Sábado da sétima semana do tempo comum. Amanheci com ele, salmodiando o dia que despontava no Araguaia. Fiz-me oração na companhia dele, de corpo ali sepulto, mas com o espírito vagando pelas entrelinhas do Reino, na companhia daquele que, em vida, testemunhava o Verbo, com amor incondicional. Rezar com ele é entrar em sintonia com as causas maiores, e saber que a vida continua, e que o testemunho tem que ser verdadeiro. Pedro continua sendo Pedro: provocativo, inquietante e martirial de espírito revolucionário pelo Reino.

Um sábado triste para todos e todas que ainda acreditam na vida como Dom maior de Deus. Dádiva maior da gratuidade de Deus se fazendo presença viva do espírito em nós. Vida dada, vida doada no mistério do fazer-se na concretude dos tempos. Vida que não pode ser ceifada por quem quer que seja, pois a ninguém lhe é dado o direito de tirar a vida do outro e dos outros seres que compõem a nossa existência. Nem na guerra, fabricada pelos interesses mesquinhos daqueles que se acham os donos do mundo. “Bem-aventurados os pacificadores, pois serão chamados filhos de Deus”. (Mt 6,9) Paz como meta e utopia do Reino.

Na guerra dos homens insanos e desequilibrados, tudo é possível. Os olhos da humanidade foram dormir com uma cena chocante na noite do dia de ontem. Numa das ruas da capital da Ucrânia (Kiev) um blindado de guerra da Rússia, passando literalmente por cima de um veiculo, onde estavam alguns civis, que tiveram seus corpos amassados. Uma cena sem necessidade alguma de acontecer daquela forma, pois o veiculo não ameaçava aquela imponente máquina de guerra. Os tripulantes daquela engenhoca, assumindo o espírito de seu mandatário maior. Tem razão o poeta chileno Pablo Neruda (1904-1973) quando diz: “Só um louco pode desejar guerras. A guerra destrói a própria lógica da existência humana”.

Um sábado infante e pueril para a lógica de Jesus. Na liturgia deste dia, Marcos traz para nós o relacionamento que Jesus tinha com as crianças (Mc 10,13-16). Uma lógica diferenciada deste contexto de guerra. Em apenas quatro versículos, Jesus é capaz de sintetizar a lógica do Reino de Deus. Um Reino que é como um Dom, dádiva, gratuidade, manifestando a amorosidade de um Deus que é pleno de ternura para os com seus. É Deus mesmo que toma a iniciativa e vem até nós, trazendo-nos este seu Reino, fazendo-o acontecer dentro da nossa lógica humana. Amorosidade que se faz em gestos concretos da presença d’Ele em nós e na nossa história. Reino que São Paulo assim o definiu: “O Reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, paz e alegria no Espírito Santo”. (Rom 14,17)

Reino que está ligado à criança, segundo a perspectiva de Jesus. No contexto de hoje, elas são trazidas à Ele, mesmo a contragosto de seus seguidores, que não queriam que elas perturbassem o seu Mestre. É sempre bom lembrar que, no tempo de Jesus, as crianças faziam parte do grupo dos marginalizados (excluídos), ao lado das mulheres, dos doentes, dos estrangeiros, dos cobradores de impostos, dos pagãos. Estes eram os “últimos” para aquela sociedade. Ao aproximar-se das crianças, Jesus as traz para o centro, devolvendo-lhes o protagonismo de sua importância, segundo a lógica de Deus. Uma sociedade que coloca as crianças como seres ultrajados, descartados, não pode ser uma sociedade do futuro. Além de acolhê-las e dar toda atenção a elas, Jesus define aqueles pequenos seres, como os destinatários primeiros do Reino. Não por causa da inocência delas, mas pela gratuidade de seus corações que se abrem, despojando completamente si mesmas. Além do mais, as crianças são mais dispostas do que os outros a deixar-se surpreender, a escutar e a confiar. A simplicidade que possuem as tornam capazes de escolher aquilo que é o essencial.

“Quem não receber o Reino de Deus como uma criança, não entrará nele”. (Mc 10,15) Reino como dom maior de Deus. Uma dádiva que nos é dada através da gratuidade de Deus para conosco. A criança servindo de exemplo do ser fraco, indefeso e sem muitas pretensões, ou qualquer tipo de ambição. Na concepção de Jesus, a criança simboliza todos os pobres marginalizados, que se esvaziam de si mesmos e estão prontos para acolher a proposta do Reino. O Reino de Deus passa necessariamente por elas. Com isso Jesus nos ensina a transitar pela lógica das crianças, antes que a nossa lógica de adultos as pervertam. Que elas façam escola em nossas vidas, para que na sua humildade, saibamos escolher o melhor para nós. Saibamos fazer como o cientista francês Louis Pasteur (1822-1895) no que diz: Quando vejo uma criança, ela inspira-me dois sentimentos: ternura, pelo que é, e respeito O Reino como Dom
(Chico Machado)

Sábado da sétima semana do tempo comum. Amanheci com ele, salmodiando o dia que despontava no Araguaia. Fiz-me oração na companhia dele, de corpo ali sepulto, mas com o espírito vagando pelas entrelinhas do Reino, na companhia daquele que, em vida, testemunhava o Verbo, com amor incondicional. Rezar com ele é entrar em sintonia com as causas maiores, e saber que a vida continua, e que o testemunho tem que ser verdadeiro. Pedro continua sendo Pedro: provocativo, inquietante e martirial de espírito revolucionário pelo Reino.

