Quinta feira da Décima Oitava Semana do Tempo Comum. Estamos fechando a primeira semana deste mês oito, com chave de ouro. Se por um lado, temos um texto bíblico que nos faz refletir sobre a nossa caminhada de fé, com as respostas que vamos dando ao longo de nossa vida, por outro, no dia de hoje, temos uma data extremamente positiva a ser comemorada, principalmente para as mulheres, que tem nesta lei, seus direitos assegurados. É que no dia 7 de agosto de 2006, estava sendo sancionada a Lei nº 11.340, ou mais precisamente, a Lei Maria da Penha. Uma lei brasileira que visa proteger mulheres vítimas de violência doméstica e familiar e que estabelece medidas de assistência e proteção às mulheres em situação de violência doméstica e familiar, conforme prevê o Art. 1º desta Lei.

Uma Lei sumamente importante na defesa do gênero feminino, diante de uma sociedade machista patriarcal, que ainda vê a mulher como propriedade do homem, cabendo a ele, se sobrepor à ela com toda a força de seu preconceito machista. É bom lembrar que o Brasil tem a quinta maior taxa de feminicídio no mundo, que é o homicídio praticado contra a mulher, por razões da condição do gênero feminino e, em decorrência da violência doméstica e familiar, ou por menosprezo ou discriminação à condição de mulher. O número de morte das mulheres chega a 4,8 para cada 100 mil mulheres, segundo a Organização Mundial da Saúde – OMS. Considerando ainda que o feminicídio é o assassinato de mulheres motivado por questão de gênero, muitas vezes provocado pela percepção da mulher como posse do companheiro.

O Brasil é tido como um dos países de maior concentração de cristãos do mundo. Daí advém as contradições da fé, pois, como podemos aceitar que algumas situações gravíssimas aconteçam em nosso território, considerando esta nossa herança de fé? Diante deste contexto, podemos observar que não basta ter fé. Esta fé precisa ser conjugada com ações coerentes, que estejam fundamentadas no Evangelho, superando assim as nossas incongruências. Dizer que tem fé e que segue os ensinamentos de Jesus, pressupõe um engajamento consciente nas causas provenientes deste seguimento d’Ele, fazendo nossas as suas causas, em defesa da vida e dos pequenos, pobres e marginalizados, excluídos (descartados) em nossa sociedade.

Contradições estas que também não faltaram na vida dos seguidores mais próximos de Jesus, os discípulos, chamados pessoalmente por Ele. É o que podemos ver no texto de Mateus, escolhido pela liturgia para a nossa reflexão no dia de hoje. Jesus ouvindo da boca de Pedro, uma das mais belas confissões de fé que aparece no Segundo Testamento; e, ao mesmo tempo, este mesmo Pedro, se tornando uma “pedra de tropeço”, por não querer aceitar que, para se chegar ao ápice da fé, precisa-se passar pelas provações, pelo sofrimento e pela entrega da própria vida, às causas do Reino. Pedro sendo Pedro nas suas contradições. Mesmo nas nossas contradições, Deus continua nos amando, porque Ele não ama as pessoas porque são boas, mas porque Ele é amor! Desta forma, ser amado por Ele, não depende do comportamento ou da resposta nossa de cada dia, mas da benevolência de sua amorosidade infinda, que se transforma em bondade que se dirige a cada pessoa sem excluir ninguém.

Mateus inicia o seu texto, relatando que Jesus está em Sesareia de Filipe com os seus discípulos. Cesareia estava situada ao pé do Monte Hermom. Numa das nascentes do rio Jordão. Era governada por Herodes Filipe, que construiu a cidade, em homenagem a César (seu imperador) e a si próprio; a cidade foi previamente chamada de Panias, e hoje é conhecida como Banias, assim como Cesareia de Filipe. Estando ali, Jesus faz um balanço de sua missão no meio do povão, querendo ouvir de seus discípulos, como este povo estava vendo a atuação d’Ele: “Quem dizem os homens ser o Filho do Homem? (Mt 16,13) A resposta dada pelos discípulos, demonstra que o povo não havia entendido ainda a missão de Jesus como o Messias enviado do Pai: . “Alguns dizem que é João Batista; outros que é Elias; Outros ainda, que é Jeremias ou algum dos profetas”.(Mt 16,14)

Todavia, Jesus devolve a pergunta, agora direcionada aos discípulos. Foi quando então Pedro faz a sua grande profissão de fé: “Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo”. (Mt 16,16) Informando a este que aquela sua resposta não era propriamente sua, Jesus diz a este grande homem, que a sua resposta era uma revelação do próprio Deus a ele. Jesus ainda transforma Pedro em uma bem-aventurança: “Feliz és tu, Simão, filho de Jonas, porque não foi um ser humano que te revelou isso, mas o meu Pai que está no céu”. (Mt 16,17) Pedro assim é estabelecido como o fundamento da comunidade que Jesus está organizando e que deverá continuar no futuro, concedendo a ele o exercício da autoridade sobre essa comunidade. Autoridade de ensinar e de excluir ou introduzir as pessoas nela.

A pergunta feita por Jesus aos seus discípulos continua sendo feita a cada um de nós nos dias de hoje. “Quem Sou Eu para você, que diz acreditar em mim?” Esta pergunta força-nos a fazer uma revisão profunda de tudo o que sabemos que Ele realizou no meio da humanidade. Toda a ação messiânica de Jesus foi no sentido de criar um mundo plenamente humano, onde tudo é de todos e repartido entre todos. Esse messianismo destrói a estrutura de uma sociedade injusta, onde há ricos à custa de pobres e poderosos à custa de fracos. Diante deste conhecimento, temos que fazer as nossas opções se, de fato, queremos ou não, fazer o seguimento deste Jesus. Se não fizermos desta forma, faremos como Pedro, que deixa de ser Pedro para ser Satanás, recebendo de Jesus a reprimenda: “Vai para longe, Satanás! Tu és para mim uma pedra de tropeço, porque não pensas as coisas de Deus, mas sim as coisas dos homens!” (Mt 16,23)