Francisco (Chico) Machado. Missionário e escritor.

Segunda feira da sexta semana do tempo pascal.

Devagar o mês de maio caminha para entregar os dias ao mês de junho. Iniciamos uma semana importante, pois estamos nos preparando para o grande dia que virá. Neste próximo domingo já estaremos celebrando a solenidade da Ascensão do Senhor. No domingo subseqüente, aportaremos em Pentecostes. O grande dia da chegada do Espírito Santo de Deus aos seguidores primeiros de Jesus de Nazaré. Com esta celebração, também nós nos sentimos agraciados com o Espírito Santo em nós, guiando nossos passos no seguimento d’Ele. Seguir testemunhando como desafio maior.

Iniciamos a semana com a temperatura mais amena pelas bandas de cá. Diferente da semana anterior, em que vimos várias notícias com o frio castigando as populações mais vulneráveis das pessoas em situação de rua. As baixas temperaturas provocando a hipotermia nas pessoas, que é quando a temperatura do corpo se encontra abaixo dos 35 graus e o organismo humano, pára de realizar as funções metabólicas, ocasionando a morte. Em São Paulo vimos um gesto “jesuânico” acontecer quando, em parceria com a Pastoral do Povo de Rua, a Igreja Mãe da cidade, a Catedral da Sé, abriu suas portas para abrigar os irmãos e irmãs em situação de vulnerabilidade. Pelo menos não deixaram o padre Júlio Lancellotti e sua equipe sozinhos nesta difícil tarefa. Aliás, tem feito ele uma campanha para que as igrejas abram as suas portas para receber as pessoas em situação de rua, neste período.

Uma Igreja em Saída. Esta tem sido também a preocupação do Papa Francisco, no sentido de fazer-se Igreja para além do espaço dos templos. Ser Igreja onde o povo empobrecido e marginalizado está. Grande desafio para uma Igreja que se acomodou e procura viver a fé, apostando num cristianismo institucionalizado de forma hierárquica e burocratizante, dando ênfase à manutenção dos templos frios de celebrações alienantes, sem aproximação alguma com a vida do povo sofrido e castigado pela marginalização econômica e social. O frio está matando as pessoas nas ruas, enquanto as celebrações alienantes, calorosas de fervores vazios de comprometimento, acontecem nos átrios “sagrados” dos templos.

E assim seguimos nós nas trilhas desafiantes da história. Se no dia de ontem o enfoque principal dado por Jesus com os seus era a prática exaustiva do amor incondicional, hoje Ele nos provoca para a necessidade de sermos suas testemunhas. O testemunho passa a ser a palavra chave no seguimento de Jesus: “E vós também dareis testemunho, porque estais comigo desde o começo”. (Jo 15,27). Somos testemunhas do Ressuscitado. Dar testemunho é fazer da própria vida uma entrega confiante ao Projeto de Deus revelado por Jesus. Somos assim testemunhas da “Testemunha Fiel”.
O Cristo Ressuscitado se faz presente na nossa vida, ao ponto de sermos “cristificados” com Ele, onde cada passo dado, se faz no caminho de encontro dos marginalizados.

Sereis minhas testemunhas. Jesus nos faz vislumbrar a utopia do Reino. No Reino, vemos acontecer o sonho de Deus para nós. Já não se trata mais de uma sociedade organizada na desigualdade, na injustiça e na marginalização social dos pequenos. Ser testemunhas do Ressuscitado é lutar na construção deste Reino, combatendo todas as mazelas daqueles que arquitetam a morte dos pequenos. Anunciar o Reino e combater o anti-Reino. Estas duas realidades distintas são incompatíveis. Não dá para ser testemunha de Jesus e defender aqueles que estão do outro lado, patrocinando a desigualdade e a morte dos pequenos. Testemunhas do amor fiel de Jesus para com os seus. Somos do discipulado do amor. Somos partidários da vida e vida em abundância. Não estamos sós nesta tarefa: “O Espírito Santo descerá sobre vocês, e dele receberão força para serem as minhas testemunhas”. (At 1,8) Recebendo o mesmo Espírito que guiou toda a missão de Jesus, estaremos preparados para testemunhar Jesus, continuando o que ele começou a fazer e ensinar.

Jesus que prepara os seus para a missão futura. Somos também preparados para repetir no presente a missão de instaurar o Reino. Somos da/pela utopia do Reino. Como dizia o nosso bispo Pedro: “A UTOPIA é possível. Se nós optamos por ela, vencendo o passado escravo. Forjando o duro presente, forçando o novo amanhã”. Tudo isso em meio a perseguição. Como Jesus também foi perseguido. Os que aderirmos ao projeto de Jesus viveremos debaixo da suspeita e da pressão. Cada passo dado nesta direção será acompanhado pela perseguição daqueles que vivem na direção contrária. O confronto se estabelece porque os partidários do “mundo” não aceitam o Deus de Jesus, que denuncia a perversidade da sociedade injusta e liberta o povo oprimido. “Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar”. (Eduardo Galeano)

 

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