Segunda feira da Décima Quarta Semana do Tempo Comum. A semana só está começando, dando-nos a possibilidade recomeçar. Começar de novo, fazendo o novo diferente. Esta é a perspectiva dos que acreditam no Deus da vida. Cada dia é um novo dia. Cada dia é único. Por isso, viver na intensidade maior, é o sonho de Deus para todos nós. Não nos acomodarmos é o primeiro passo nesta jornada, se quisermos estar em sintonia com o plano de Deus para nós, seguindo quiçá a dica de Neemias que assim escreveu: “Podem sair, comam e bebam do melhor que tiverem, e repartam com os que nada têm preparado. Este dia é consagrado ao nosso Senhor. Não se entristeçam, porque a alegria do Senhor os fortalecerá”. (Nee 8,10) Em Deus está a alegria que supera todas as tristezas da vida.

Recomeçar a semana lendo e relendo o texto que o Evangelho de Mateus nos pede para refletir e colocar na ordem do dia das nossas ações. A liturgia nos traz a narrativa de Mateus, colocando Jesus numa situação difícil e embaraçosa, mas o Mestre Galileu tira de letra. Uma mulher menstruada, toca o manto de Jesus. Lembrando que naquela época, a mulher com fluxo sanguíneo era considerada impura, assim como todas as pessoas que tocassem nela, conforme está descrito no Livro do Levítico: “Quando uma mulher tiver sua menstruação, ficará impura durante sete dias. Quem a tocar ficará impuro até à tarde”. (Lev 15,19). Ou: “Quando uma mulher tiver hemorragias frequentes, fora ou depois da menstruação, ficará impura como na menstruação, enquanto durarem as hemorragias”. (Lev 15,25) Ambos os textos tratando da questão sanguínea e suas consequências.

As mulheres em tal situação eram marginalizadas e banidas do convívio social. Elas não tinham vida social e nem poder algum. Viviam isoladas e sozinhas na sua condição de impuras, como eram consideradas. Esta era a consequência fatal para as mulheres que passavam por tais situações. A mulher enferma não tinha vida social, e não tinha poder. Ela era sozinha. Numa sociedade comunitária, ser banido da convivência social era uma terrível maldição. Para aquela sociedade patriarcal do tempo de Jesus, uma mulher isolada da sociedade, como conseguiria manter-se e sobreviver, longe de tudo e de todos, inclusive da própria família a qual fazia parte?

É esta condição que Jesus se depara, ao ser tocado por uma mulher impura: “Nisto, uma mulher que sofria de hemorragia, há doze anos, veio por trás dele e tocou a barra do seu manto. Ela pensava consigo: “Se eu conseguir ao menos tocar no manto dele, ficarei curada”. (Mt 9,20-21) Sensível que era, em meio aquela multidão toda, Jesus sente ser tocado por alguém diferente. Não é um toque qualquer, mas de uma mulher marginalizada e excluída, colocando em risco a reputação de Jesus, posto que a partir de então, Ele era uma ser impuro. Todavia, Jesus pouco se importa de ser taxado de impuro, pelos guardiões da moral daquela sociedade, conquanto aquela vida marginalizada que o tocou, precisava voltar a viver. Ou seja, a vida dela é muito mais importante que qualquer conceito de impureza mesquinha.

A fé viva em Jesus faz com que aquela mulher viole a Lei e seja curada. A fé que ela tinha dentro de si na pessoa de Jesus, a fez superar todos os conceitos e preconceitos marginais da sociedade patriarcal a que pertencia àquela mulher. E Jesus sente a vibração positiva de fé, vindo daquela mulher e se volta para ela, retirando-a do anonimato: “Coragem, filha! A tua fé te salvou”. (Mt 9,22) O texto diz que a partir daquele instante, a mulher ficou curada. Sim porque a missão de Jesus é trazer a vida de volta em sua totalidade às pessoas, não somente libertando-as da doença, mas devolvendo a dignidade perdida delas. Nesta mesma perspectiva de Jesus, a exclusão social por causa da doença não faz sentido algum, sobretudo no memento em que a pessoa mais necessita de carinho, afetos e cuidados. A exclusão social é uma chaga daquela sociedade, sustentada principalmente pelas autoridades religiosas, perdendo assim a razão de ser da religião, que não tem a vida das pessoas em primeiro plano.

Viva a vida! Este é o desejo de Deus para todos nós. A vida necessita de cuidados e estar em sintonia com Jesus é lutar pela vida de todos. Do mesmo modo aconteceu também com Jesus realizando a ressurreição da filha de Jairo. Jesus é o Senhor da vida! O Reino de Deus é vida. Ao passar pela experiência da morte, Jesus venceu a morte e todas as suas forças contrárias à vida. Em Jesus, Deus tem o poder sobre a morte e ela não prevalecerá, já que a vida triunfará. Sendo o Verbo encarnado, o Messias enviado, Jesus tem poder sobre a morte, pois Ele, com a sua ressurreição é o vencedor da morte e esta não tem a última palavra. A ressurreição é vida para Ele e para todos os que nele confiam e o seguem. Jesus é a certeza da ressurreição para todos os que nele acreditam. Viver é a arte de acreditar que a felicidade haveremos de encontrar, mesmo passando pelos momentos mais difíceis, onde as forças da morte insistem em querer nos derrotar. Em Jesus a esperança tem lugar, pois a vida está em primeiro lugar: “Quando a multidão foi afastada, Jesus entrou, tomou a menina pela mão, e ela se levantou”. (Mt 9,25)