Um sábado triste para todos e todas que ainda acreditam na vida como Dom maior de Deus. Dádiva maior da gratuidade de Deus se fazendo presença viva do espírito em nós. Vida dada, vida doada no mistério do fazer-se na concretude dos tempos. Vida que não pode ser ceifada por quem quer que seja, pois a ninguém lhe é dado o direito de tirar a vida do outro e dos outros seres que compõem a nossa existência. Nem na guerra, fabricada pelos interesses mesquinhos daqueles que se acham os donos do mundo. “Bem-aventurados os pacificadores, pois serão chamados filhos de Deus”. (Mt 6,9) Paz como meta e utopia do Reino.

Francisco (Chico) Machado. Missionário e escritor.

Na guerra dos homens insanos e desequilibrados, tudo é possível. Os olhos da humanidade foram dormir com uma cena chocante na noite do dia de ontem. Numa das ruas da capital da Ucrânia (Kiev) um blindado de guerra da Rússia, passando literalmente por cima de um veiculo, onde estavam alguns civis, que tiveram seus corpos amassados. Uma cena sem necessidade alguma de acontecer daquela forma, pois o veiculo não ameaçava aquela imponente máquina de guerra. Os tripulantes daquela engenhoca, assumindo o espírito de seu mandatário maior. Tem razão o poeta chileno Pablo Neruda (1904-1973) quando diz: “Só um louco pode desejar guerras. A guerra destrói a própria lógica da existência humana”.

Um sábado infante e pueril para a lógica de Jesus. Na liturgia deste dia, Marcos traz para nós o relacionamento que Jesus tinha com as crianças (Mc 10,13-16). Uma lógica diferenciada deste contexto de guerra. Em apenas quatro versículos, Jesus é capaz de sintetizar a lógica do Reino de Deus. Um Reino que é como um Dom, dádiva, gratuidade, manifestando a amorosidade de um Deus que é pleno de ternura para os com seus. É Deus mesmo que toma a iniciativa e vem até nós, trazendo-nos este seu Reino, fazendo-o acontecer dentro da nossa lógica humana. Amorosidade que se faz em gestos concretos da presença d’Ele em nós e na nossa história. Reino que São Paulo assim o definiu: “O Reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, paz e alegria no Espírito Santo”. (Rom 14,17)

Reino que está ligado à criança, segundo a perspectiva de Jesus. No contexto de hoje, elas são trazidas à Ele, mesmo a contragosto de seus seguidores, que não queriam que elas perturbassem o seu Mestre. É sempre bom lembrar que, no tempo de Jesus, as crianças faziam parte do grupo dos marginalizados (excluídos), ao lado das mulheres, dos doentes, dos estrangeiros, dos cobradores de impostos, dos pagãos. Estes eram os “últimos” para aquela sociedade. Ao aproximar-se das crianças, Jesus as traz para o centro, devolvendo-lhes o protagonismo de sua importância, segundo a lógica de Deus. Uma sociedade que coloca as crianças como seres ultrajados, descartados, não pode ser uma sociedade do futuro. Além de acolhê-las e dar toda atenção a elas, Jesus define aqueles pequenos seres, como os destinatários primeiros do Reino. Não por causa da inocência delas, mas pela gratuidade de seus corações que se abrem, despojando completamente si mesmas. Além do mais, as crianças são mais dispostas do que os outros a deixar-se surpreender, a escutar e a confiar. A simplicidade que possuem as tornam capazes de escolher aquilo que é o essencial.

“Quem não receber o Reino de Deus como uma criança, não entrará nele”. (Mc 10,15) Reino como dom maior de Deus. Uma dádiva que nos é dada através da gratuidade de Deus para conosco. A criança servindo de exemplo do ser fraco, indefeso e sem muitas pretensões, ou qualquer tipo de ambição. Na concepção de Jesus, a criança simboliza todos os pobres marginalizados, que se esvaziam de si mesmos e estão prontos para acolher a proposta do Reino. O Reino de Deus passa necessariamente por elas. Com isso Jesus nos ensina a transitar pela lógica das crianças, antes que a nossa lógica de adultos as pervertam. Que elas façam escola em nossas vidas, para que na sua humildade, saibamos escolher o melhor para nós. Saibamos fazer como o cientista francês Louis Pasteur (1822-1895) no que diz: Quando vejo uma criança, ela inspira-me dois sentimentos: ternura, pelo que é, e respeito pelo que pode vir a ser”.pelo que pode vir a ser”.