Terça feira da Décima Segunda Semana do Tempo Comum. O tempo é Comum, mas o dia nem tanto. Isto porque no dia 24 de junho, a Liturgia Católica nos traz a Solenidade da Natividade de São João Batista. Um dos santos mais populares das festas juninas. Enquanto os demais santos são comemorados no dia de sua morte, João é comemorado duas vezes: no nascimento e no seu martírio, celebrado em 29 de agosto. Lembrando que sua morte ocorreu no ano 27 d.C., decapitado a mando do terrível Herodes. João era um crítico contumaz à politica deste governante e, temendo uma revolta popular, tendo João como líder, tratou de eliminá-lo, conforme os Evangelhos de Marcos 6,14-29 e Lucas 9,7-9. A morte de João acontece dentro de um banquete de poderosos. Assim, o profeta que pregava o início de transformação radical é morto por aqueles que se sentem incomodados com essa transformação.

João Batista era filho de Isabel e Zacarias. Nasceu na Judeia no ano 2 a.C., e se tornou popular. Vivendo como um nômade e pregando no deserto, cativando as pessoas para se batizarem. Ele era o Precursor, ou seja, veio preparar os caminhos de Jesus, fechando assim o ciclo, como último profeta do Antigo Testamento e abrindo as portas para a chegada de Jesus de Nazaré, inaugurando a Nova Aliança, já prometida por Deus desde muito antes. Joao tinha conhecimento de sua missão de não ser ele o Messias, mas aquele que veio antes preparando o povo de Israel para acolher o Messias, o Senhor, o Salvador, há séculos esperado. Ele pregava um batismo de conversão para o perdão dos pecados. Sua humildade determinava a sua consciência de que não era o Messias. Tanto que dizia: “Depois de mim virá alguém mais forte do que eu. Eu nem sou digno de me abaixar para desamarrar suas sandálias. Eu vos batizei com água, mas ele vos batizará com o Espírito Santo” (Mc 1,7-8).

Um santo bastante popular no Nordeste brasileiro e também nas minhas Minas Gerais. Cresci vendo a minha mãe alimentando em nós esta devoção à São João. Em nossa casa podia faltar algo, menos a fogueira de São João e o hasteamento do mastro. Numerosos filhos que éramos, rezávamos todos ali, em família, em torno da bandeira, as orações puxadas pela minha mãe. Era um momento de grande alegria para todos nós, que acolhíamos todos os visitantes, com intenso fervor. Minha infância foi marcada por estes momentos, que permanecem vivos na memória. É como se, no dia de hoje, visse a minha mãe, ali com todos nós rodeados a sua volta. Só gratidão pelo tempo que se foi, mas permanece vivo aqui no cantinho da memória, fazendo coro ao pensamento de um dos discípulos de Sócrates: “A gratidão é a memória do coração”. (Antístenes – 445 .a.C, – 365 a.C.)

A liturgia desta terça feira chama a nossa atenção para o berço em que nasceu este grande Profeta Precursor. Filho de um casal já avançado na idade: Isabel e Zacarias. Ela, uma mulher estéril. Isso significava naquela época, uma pessoa amaldiçoada por Deus. A esterilidade era algo que incomodava muito as mulheres nos tempos bíblicos; pois numa sociedade tribal, o número de filhos era em primeiro lugar uma garantia de continuidade da família, além de mão de obra no sustento da casa. Zacarias era um sacerdote da oitava classe, ou seja, a de Abias, uma das 24 estabelecidas por Davi, prestando seus serviços semanais no Templo. Era uma família sacerdotal, já que Isabel também era descendente de família sacerdotal, e se estabeleceu em Ain Karin. É exatamente este casal que Deus escolhe para ser os pais de João Batista.

Os nomes bíblicos tinham um significado muito especial, refletindo o caráter ou o destino da pessoa. Era a missão que a pessoa haveria de desenvolver em vida. O nome João quer dizer Deus tem piedade. É o sinal que evidencia o projeto de Deus sobre a criança e sua missão. Em vários casos narrados no contexto bíblico, Deus alterou o nome de uma pessoa para simbolizar uma mudança especifica de sua missão ou de uma nova identidade. É o caso de João, que passa a ser o Batista. Assim João Batista significa “João Batizador”, João, aquele batiza. Nisto consiste um aspecto da missão de João: ser Precursor do Messias batizando um batismo de penitência e conversão.

A mão de Deus estava presente na vida daquele casal escolhido para fazer parte do projeto libertador da humanidade. De onde não se podia esperar nada, por se tratar de um casal de idosos e sem possibilidade de gestar uma nova vida, Deus faz nascer a esperança. Isto para espanto de todos ali a sua volta: “E todos os que ouviam a notícia, ficavam pensando: O que virá a ser este menino? De fato, a mão do Senhor estava com ele. E o menino crescia e se fortalecia em espírito”. (Lc 1,66.80) Quem sempre acredita, sabe que Deus age em nossas vidas. A esperança faz parte do sonho de Deus e quem não vive este esperançamento, corre o risco de deixar se perder em suas frustrações, perante os desafios da vida. Isabel e Zacarias acreditaram e se fizeram porta vozes do sonho de esperança de Deus. Nunca deixarmos ser dominados pelo medo é um dos presságios de quem vive e acredita na esperança. Bem que nosso bispo Pedro já nos dizia: “O contrário da fé não é a dúvida: é o medo. E não se pode ter medo do medo!”