Segunda feira da Décima Segunda Semana do Tempo Comum. 23 de junho, Véspera da festa de São João Batista. A solenidade deste santo é celebrada no dia em que aconteceu o seu nascimento. Aliás, ele e Maria de Nazaré, são os únicos a serem lembrados no seu aniversário natalício pelo lecionário litúrgico. Iniciando a semana buscando forças e energias para que a esperança possa triunfar em nossas ações, neste clima de entristecimento, motivado pelo genocídio de pessoas inocentes nas praças de guerra mundo afora. Alguns de nós se esquecem, de que somos todos obra e criação de Deus, conforme São Paulo atesta em uma de suas cartas: “Somos criação de Deus realizada em Cristo Jesus para fazermos boas obras, as quais Deus preparou antes para nós as praticarmos”. (Ef 2,10)
É o amor que gera doação e comunhão, através das obras que continuam a ação de Jesus Cristo, realizando o projeto de Deus na perspectiva da construção do Reino de Deus entre nós. Como seguidores e seguidoras de Jesus, temos este desafio de ser a continuação d’Ele num outro mundo possível, já que, como ele mesmo disse: “Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para condenar o mundo, e sim para que o mundo seja salvo por meio dele”. (Jo 3,17) Neste sentido, a graça de Deus já foi dada à todas às pessoas, mediante o testemunho de Jesus Cristo. Somos novas criaturas que buscam um sentido novo para o nosso existir, em comunhão com todos os nossos irmãos. É desta forma que devemos iniciar esta semana, acreditando sempre em nós, no irmão que caminha ao lado, e no Deus criador de todos nós. “De esperança em esperança”, como dizia Dom Paulo Evaristo Arns.
Acreditar na vida nova que Deus projetou para todos nós. A mística da caminhada é que sustenta as nossas lutas e não nos deixa desanimar. Não uma mística que nos aliena, tendo uma experiência de fé acomodada e fundamentada apenas em gestos devocionais. É no abraçar das causas dos pequenos, pobres e marginalizados, que vamos testemunhando o Ressuscitado no meio de nós. Quem se contenta apenas em cumprir, normas, preceitos e dogmas fundamentalistas, perde a chance de caminhar com Jesus, sendo um seguidor seu nos desafios que a vida nos reserva, através de uma mística encarnada. Nosso bispo Pedro nos ensinou em vida que é a nossa espiritualidade que determina o nosso ser de fé, ao afirmar sobre si mesmo: “Eu sou a minha espiritualidade, eu não tenho espiritualidade. Sou a espiritualidade. Porque minha espiritualidade é toda minha vida: o que eu sou, o que eu faço, o que eu suporto, o que eu conquisto, o que eu anseio, a minha esperança”.
Pensando assim, vemos que o texto que a liturgia reserva para a nossa reflexão hoje muito nos ajuda a definir esta nossa espiritualidade. No Evangelho de Mateus de hoje, Jesus está advertindo seus discípulos sobre a forma de julgar as pessoas: “Não julgueis, e não sereis julgados. Pois, vós sereis julgados com o mesmo julgamento com que julgardes; e sereis medidos, com a mesma medida com que medirdes”. (Mt 7,1-2) A forma como julgarmos as pessoas, seremos igualmente julgados por elas. A mesma medida. “A medida do amor é amar sem medida”, uma das frases mais assertivas sobre a medida do amor que devemos ter. Frase que alguns atribuem a Santo Agostinho e outros a São Bernardo. Somos o amor que trazemos em nós e, a medida dele, está na nossa capacidade de estendê-lo além-fronteiras de uma sociedade marcada por mesquinharias, indiferenças e preconceitos.
A força do amor está na gratuidade de quem se dá por inteiro. Não são as palavras que determinam a força deste amor, mas as ações concretas que brotam de um coração que se arde em chamas por amar. “Um coração feliz é o resultado inevitável de um coração ardente de amor”, costumava dizer-nos aquela que ardeu de amor pelos mais pobres, a nossa querida Madre Teresa de Calcutá. Deus não quer que nos percamos em nossas medidas hipócritas, do nosso jeito de amar. Foi pensando assim que Deus manifestou todo o seu amor através de Jesus, para salvar e dar a vida a todos nós. Foi por muito nos amar que Jesus, com a sua presença que tornou incômoda, colocando o mundo em julgamento, provocando divisão e conflito, e exigindo decisão. De um lado, os que acreditam em Jesus e vivem o amor, continuando a palavra e a ação d’Ele em favor da vida. De outro, os que não acreditam n’Ele e não vivem o amor, mas permanecem fechados em seus próprios interesses e egoísmo, que geram opressão e exploração.
A medida do amor é a medida que nos aproxima ou nos afasta do projeto libertador de Jesus. No ensinamento d’Ele hoje aprendemos que Deus nos julga com a mesma medida que usamos para com as demais pessoas. O rigorismo de nosso julgamento para com o outro (cisco), mostra que desconhecemos a nossa própria fraqueza, fragilidade e limitações. Quando faço isso em nome da minha religião, me julgando superior ao outro de outra religião, ou de nenhuma delas, a coisa se complica ainda mais. O ensinamento maior de Jesus para o dia hoje é de sabermos que, diante de Deus, somos todos e todas, pecadores e pecadoras: “Hipócrita, tira primeiro a trave do teu próprio olho, e então enxergarás bem para tirar o cisco do olho do teu irmão”. (Mt 7,5) É a hipocrisia que nos apequena diante da grandeza que podemos ser, no seguimento de Jesus de Nazaré.
Comentários