Sextou pela última vez no mês de agosto.

Francisco (Chico) Machado. Missionário e escritor.

Mais um final de semana se avizinha. Setembro está logo ali, apontando nas curvas da história. Atravessamos agosto revestidos e sob as ordens da resistência e da persistência, sem nos deixarmos levar pela desistência. Os que temos uma fé revolucionária, somos daqueles que acreditamos na mística libertadora de Jesus, que nos ajuda no esperançar, fazendo acontecer nas trilhas da história a proposta do Reino. Reino de Paz e, sobretudo, de justiça: “O Reino de Deus está no meio de nós” (Lc 20,21). No descortinar do Reino, a esperança vence o medo sempre!

Foi nesta perspectiva do Reino presente que iniciei o meu dia rezando as margens do Araguaia. “Araguaia, meu Araguaia de mistério e de temor”, como canta o nosso Hino da Prelazia de São Félix do Araguaia. O sol prenunciando um novo dia, acordando as águas do rio, cobrindo sua face com um manto dourado. A luz divina do astro rei, dissipando as trevas da escuridão da noite, permitindo-nos viver na primazia da luz. Inevitável não pensar numa das estrofes de um poema de Pedro que assim se manifesta: “Embora seja de noite, ainda, é necessário velar, não dormir, caminhar, e olhar atentamente para as estrelas, para ver e agradecer as muitas luzes que iluminam a escuridão. Embora seja de noite, podemos fazer dela uma noite clara como o dia.”

Noite e dia. Luzes e trevas. Escuridão e claridade. No livro da vida, estas são as paginas da nossa história que vamos escrevendo ao longo desta nossa jornada. A caneta está em nossas mãos, para que assim possamos escrever uma página de cada vez. Cada dia uma destas páginas é virada, com a chance de recomeçar. Nascemos livres e com o poder de decisão (livre arbítrio), para escrever a nossa história. Aqueles que agem movidos pela fé são orientados a caminhar no horizonte que Deus projetou para nós. Cabe, portanto, a cada um fazer as escolhas que julgar pertinentes. Lembrando que cada uma destas escolhas, são acompanhadas pelas consequências. Como está escrito no Livro do Deuteronômio: “Eu lhe propus a vida ou a morte, a bênção ou a maldição. Escolha, portanto, a vida, para que você e seus descendentes possam viver”. (Dt 30,19)

Nesta sexta feira celebramos uma data muito importante para a história de toda a civilização humana: Dia da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. No bojo da Revolução Francesa, datada de 1789, esta Declaração veio nos trazer os princípios básicos para a Democracia. Este documento nos ajuda a pensar de forma lúcida, pela primeira vez na história da humanidade, os ideais de liberdade, igualdade e direitos fundamentais inerentes à pessoa humana. Também no dia 26 de agosto, no Brasil, celebramos o Dia Internacional da Igualdade Feminina. Data esta que desde o ano de 1973, lembramos da conquista do voto feminino das mulheres brasileiras que somente puderam votar a partir do Código Eleitoral de 1932. Uma grande conquista, sem dúvida, mas outras ainda faltam ser conquistadas, dentre elas, a igualdade de representatividade feminina no parlamento brasileiro.

Tais comemorações nos ajudam a não caminhar nas trevas da ignorância. Conhecimento é mais do que uma simples informação. Conhecer para transformar a realidade. Quem não conhece vive na escuridão da ignorância. O conhecimento é a ferramenta com a qual vamos transformando a realidade. Ignorar é deixar de conhecer, seja por estupidez ou mesmo pela opção dos alienados covardes que não desejam a transformação. Para estes cabe bem uma das frases ditas pelo Físico italiano Galileu Galilei (1564-1642): “Nunca encontrei uma pessoa tão ignorante que não pudesse ter aprendido algo com a sua ignorância”. Sabedoria para superar as trevas da ignorância do não conhecer.

Aquele que conhece, caminha sob luz do dia. É partícipe do Reino do qual anunciou Jesus, através de sua prédica e prática. No texto que a liturgia nos oferece nesta sexta feira, mais uma vez, Ele sinaliza de como será o Reino de Deus (dos deus) : “O Reino dos Céus é como a história das dez jovens que pegaram suas lâmpadas de óleo e saíram ao encontro do noivo. Cinco delas eram imprevidentes, e as outras cinco eram previdentes”. (Mt 25,1-2) Ser previdente é estar preparado e com a luz de sua vida acesa a espera do grande encontro. A luz é o conhecimento da verdade, da justiça e do amor contidos no Planos de Deus, anunciados pelo Mestre Galileu. Conhecer a verdade na caminhada da comunidade dos irmãos e irmãs que juntos caminham na mesma direção. Conhecer e praticar os ensinamentos, edificando o Reino de Deus entre nós. Somente através do conhecimento alcançaremos a luz plena e nos distanciaremos das trevas da ignorância. Se não for desta foram, Ele nos dirá: “Não vos conheço!”(Mt 25, 12)