Terça feira da Décima Primeira Semana do Tempo Comum. Vida que segue em busca das nossas realizações pessoais e coletivas. Os dias são únicos e, portanto, devem ser vividos com a máxima intensidade possível que podemos dar de nós mesmos. Como diria Mário Sérgio Cortella: “Faça o teu melhor, na condição que você tem, enquanto você não tem condições melhores, para fazer melhor ainda!” O dia de hoje não voltará jamais, a não ser nas nossas lembranças. O dia de amanhã, como dádiva de Deus, ainda está sendo forjado pelas circunstâncias da complexidade do nosso existir humano neste plano. Saber agradecer pelo dia que se tem é a prática do coração que sabe ser pleno de amorosidade.

Uma terça feira que nos voltamos para uma realidade muito triste dos nossos dias atuais. Neste dia 20 a comunidade internacional celebra “O Dia Mundial do Refugiado”. Data esta que foi designada pelas Nações Unidas para homenagear as pessoas refugiadas em todo o mundo. Celebrar este dia é reconhecer a força e a coragem destas pessoas que foram forçadas a deixar seu país de origem em razão de perseguição, conflito, violência, violação de direitos humanos. Estima-se que haja em todo o mundo cerca de 108,4 milhões de pessoas que foram obrigadas a deslocar à força. Muita gente sofrendo nestas condições, sobretudo mulheres e crianças. É de cortar o coração.

Rezei nesta manhã, acompanhado pelo som gutural das dezenas dos enormes macacos bugios, que adotaram o espaço do meu quintal, para sua “manhã de amor”. Cada um dos machos tentando cativar/seduzir a fêmea com os seus sons característicos. Uma festa de acasalamentos, fazendo perpetuar a espécie. A ação do Deus Criador se fazendo presente em sua criatura, dando prosseguimento ao projeto de amor na interligação das espécies. Fiz-me sintonia com o Criador e sua criação, meditando em meu coração uma das frases ditas por Santo Agostinho: “o céu e a terra, e tudo o que eles encerram, me dizem que eu devo Vos amar”.

O amor é o verbo da vez. O Verbo é Jesus encarnado em forma de amor. Amar é a essência do Ser Criador de Deus. O amor é a projeção maior de todo ser humano. Quem não ama, não sabe o que é o amor. Quem não ama não entendeu direito o que veio fazer nesta vida. Só o amor constrói. Só o amor nos une em sintonia com as demais pessoas. O sopro divino do amor está entranhado no coração de toda a criação, mesmo que algumas destas não deixem este amor irradiar em forma de luz a clarear os passos em direção ao ser amado. São João foi rápido e rasteiro ao nos dizer: “Aquele que não ama não conhece a Deus; porque Deus é amor”. (1 Jo 4,8)

Amor que está presente no coração do Filho enviado para estar no meio de nós. Todas as ações de Jesus são perfiladas pela sintonia de amorosidade entre Pai e Filho. O amor generoso que há no Pai se fez amor ternura e compaixão no Filho que se entregou às causas do Projeto de Deus. É desta forma que seguimos meditando hoje no texto proposto pela liturgia. Mateus continua nos ajudando a entender este plano maior de amor que devemos fazer uso para darmos conta de vivenciar a lei antiga sob uma nova perspectiva. O próprio Jesus nos instiga a ter uma nova compreensão/interpretação das leis que foram escritas ainda no tempo de Moisés.

“Vós ouvistes o que foi dito: ‘Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo! Eu, porém, vos digo: Amai os vossos inimigos e rezai por aqueles que vos perseguem!” (Mt 5, 43-44) Amar quem nos ama é fácil. A gente tira de letra. Difícil é amar algumas pessoas que fazem parte de nosso circulo de convivência. A lei antiga não foi superada, mas necessita de uma nova hermenêutica, para que seja vivida com toda a sua intensidade. “Não pensem que eu vim abolir a Lei e os Profetas. Não vim abolir, mas dar-lhes pleno cumprimento. (Mt 5,17)

Uma frase dita por Santa Clara nos ajuda a aproximar desta forma que Jesus quer que nos tornemos: “Nós nos tornamos o que amamos e quem amamos molda o que nos tornamos.” Jesus nos mostra que a perspectiva do relacionamento humano deve se abrir para além das fronteiras limites que costumamos construir entre nós. Somente quem se deixa penetrar pelo amor fecundo de Deus é capaz de amar o inimigo sem medidas. Amar o inimigo é entrar em relação concreta com aquele que também é amado por Deus, mas que se apresenta como problema para mim. A superação dos conflitos também é uma tarefa de quem sabe amar como Jesus amou. “Eu vos dou novo preceito: que uns aos outros vos ameis, como eu vos tenho amado”. (Jo 13,34) Amar como Jesus amou. Na sua simplicidade peculiar, São Vicente de Paulo assim resumiu esta proposição de Jesus: “Devemos amar nosso próximo como sendo feito à imagem de Deus e como objeto de Seu amor.” Eis ai o nosso maior desafio. Já pensou nisso?