23º Domingo do Tempo Comum. Neste dia 7 de setembro, a Igreja no Brasil celebra o Grito dos Excluídos e Excluídas. O primeiro Grito dos Excluídos ocorreu em 7 de setembro de 1995, tendo como lema “A vida em primeiro lugar”. O movimento surgiu da inspiração da 2ª Semana Social Brasileira da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e tornou-se uma mobilização permanente, apoiada pela CNBB a partir de 1996. Já estamos, portanto, na 31ª edição deste evento importante para a nossa caminha de Igreja. A edição de 2025 tem como lema: “Cuidar da Casa Comum e da Democracia é luta de todo dia”. De acordo com a organização, o tema central, que se conecta com o contexto global de crises climáticas e sociais, reforça a defesa intransigente da democracia e a importância do cuidado com o meio ambiente. Este evento tem o objetivo de contrapor o significado oficial do Dia da Independência do Brasil, transformando-o num espaço de denúncia das desigualdades sociais e de afirmação de um projeto popular para o país.
Quem faz parte da caminhada da Igreja pé no chão, “Igreja em Saída”, e que vai aonde o povo sofrido está, se sente feliz e realizado com este evento, que acontece a cada ano nesta data. Não é o caso, por exemplo, daquilo que está ocorrendo na diocese de Cuiabá. O Arcebispo de Cuiabá, Dom Mário Antônio da Silva, está recebendo manifestações hostis e ameaças de morte, após apoiar o 31º Grito dos Excluídos e das Excluídas deste ano de 2025. Nas redes digitais, várias pessoas ameaçaram o bispo, só porque ele apoiou e fez a convocação das pessoas para participarem do Grito. Triste saber, que gente de dentro da própria hierarquia da Igreja, aliados aos ultraconservadores da extrema direita, agredindo verbalmente o bispo. Dom Mário Antônio da Silva tem se notabilizado por sua atuação pastoral marcada pelo compromisso com a justiça social, o que se alinha com a missão da Igreja, no que diz respeito à sua Doutrina Social (DSI).
O Grito dos Excluídos e Excluídas é visto como uma mobilização legítima que visa à dignidade e os direitos das pessoas, sobretudo dos mais pobres e marginalizados. Estar em sintonia com a direção central da Igreja no Brasil, no caso a CNBB, é estar em sintonia com o Papa, ou seja, o magistério da Igreja como um todo. Vivenciar a fé fazendo a opção por defender o direito dos pequenos é estar em sintonia com o Evangelho, e aquilo que Jesus anunciou e fez acontecer, o Reno de Deus, que o evangelista Mateus resumiu com todas as letras, no capitulo 25 de seu evangelho: “Eu estava com fome, e vocês me deram de comer; eu estava com sede, e me deram de beber; eu era estrangeiro, e me receberam em sua casa; eu estava sem roupa, e me vestiram; eu estava doente, e cuidaram de mim; eu estava na prisão, e vocês foram me visitar”. (Mt 25,35-36)
Como podemos ver, seguir a Jesus não é para qualquer um! Seguir não é a mesma coisa que acompanhar. Seguir, é comprometer com as causas do Reino. A condição para participar da vida no Reino é o compromisso que devemos ter com Jesus, na pessoa dos pobres e oprimidos. Neste sentido, o texto que a liturgia nos reserva para a nossa reflexão hoje, nos ajuda a entender esta dinâmica do seguimento de Jesus. Lucas inicia a sua perícope afirmando que: “Naquele tempo, grandes multidões acompanhavam Jesus”. (Lc 14,25) Certamente por causa dos seus ensinamentos, das palavras de incentivo e acolhida, ou até mesmo dos sinais (milagres), que Ele realizava, e também da partilha do pão que saciava a fome daquela gente. Entretanto, este acompanhar não significava que todos o seguiam, comprometidos com a sua proposta do Reino.
Seguir a Jesus requer algo mais profundo e envolve toda a vida daqueles e daquelas que fazem a sua adesão consciente e coerente pelo seguimento dele, que o Mestre resume em poucas palavras no texto de hoje: “Quem não carrega sua cruz e não caminha atrás de mim, não pode ser meu discípulo”. (Lc 14,27) A cruz está presente no itinerário de todo aquele e aquela que fazem a sua opção pelo seguimento de Jesus de Nazaré. E a cruz aqui não é apenas aquela que temos presente em nossa devoção ritualística, entre as paredes do templo, mas a cruz de cada dia do sofrimento daqueles que estão marginalizados em nossa sociedade: a cruz do pão que falta na mesa; a cruz do teto que falta aos desabrigados; a cruz do desemprego; a cruz dos baixos salários, a cruz da exploração dos ricos sobre os pobres; a cruz do preconceito, da indiferença e da omissão.
Jesus, no texto de hoje está percorrendo um caminho com os seus discípulos. Mais do que um caminho histórico, trata-se de um caminho pedagógico e teológico. Ele está indo em direção da Galileia para Jerusalém. Ali, eles encontrarão os líderes judaicos da capital, ocasionando o confronto com a proposta do Reino de Deus. Ao longo do caminho, muitas pessoas o acompanham. Jesus as desafia, a não apenas acompanha-lo, mas segui-lo. Seguir a Jesus e continuar o seu projeto, sendo discípulo e discípula, vivendo um clima novo na relação com as pessoas, com as coisas materiais e consigo mesmas. Este seguimento significa assumir com liberdade e fidelidade a condição humana, sem superficialismo, conveniência ou romantismo de uma fé infantil e ingênua, que se contenta com uma devoção vazia e descomprometida com as causas do Reino. Como bem resumiu nosso Papa Francisco: “Ser cristão significa aceitar o caminho de Jesus até a cruz”.
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