Sexta feira da Décima Quarta Semana do Tempo Comum. Dia de festa na Igreja Católica. Celebramos hoje, a memória de São Bento Abade. Abade que em latim “abbas”, significa “pai”, é um dos títulos eclesiásticos dados ao chefe de uma abadia ou mosteiro, tanto masculino quanto feminino (abadessa). Desta forma, o abade é o líder espiritual e administrativo da comunidade monástica. A liturgia reserva o dia 11 de julho para fazer memória deste religioso do século V, uma vez que São Bento, nasceu em Núrsia, Itália, por volta do ano 480 d.C. Ele é o fundador da Ordem de São Bento ou Ordem dos Beneditinos, uma das maiores ordens monásticas do mundo, que recebe esse nome em homenagem a ele, bem como por seguir a regra proposta por ele.

“Ora et labora”. Este é o lema Beneditino. Irmão de Santa Escolástica, coube a ele propor a “Regra”, aos beneditinos, escrita por volta do ano 530 d.C. Esta regra consiste num Manual, um código de orações para a vida monacal. Aos irmãos seguidores desta Ordem, cabe dedicar-se, em determinadas horas do dia, ao trabalho manual e, em outras, à leitura dos livros que contêm a Palavra de Deus. No seu entendimento, oração e trabalho não se contrapõem, mas estabelecem uma relação de simbiose. Sem a oração não é possível encontrar a Deus. O trabalho é uma extensão da oração. A vida monacal, definida por São Bento como “uma escola de serviço ao Senhor”, não pode prescindir do compromisso concreto do dia a dia. Rezar sim, trabalhar muito também, para que se concretize na história a vontade de Deus, pois como ele mesmo dizia: “Do que adianta ser inteligente e não saber de nada”.

Rezar e trabalhar, eis o grande desafio que constitui a vida cristã. Jesus rezava muito e trabalhava demais, anunciando e proclamando a Boa Nova do Reino, com gestos concretos de libertação na vida dos mais pobres. É desta forma que Ele prepara os seus discípulos para serem estes continuadores da sua missão, de fazer o Reino acontecer na história humana. Hoje, mais uma vez, o vemos preparando e orientando os seus discípulos para a missão, como está bem explicito no capitulo 10 do Evangelho de Mateus. (“Discurso da Missão”) Importante observar que Jesus não engana os seus discípulos, falando-lhes às claras: “Eis que eu vos envio como ovelhas no meio de lobos”. (Mt 10,16) Ou seja, os discípulos precisam estar cientes de que a execução da missão não será nada fácil, mas eles deverão ter a coragem para levar adiante o plano de Deus.

“Cuidado com os homens, porque eles vos entregarão aos tribunais e vos açoitarão nas suas sinagogas”. (Mt 10,17) Certamente que os discípulos ficaram assustados com estes indicativos de Jesus, afinal como é de praxe acontecer, “quem acha que está com Deus”, não terá problemas, dificuldades e desafios a serem vencidos, pelo simples fato de abraçar as mesmas causas defendidas por Jesus. Pelo contrário, será um tempo de remar contra a correnteza, de uma sociedade que se estabelece sob a exploração dos pequenos, pobres, provocando a exclusão e a terrível desigualdade. Quanto a isso, Jesus foi claro com os seus discípulos: “Vós sereis levados diante de governadores e reis, por minha causa, para dar testemunho diante deles e das nações“. (Mt 10,18)

As consequências decorrentes da coerência e fidelidade na missão, serão árduas para o discipulado. Neste sentido, os discípulos terão o mesmo destino de Jesus: sofrer as consequências da missão que liberta e dá vida nova. Sim, porque essa missão atingirá os interesses de muitas pessoas e, por isso, provocará a perseguição, a divisão e o ódio, até mesmo dentro das famílias e da Igreja, como podemos ver nos dias de hoje. Lembro-me que nosso bispo Pedro, perseguido e ameaçado de expulsão do Brasil, pelos algozes da ditadura militar, alguns membros da hierarquia católica, se aliaram a estes militares, somando forças, para que o “bispo comunista” fosse, de fato, expulso do Brasil. Ainda bem que o saudoso Papa Paulo VI, diante deste processo todo, se posicionou firmemente e declarou: “encostar no bispo de São Félix do Araguaia é como encostar no papa”.

As consequências da missão ficarão marcadas na vida daqueles e daquelas que fazem o seguimento fiel de Jesus. Tanto que a Igreja, desde os seus primórdios, é marcada pelo sangue derramado dos mártires da Caminhada. Os discípulos e todos aqueles e aquelas que optam pelo seguimento da proposta do Reino, anunciada por Jesus de Nazaré, sabem que a missão é dirigida pelo Espírito Santo. É por isso que os discípulos e todos/as os/as que seguimos a Jesus, devemos perseverar até o fim, sem temor e tremor, nem aflição, seguros da plena manifestação de Jesus, Senhor e Juiz da história. É o Espirito que nos enche de força e coragem, pois, mesmo nas dificuldades, sabemos que não estamos sozinhos, já que, além das mãos unidas dos companheiros e companheiras da caminhada, a Mão de Deus está conosco. São Oscar Romero entendeu bem a proposta de Jesus, tanto que assim escreveu: “Numa sociedade de injustiça social, se a Igreja não é perseguida, é porque é conivente com a injustiça”.