Sábado da Vigésima Semana do Tempo Comum. Um sábado em que reinava a paz as margens do Araguaia. O dia vindo surgindo, com o astro rei, atravessando as fronteiras, iluminando com os seus raios, o túmulo do profeta. Nesta época do ano o pequizeiro, homenageia o nosso pastor, despejando com vontade as suas flores brancas sobre o túmulo do poeta. Uma cena bucólica, irradiando uma energia que transcende aquele espaço, promovendo uma mística própria de Pedro. Sempre que posso, estou ali aos sábados, para beber desta espiritualidade, fazendo reacender em mim a “Paz Inquieta”, que o bispo Pedro traduzia assim em versos: “Dá-nos, Senhor, aquela PAZ inquieta, que denuncia a PAZ dos cemitérios e a PAZ dos lucros fartos. Dá-nos a PAZ que luta pela PAZ! A PAZ que nos sacode com a urgência do Reino…” (A Paz inquieta – Pedro Casaldáliga)
Paz de que falava o profeta Isaías com muita propriedade: “O efeito da justiça será paz, e o fruto da justiça será repouso e segurança, para sempre”. (Is 32,17) A verdadeira paz não se baseia apenas na ausência de conflitos, mas sim na presença permanente da justiça, que garante o direito, a dignidade humana e o bem-estar das pessoas, pois quando a justiça é garantida e assegurada, ela cria as condições necessárias para que a paz floresça e se mantenha. Esta ideia do profeta Isaías é reforçada pelo apostolo Tiago que assim descreve: “o fruto da justiça semeia-se na paz, para os que exercitam a paz”. Ou seja, um dos Doze Apóstolos, filho de Zebedeu e irmão de João, descreve a ligação entre a justiça e a paz, indicando que aqueles que promovem a paz (os pacificadores) plantam as sementes da justiça, colhendo os seus frutos através das ações que promovem a harmonia.
“PAZ inquieta, que não nos deixa em PAZ!” É assim que devemos ser, neste mundo marcado pelos conflitos, onde o ódio, a falsidade e a mentira, tomam conta do coração e das atitudes das pessoas. Para os seguidores de Jesus, esta não deve ser a lógica da convivência humana, pois somos chamados a construir o Reino de justiça, paz, igualdade e fraternidade, onde somos convidados a sentar-nos na mesa da partilha do pão, dos dons e serviços. É assim que o texto da liturgia deste sábado nos provoca a levar adiante o projeto libertador de Deus, anunciado por Jesus. Justamente neste sábado em que estamos celebrando a festa da padroeira da América Latina: Santa Rosa de Lima (1586-1617). Nascida em Lima, no Peru, foi a primeira mulher a ser canonizada na América. Ela é Padroeira do Peru, da América Latina, das Índias e das Filipinas. É também invocada como protetora dos floricultores e jardineiros. Foi canonizada em 1671, pelo Papa Clemente IX.
“O dom da graça aumenta à medida que a luta aumenta. Se os homens soubessem o que é viver em graça, não se assustariam com nenhum sofrimento, porque a graça é fruto da paciência”, afirmava Santa Rosa. É nesta perspectiva que vamos trilhando os caminhos da história, ainda mais tendo como referência o que Jesus diz no dia de hoje, através do Evangelho de Mateus: Jesus comparando o Reino dos Céus com um tesouro escondido e também com pérolas preciosas. Não nos esqueçamos de que estamos no capitulo 13 deste evangelho, onde este autor concentra as parábolas contadas por Jesus: o Semeador (Mt 13,1-23); o Joio e o Trigo (Mt 13,24-30, 36-43); o Grão de Mostarda e o Fermento (Mt 13,31-33); o Tesouro Escondido e a Pérola (Mt 13,44-46) e a Rede (Mt 13,47-50) As parábolas são narrativas curtas e alegóricas usadas por Jesus para ensinar as verdades sobre o Reino de Deus.
Mateus é o único dos evangelistas que usa a expressão “Reino dos Céus” com frequência, enfatizando a dimensão celestial do Reino. Como ele escreve o seu Evangelho destinado aos judeus convertidos ao cristianismo, ele evita a expressão “Reino de Deus”. Sua preocupação primeira é apresentar Jesus como Aquele que veio cumprir as profecias do Antigo Testamento, especialmente aquelas relacionadas ao Messias, o Filho de Deus enviado. E este Jesus, do qual fala Mateus, está ensinando a multidão em forma de uma linguagem mais simples, para que este povo compreenda melhor do que se trata o Reino dos Céus.
Segundo estes ensinamentos de Jesus, para entrar no Reino é necessário fazer a adesão por Ele e promover em nós uma abertura e uma decisão total pelo Reino. Precisamos sair de nós mesmos e ir ao encontro deste Messias, fazendo o seguimento de seus passos, construindo no aqui e agora da história, o Reino desejado por Deus para os seus. Para tanto, não podemos nos apegar às seguranças, mesmo que religiosas, dedicando mais à prática de cultos, normas e regras, que a prática da justiça que promove a paz. Reino de justiça e de paz, como descreveu nosso bispo Pedro, no final de seu poema já citado acima: “A PAZ do pão da fome de justiça. A PAZ da liberdade conquistada. A PAZ que se faz ‘nossa’ sem cercas nem fronteiras. Que é tanto ‘Shalom’ como ‘Salam’, Perdão, retorno, abraço…” Que nossa padroeira nos abençoe e interceda a Deus pela nossa América Latina, para que vençamos a crueldade dos “Demônios do Norte!”
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