Falou mais Deus a Moisés, e disse: Eu sou YHVH.  E eu apareci a Abraão, a Isaque, e a Jacó, como o Deus Todo-Poderoso (ELOHIM); mas pelo meu nome, YHVH, não lhes fui perfeitamente conhecido.
Êxodo 6:2,3

O termo  ELOHIM no primeiro livro do AT, se refere a Deus enquanto característica percebida pelo homem como o Todo-Poderoso. Embora o nome próprio de Deus não seja esse, mas sim, o Tetragrama YHVH, no relato bíblico da Criação – o primeiro capítulo de Gênesis -, Elohim é o único nome que a Torá usa para Deus. Nesse capítulo, o nome Elohim aparece mais de 30 vezes referindo-se a Deus Todo-Poderoso: É o segundo nome mais usado para Deus.

O sentido habitual da palavra Elohim quando o termo se refere a Deus não é “Deus”, mas sim, “poderoso”. É um nome que enfatiza o imenso poder de Deus. Elohim deve ser compreendido como um adjetivo, e não como um substantivo. Não é o nome próprio de Deus, mas Seu atributo. O Antigo Testamento chama Deus de Elohim da mesma forma que, em português, nos referimos a Ele como “Todo-Poderoso”.

Essa aparente confusão inicial do livro de Gênesis mostra o início da revelação desse Deus ao povo de Israel, que é fartamente descrito como o Deus de nossos antepassados. Deus se revela a Abrahão, Isaac e Jacó como ‘El Shadai’ . Mas embora essa “confusão” de nomes, trate do mesmo Deus, Na verdade as diversas percepções vão se fundindo e vai se tornando YHVH o famoso tetragrama revelado pelo próprio Deus a Moisés. Mas, ao contrário do que acontecera até então, é Moisés que tem a iniciativa e curiosidade de perguntar qual seu nome. Nos demais relatos anteriores, a iniciativa de se nominar e se apresentar vem de Deus.

Há uma distância de (muito aproximadamente) 500 anos entre a primeira revelação a Abrahão e a revelação a Moisés. As épocas são diferentes e o momento histórico também. Moises é convocado para libertar um povo que já existe como povo de Deus, revelado e feito aliança desde o pai Abrahão.  Ao ser chamado para libertar o povo de Israel do jugo e do peso do Faraó é que vem a pergunta deste a Deus: “(…)Porém, Moisés acrescentou: “Quando eu for aos filhos de Israel e comunicar: ‘O Deus de vossos pais me enviou até vós’ e me questionarem: ‘Qual é o seu Nome?’ – que deverei dizer?”  Pode causar estranheza essa pergunta. Afinal, para o povo que iria ser liberto, o nome de Deus já era conhecido e era a causa de serem uma nação; Sempre relembrado em cantos e orações, como o” Deus de nossos pais, Abrahão, Isaac e Jacó”.

A cada um deles esse mesmo Deus se lhes tinha revelado: Abrahão fez seu servo Eliezer jurar em nome de YHVH que buscaria uma mulher para seu filho Isaac. Ao sonhar com a escada de Jacó , que ia do céu a terra, Deus se revela a Jacó: “ Eu sou teu Deus YHVH, Deus de teu pai Isaac e de teu avo Abrahão”….Portanto, por que a PERGUNTA DE Moisés? Se dentre os hebreus escravizados no Egito esse nome já era conhecido?

O temor de Moisés, ou um dos muitos temores, era que o povo não acreditasse que o próprio Deus o tinha enviado para libertá-los. Não seria mais fácil de convencê-los se dissesse que quem o enviou foi o “Senhor dos Exércitos”? Mas ao se apresentar como enviado de YHVH, o Deus de seus antepassados, o seu Deus e o meu Deus, como um dia a moabita Ruth diria a sua sogra Naomi, o povo iria acreditar. E iriam ter a esperança de que aquele Deus que eles transmitiam de geração em geração, viu a miséria e o sofrimento do povo e iria libertá-los depois de séculos de escravidão.

Esse Deus que acorre o povo e se comove com seu sofrimento, se apresenta no êxodo mais do que “apenas” todo poderoso, mas como um Deus criador, preocupado com a sua criatura, que a ouve em seus lamentos e aflições e se coloca na frente deles para libertá-los e revelar seu nome.  Mas sem deixar de ser Deus, ele se mostra ao homem como Aquele que lhe provê de coragem para enfrentar uma missão.

Moisés percebeu estar muito aquém de sua capacidade essa tarefa. Reluta, argumenta com Deus, alega a sua incapacidade para tal … Se amedronta com a ideia de enfrentar o Faraó. Mas percebendo a humanidade fraca de Moisés, Deus lembra a Moises: EU SOU YHVH, teu Deus!

Eu sou YHVH, teu Deus, O Deus da bondade, da misericórdia, que entende e acolhe, que se coloca a caminho e ao lado da pessoa dando-lhe coragem para enfrentar o que vem pela frente. Seja o que for.

A partir desse momento, da união de Deus com o ser humano, que o verdadeiro Deus se revela. E é a partir dessa união é que a vida ganha sentido.

 

o  Teólogo Sérgio Alejandro Ribaric. Ms., Dr. e Professor no ITESP e na Faculdade de Teologia São Bento