Terça feira da terceira semana do tempo comum.

25 de janeiro, uma data especial para a História da Igreja. Neste dia rememoramos a Conversão de São Paulo. De perseguidor a seguidor. De adversário a servidor das causas de Jesus. Um exemplo para todos os cristãos. Um homem que assume em si um processo de conversão na verdadeira acepção da palavra: metanoia. Mudança radical de pensamentos, atitudes, modos de ser e de viver na profundidade do coração. Mudança esta que acontece primeiro no esquema mental da pessoa, mas que adentra as suas entranhas até chegar às raias do coração, ocorrendo ai uma transformação estrutural na vida da pessoa. Converter para viver na plenitude da vida.

25 de janeiro é também dia de tristeza para muitas famílias mineiras. No dia de hoje, há três anos (2019), ocorria o rompimento da barragem da mina do Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG), região metropolitana de Belo Horizonte. Muitas famílias perderam literalmente tudo que a lama dos rejeitos de minério alcançou. Destas famílias, 270 pessoas vieram a perder as suas vidas. Algumas ainda desaparecidas no lamaçal. No país da impunidade, ninguém foi punido por este grave crime sócio ambiental contra as famílias indefesas. A empresa mineradora continua bela e formosa no mercado, destruindo o meio ambiente, na sua volúpia de obter lucros avantajados no mercado da mineração. Vidas não valem para a Vale!

Mas hoje também é dia de festa e alegria. A “Pauliceia Desvairada”, como dizia Mário de Andrade em sua coletânea de poesias publicadas na Semana de Arte Moderna de em 1922, completa 468 anos. Uma cidade que acolhe, mas que também discrimina e promove a desigualdade entre os seus habitantes. Dentre estes estão as mais de 32 mil pessoas em situação de rua, que são objeto da “limpeza pública” por parte de uma parcela dos moradores desalmados de Sampa. “Gente que enfeia as ruas da cidade”, sem caberem dentro das políticas públicas, voltadas para os mais vulneráveis. Estima-se que uma parcela considerável de crianças, tem feito parte deste contingente populacional, que tem a rua como sua única opção de moradia.

Nosso bispo Pedro sempre nos dizia que todos os dias, precisamos encontrar motivos para exercitar a teimosia/resistência e manter vivo o esperançar de nossas ações. Esperançamento que brota do Evangelho que é a nossa fonte maior de inspiração, na caminhada de Igreja que quer ser fiel nas pegadas de Jesus de Nazaré. É o que nos propõe o Evangelho do dia de hoje (Mc 16,15-18). Por ele chega aos nossos ouvidos o clamor de Jesus que nos diz: “Ide pelo mundo inteiro e anunciai o Evangelho a toda criatura!” (Mc 16 15). Os discípulos, seguidores e seguidoras de Jesus, são desafiados a dar continuidade à missão libertadora desencadeada por Ele. Missão esta que se faz no dia a dia, através do testemunho profético do Messias. Ser testemunhas fieis de Jesus na Igreja e no mundo. Como nos diz o Papa Francisco: “Guardemo-nos do risco de sermos atores mais que testemunhas. Somos chamados a ser memória viva do Senhor”.

Anunciar o Evangelho com a vida, numa doação total de si mesmo. Uma entrega confiante nas mãos de Deus, sabendo que Ele será o artífice de todas as nossas ações. Ações que se fazem na construção do Reino de Deus, tijolo por tijolo. Para tanto, precisamos assumir em nós esta mudança radical do nosso modo de ser e viver neste mundo. Devemos ser instrumentos nas mãos de Deus, que vai moldando-nos à sua maneira, como o barro nas mãos do oleiro. Quando fazemos adesão ao Projeto de Deus revelado em Jesus, vamos também fazendo as nossas opções no intuito de deixar para trás algumas coisas que faziam parte de nosso universo de prioridades. Num movimento interior de busca de nós mesmos, fazemos também o encontro pessoal com o Deus da vida. Um movimento que nos coloca em sintonia com os anseios de Deus na estrada de nossa vida.

Saulo era aquele que tinha olhos para ver, mas não viam; ouvidos para ouvir, mas não ouviam. Um homem preso à sua prepotência e auto-suficiência, confiava mais em si mesmo, e na justiça diferida pelos adversários de Jesus. Um homem cego, que só conseguia produzir perseguição e morte contra aqueles que seguiam a Jesus. Todavia, o seu encontro pessoal com o Filho de Deus, mexeu com as suas convicções. De perseguidor passa a ser perseguido. Abandona a crueldade de suas ações e se enche de amor, assumindo em si o indicativo de Jesus: “Ide pelo mundo inteiro…” Por causa da sua ação missionária, o cristianismo se expandiu para além das fronteiras do judaísmo, ganhando o mundo todo. Como membro do Corpo de Jesus, viveu intensamente tudo aquilo que anunciou ao ponto de dizer com plena convicção: “Eu vivo, mas já não sou eu que vivo, pois é Cristo que vive em mim. E esta vida que agora vivo, eu a vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e se entregou por mim. (Gl 2,20)