Terça feira da Décima Oitava Semana do Tempo Comum. O mês vocacional vai se delineando em nossa caminhada de fé. Aqui, para nós do Araguaia, o esvaziamento da cidade vai dando ares de normalidade, predominando o sossego de nossa rotina. Apenas nós, os moradores, aproveitando das belas praias com que o Araguaia nos premia a cada ano. Sempre em lugares diferentes. As mais belas praias que já vi na vida, se bem que sou suspeito, pois sou um inveterado apaixonado por este lugar. Nesta manhã, pequei a bicicleta e aproveitei para rezar em uma destas praias, contemplando o sol nascendo do lado de lá do rio. Deus se fazendo amanhecer de dentro da Ilha do Bananal. Mistérios da natureza teofanicamente se fazendo presente.

Acreditar é preciso! Acreditar sempre! Os que confiam no Senhor acreditam mais em si mesmos, fazendo toda a diferença. Acreditar que somos capazes de fazer o novo de novo! Acreditar que, através das nossas ações afirmativas, outro mundo podemos construir. Deus está presente em nossa vida e, com Ele, podemos mais. Deixar o nosso coração ser ocupado pelas coisas boas, onde predomina a amorosidade de Deus, já que imagem e semelhança d’Ele, todos somos. Termos o cuidado de fazer aquilo que já nos alertara um dos livros da literatura sapiencial do Primeiro Mandamento: “Confie no Senhor de todo o seu coração e não se apoie em seu próprio entendimento”. (Prov 3,5) Deixar-nos mover pela sabedoria de Deus, já que a sabedoria humana é sempre limitada e, por isso, deve estar aberta para a sabedoria divina, que se torna presente através da experiência da história e da vida.

“Não se perturbe o coração de vocês. Creiam em Deus; creiam também em mim”. (Jo 14,1) A existência humana é repleta de desafios. A cada dia um deles apresenta no nosso horizonte existencial. Se no passado, o povo de Deus se espelhava no Deus invisível, reverenciado pelas lideranças religiosas, com Jesus surge uma nova realidade. Deus se faz presente na historia humana de forma concreta. Através da encarnação, Deus, doador da vida, se manifesta inteiramente na pessoa e ação de Jesus. Desta forma, todos aqueles e aquelas que o segue não caminha para o fracasso, pois a meta é a vida. Assim, Jesus não apresenta apenas uma utopia, mas convida-nos a percorrer um caminho historicamente concreto. Inspirados nos sinais que Jesus realizou, criaremos novos sinais dentro do mundo, abrindo espaços de esperança e vida fraterna.

Nesta terça feira, damos continuidade à reflexão litúrgica, com o Evangelho de Mateus. O contexto é imediatamente após Jesus ter saciado a fome de uma grande multidão, e olha que nem as mulheres e nem as crianças haviam sido contadas entre aqueles famintos saciados. Após aquela ação concreta, Jesus se retira ao monte para rezar a sós, e os discípulos, rumam-se ao mar. Importante salientar que está era uma prática comum de Jesus, reservando sempre estes seus momentos de oração. Alguém até poderia se perguntar: mas não havia uma sintonia permanente (“Eu e o Pai Somos um!” (Jo 10,30) entre Pai e Filho, porque Ele reservava estes momentos oracionais? Tal atitude de Jesus era para mostrar aos seus, que também eles e nós, precisamos destes momentos, para estarmos a sós com Deus, em forma de oração dialogal com Ele.

“Pelas três horas da manhã, Jesus veio até os discípulos, andando sobre o mar”. (Mt 14,25) Esta cena causa nos discípulos um verdadeiro alvoroço, pois alguns deles achavam que estavam vendo um fantasma caminhando sobre as águas e ficaram com muito medo. E não é pra menos! Qualquer um de nós que visse tal cena, certamente teríamos a mesma reação daqueles discípulos. Ao que Jesus os tranquiliza: “Coragem! Sou eu. Não tenhais medo!” (Mt 14,27) Afoito como sempre, Pedro então pede que Ele o faça andar sobre as águas, para ir ao encontro de seu mestre. Ele até inicia este processo, porem afunda-se na água, devido a sua falta de fé, sendo recriminado por Jesus: “Homem fraco na fé, por que duvidaste?” (Mt 14,21) Jesus deixa claro para Pedro e também para nós que precisamos crescer sempre mais na fé e não temer os passos dados dentro das águas agitadas do mundo.

Aqui entra uma das ideias fortes que nosso bispo Pedro nos ensinava sempre: “O contrário da fé não é a dúvida: é o medo! E não se pode ter medo do medo!” Para o nosso pastor, de saudosa memória, o oposto da fé, não é a dúvida, mas o medo. Neste sentido, ele defendia que a fé é movida pela entrega, pela coragem, pela esperança e pelo compromisso com a justiça, enquanto o medo paralisa e impede a ação. Agindo com medo, nos acovardamos e sucumbimos diante dos desafios. O profeta Isaías, que exerceu o seu profetismo por cerca de 44 anos, exercendo o seu ministério por volta de 740 a.C. a 701 a.C. tinha uma forma muito peculiar para enfrentar os momentos difíceis de seu profetismo, quando convictamente dizia: “Deus é a minha salvação; terei confiança e não temerei. O Senhor, sim, o Senhor é a minha força e o meu cântico; Ele é a minha salvação!” (Is 12,2) O medo faz parte da vida, mas a coragem de sonhar faz a gente acreditar, que sozinhos somos fracos, mas juntos podemos realizar os nossos sonhos e ver acontecer outro mundo melhor.