Terça feira da Sétima Semana da Páscoa. Devagarinho, vamos chegando à Pentecostes. Já estamos quase lá! Enquanto isso, seguimos ouvindo as palavras de encorajamento de Jesus a seus discípulos assustados. O Espírito Santo já vem apontando no horizonte da nossa fé. A força maior de Deus que nos conduzirá pelo estradeiro da vida, apontando a direção de nossa missão e ação neste mundo. Deus que se preocupa com o nosso caminhar de fé, tanto que faz questão de nos enviar aquele que irá nos conduzir pelas veredas de nossa estrada. Nas suas várias denominações, sabemos que não estamos desprotegidos: Paráclito, Consolador, Espírito de verdade, Advogado, Dedo de Deus, Fogo, Pai dos pobres, Doador de dons, Luz dos corações. Importante é que com Ele estamos seguros e protegidos.
Dia 3 de junho. Na data de hoje, há 62 anos, o mundo católico assistia a páscoa de um dos grandes homens da Historia da Igreja: Papa João XXIII (1881-1963). Pertencente a Ordem Franciscana Secular – OFS, foi o 261º Papa da Igreja. Desde os primeiros dias de seu pontificado, demonstrou ser ele um Papa inovador, convocando o Sínodo Romano, instituindo a Comissão para a revisão do Código de Direito Canônico, mas o mais importante viria a seguir: em 25 de janeiro de 1959, convocou o Concílio Ecumênico Vaticano II, com o objetivo especifico de propor um novo conteúdo para fé contemporânea, ajudando a dar respostas às novas problemáticas e desafios da modernidade em ascensão. O “Papa Bom”, este foi o codinome que lhe foi aplicado nos corredores do Vaticano. Foi beatificado por João Paulo II, em 2000, e canonizado pelo Papa Francisco, em 27 de abril de 2014.
“Consulte não seus medos, mas suas esperanças e seus sonhos. Pense não sobre suas frustrações, mas sobre seu potencial não usado. Preocupe-se não com o que você tentou e falhou, mas com aquilo que ainda é possível fazer”. Com esta significante frase do Papa João XXIII, desloquei-me ainda cedo em direção à capelinha da casa de nosso bispo Pedro, para ali rezar. Sei que este é um privilégio de poucos, estar ali onde, por longos anos, nosso profeta rezava nas madrugadas de cada amanhecer. Ainda padre jovem, quando cheguei a esta Prelazia (1992), ficava admirado de ver aquele homem ali em estado de profunda sintonia com o sagrado. Minha juventude presbiteral, foi aos poucos bebendo daquela fonte chamada Pedro. Ali, fui entendendo porque aquele homem possuía tanta força e energia para a vivência de sua resistência teimosa pelo Reino. Foi numa daquelas manhãs que ouvi dele uma das falas que me motivam ainda hoje na luta: “ter esperança é um ato de rebeldia”. Quem sou eu para dizer o contrário.
“Tudo o que é meu é teu e tudo o que é teu é meu”. (Jo 17,10) Seguimos refletindo ainda sobre o “Discurso de Despedida” do Mestre Galileu. Ele que continua a encorajar os seus discípulos para que eles não percam a esperança com a sua partida física do meio deles. Nesta sua fala, Jesus demonstra toda a sintonia de unicidade que existe entre o Pai e o Filho. O Deus de Jesus não é um Ser distante e inatingível, mas alguém que se coloca no mesmo plano da humanidade, quando permite que o seu Filho Unigênito faça a experiência de encarnar-se no nosso plano humano. Um mistério transcendental desvendado com a chegada de Jesus no meio de nós; nascido no ventre de uma mulher pobre e marginalizada, da periferia da vilazinha de Nazaré. Deus que faz questão de que o seu Filho Amado, fizesse a experiência humana de ser gestado no ventre materno de uma grande Mulher, que com o seu Sim corajoso, passou a fazer parte da história da salvação de todos nós: “Eis aqui a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra!” (Lc 1,38).
“Já não estou no mundo, mas eles permanecem no mundo, enquanto eu vou para junto de ti”. (Jo 17,11a) Jesus, que vai para junto do Pai. Não que Ele não estivesse junto dele o tempo todo em que esteve com os seus discípulos, como Jesus histórico. Este retorno à casa do Pai faz parte do mistério da redenção e salvação de toda a humanidade. Ao ascender à casa do Pai, Jesus abre para todos nós a possibilidade de participar desta mesma experiência: “Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se assim não fosse, eu vos teria dito. Pois vou preparar-vos um lugar. E, quando eu for e vos preparar este lugar, voltarei e vos receberei para mim mesmo, para que, onde eu estou, estejais vós também”. (Jo 14,2-4) Através da encarnação do Verbo, Deus, doador da vida, se manifesta inteiramente na pessoa e ação de Jesus, possibilitando-nos alcançar a morada definitiva em Deus.
A vida eterna e a vida terrestre são duas questões que ainda geram algumas interpretações, que muitas vezes não condizem com o estudo eclesial e teológico. O convite primeiro feito a nós é viver na plenitude do aqui e agora. Não significa que devamos “abandonar este mundo”, como alguns até chegam a assim pensar, mas fazer desta experiência do aqui e agora, construindo o Reno em que a vida esteja em primeiro plano com todas as suas potencialidades. A vida eterna está para além da história. Aquilo que a filosofia e a teologia entendem como meta-história. Há muitos equívocos na interpretação que damos acerca do que entendemos por vida eterna. Para o conhecimento exegético, a vida eterna consiste em comprometer-nos com o verdadeiro Deus e o verdadeiro homem, que se manifestaram na vida e ação de Jesus. O Deus verdadeiro é o Pai de infinita amorosidade, a ponto de entregar seu Filho até à morte, para dar vida. Desta forma, todo deus que não dá vida é falso. O ser humano verdadeiro é aquele que se abre para se tornar filho do Deus que dá vida e para ser irmão dos outros, dando a vida por eles, como Jesus fez.
Comentários