei e os Profetas: “Mestre, é bom ficarmos aqui. Vamos fazer três tendas: uma para ti, outra para Moisés e outra para Elias. (Lc 9,33) A triste partida de Jesus, mediante sua morte, ressurreição e ascensão, manifesta o ato supremo de libertação de toda a humanidade, acabando com a opressão exercida pelo sistema implantado em Jerusalém e também nas entrelinhas de nossa história.
A vida pública terrena de Jesus de Nazaré está para terminar. A sua vida gloriosa vai começar na Ressurreição. Este retorno de Jesus não acontecerá somente com as aparições depois de sua Ressurreição, mas prolongará pela sua presença viva no coração de todos aqueles e aquelas que fizerem a opção pelo seu seguimento. Num primeiro momento, os discípulos não entendem com profundidade as palavras de Jesus. As perguntas feitas por eles demonstra isto. Na sua resposta, Jesus busca afastar deles a tristeza e o abatimento, insuflando no coração deles, a confiança e a alegria, pois Ele estará com eles ate o final, assegurando a eles que: “Vós chorareis e vos lamentareis, mas o mundo se alegrará. Vós ficareis tristes, mas a vossa tristeza se transformará em alegria”. (Jo 16,20)
A Criação de Deus não visa à morte, mas a vida! Não fomos criados para morrer, mas para viver e na plenitude sonhada pelo Criador. Nesta perspectiva da lógica do Criador, a morte é apenas uma passagem, onde através dela, alcançaremos a presença divinal de Deus. Foi assim com Jesus, e será assim com todos aqueles que creem na Ressurreição de Jesus. Evidente que nenhum de nós quer morrer, tanto que gostaríamos de adiar ao máximo esta triste data. Os discípulos de Jesus estão passando por este momento crucial de tristeza profunda. Se por um lado, a morte de Jesus significa ausência e tristeza, por outro lado, ela se faz fecunda, pois dará lugar à alegria, uma vez que será o princípio de uma presença nova, a presença do Ressuscitado, que age mediante o Espírito Santo. O que acontece com Jesus acontece com todos nós. Faremos assim a mesma experiência da semente que, para dar fruto, o grão de trigo deve morrer. Como São Francisco expressou em um de seus cânticos: “Pois, é dando que se recebe. É perdoando que se é perdoado; E morrendo que se vive para a vida eterna.”
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