21º Domingo do Tempo Comum. Como estamos no mês das vocações, neste quarto domingo, celebramos a Vocação dos Leigos. Já celebramos os Ministérios Ordenados, Sacerdotal e Diaconal, no primeiro domingo; a vocação Matrimonial e da Família, Dia dos Pais, no segundo domingo; a Vida Religiosa Consagrada, no terceiro domingo. Hoje, celebramos a Vocação Leiga. Como este mês tem o quinto domingo, celebraremos ali o Dia do Catequista. Lembrando que, para a Igreja Católica, a vocação é um chamado que cada e cada uma recebe de Deus, para exercer a sua missão na caminhada de fé. A palavra vem do latim “vocare” (chamar). Pelo Batismo, cada um e cada uma de nós, somos chamados, para estarmos em sintonia com o magistério da Igreja, levando adiante a proposta do Reino anunciado por Jesus de Nazaré.

Como estamos no Ano Litúrgico C, o Evangelho proposto para a nossa reflexão é o de Lucas. Como é específico deste evangelista, ele nos apresenta o caminho de Jesus, como caminho que se realiza dentro da história humana. E, para percorrer este caminho, Deus se faz humano na pessoa de Jesus de Nazaré, trazendo para dentro da história humana o projeto de salvação que Deus tinha revelado, conforme a promessa feita no Primeiro Testamento. Desta forma, no caminho de Jesus inicia o processo de libertação na história, inaugurando uma nova história: a história dos pobres e oprimidos que são libertos para usufruírem a vida dentro de novas relações entre as pessoas. Resumidamente, o programa da ação libertadora de Jesus é apresentado no seu discurso na sinagoga de Nazaré, que o evangelista regista no início de seu Evangelho (Lc 4,16-22).

Neste domingo, somos convidados a refletir sobre este caminho de Jesus. O percurso hoje desenvolvido por Jesus e seus discípulos, é o de Jerusalém. Ele sabe, de antemão, o que ocorrerá ali. Esta cidade é o ponto de chegada de seu caminho. Ali Ele vai morrer, ressuscitar e subir ao céu, concluindo a sua missão. Jerusalém também o ponto de partida do caminho de seus seguidores e seguidoras, que vão dar continuidade à missão d’Ele, até os confins da terra, como está registrado na segunda obra de Lucas, que é o Livro dos Atos dos Apóstolos: “O Espírito Santo descerá sobre vocês, e dele receberão força para serem as minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judéia e Samaria, e até os extremos da terra”. (At 1,8). Quem segue Jesus, tem a tarefa de testemunhá-lo, continuando o que Ele começou a fazer e ensinar.

Diante deste contexto, a perícope Lucana de hoje começa com uma pergunta bastante interessante, feita por alguém a Jesus: “Senhor, é verdade que são poucos os que se salvam?” (Lc 13,23) Portanto, a temática central do texto de hoje é a questão da “salvação”, nem sempre entendida por grande parte das pessoas que, pelo simples fato de participar da vida da Igreja, estão automaticamente salvas e as outras pessoas de fora, condenadas. Aliás, houve um tempo na história da Igreja, que surge uma frase bastante forte: “fora da Igreja não há salvação” (em latim, Extra Ecclesiam nulla salus). Trata-se de uma máxima teológica que significa que a salvação vem de Cristo através da Igreja, que é o Seu Corpo. Esta frase tem origem nos escritos de São Cipriano de Cartago, um bispo e mártir do século III, que afirmou que “quem não tem a Igreja por Mãe não pode ter Deus por Pai”.

Segundo esta concepção, hoje superada, somente se salvava quem estivesse dentro da Igreja, como membro participante de sua dinâmica eclesial. Fundamentado no Evangelho de hoje, podemos dizer que esta frase está completamente equivocada, sobretudo pela conclusão que Lucas nos traz hoje, com a afirmação direta de Jesus: “há últimos que serão primeiros, e primeiros que serão últimos”. (Lc 13,30) A salvação não está restrita aos que tem fé e estão dentro da Igreja. Este contexto me faz-me lembrar de uma conversa de nosso bispo Pedro, com um amigo meu ateu, cujo sonho dele era conhecer o nosso profeta. Pedro disse ao meu amigo: “o Deus que você não acredita, eu também não acredito”. Há pessoas que, sem conhecer o Evangelho, procuram Deus com sinceridade e cumprem a Sua vontade conforme a sua consciência, alcançando assim a salvação.

A salvação é universal, ou seja, está aberta para todos e todas, e não somente para aqueles e aquelas que conhecem a Jesus. Entretanto, para alcançá-la, é necessário entrar pela porta estreita, isto é, escolher o caminho de vida que cria a nova história. A porta estreita é a prática da justiça. Um caminho difícil, que projeta para além de uma prática de fé, circunscrita ao espaço do templo, em infindáveis adorações, ou que reduz ao cumprimento de normas, dogmas e preceitos religiosos. Entrar pela porta estreita, praticando a justiça, pois como afirma o salmista: “Deus é justo e amante da justiça”. (Sl 11,7) Praticar a justiça que vem de Deus como Jesus nos adverte: “Não pratiquem a justiça de vocês diante dos homens, só para serem elogiados por eles. Fazendo assim, vocês não terão a recompensa do Pai de vocês que está no céu”. (Mt 6,1) A condição é entrar pela porta estreita, praticando a justiça na vivência concreta da fé: “Feliz quem observa o direito e pratica a justiça em todo o tempo!” (Sl 106,3)