Sextou mais uma vez no mês de fevereiro.

Francisco (Chico) Machado. Missionário e escritor.

Caminhamos para o segundo final de semana. Uma sexta feira especial, pois no dia de hoje (11), a Igreja Católica celebra a Festa de Nossa Senhora de Lourdes, a intercessora direta pelos doentes. Maria pobre de Nazaré que aparece a uma mulher também pobre e analfabeta, no ano de 1858, nas imediações da cidade de Lourdes, na França. Segundo os relatos históricos, Santa Marie-Bernard Soubirous, mais conhecida como Santa Bernadete, foi a escolhida para receber as aparições, de Maria, numa demonstração clara da predileção de Deus pelos mais pobres. Maria pobre sendo pobre com os pobres. As muitas Marias, como tantas Marias presentes na história humana.

11 de fevereiro, em tempos de pandemia, nada mal em fazermos a memória litúrgica de Nossa Senhora de Lourdes, ocasião em que celebramos o Dia Mundial do Enfermo, instituído pelo Papa João Paulo II no ano de 1992. Segundo o pontífice, este é “um momento forte de oração, de partilha, de oferta do sofrimento pelo bem da Igreja e de chamado para todos a reconhecerem no rosto de seu irmão doente, a Santa face de Cristo que, sofrendo, morrendo e ressuscitando, alcançou a salvação da humanidade”. Com tantas pessoas doentes entre nós: infecção pelo vírus, sequelas da doença, saúde mental abalada, perdas dos entes, somente a intercessão da Virgem de Lourdes para nos dar um maior alento. Nossa Senhora de Lourdes, intercede por nós!

As muitas faces de Maria, a Mãe de Jesus e também nossa. Maria foi aquela que acreditou no projeto de Deus e se fez servidora das causas dos pequenos. Uma mulher da periferia de Nazaré que entendeu o chamado de Deus, rompeu com todas as barreiras culturais, sociais, políticas e religiosas e, através de seu sim decidido, entregou-se nas mãos de Deus, confiante de que o melhor haveria de acontecer, apesar de todas as suas limitações por ser mulher, pobre e da periferia. Ao encarna-se na realidade histórica humana, Deus escolhe se fazer presente no aconchego do útero materno desta mulher: o divino se fazendo humano na amorosidade de Maria, mostrando a face de um Deus que é todo humano em forma de ternura e compaixão pelos seus.

“Faça-se em mim segundo a sua Palavra”! (Lc 1,38) Maria, a mui digna representante da comunidade dos pobres que esperam pela libertação. Como toda mulher de sua época, sonhava com outro mundo possível, onde a mulher não fosse um ser desprezível e de segunda categoria, como elas eram vistas pela sociedade patriarcal, machista e desigual de sua época. O nascimento do Messias em seu ventre, por obra e intervenção de Deus, vem romper com esta cadeia de exclusão sócio-político-cutural dos pobres, relegados a viver das migalhas que caiam das mesas dos poderosos, inclusive religiosos. O Deus divindade se fazendo humano na humanidade de Maria para que os humanos alcançassem o divino presente no Filho, trazendo o esperançamento de uma nova história surgindo dentro da história de maneira totalmente nova. “Maria, Mãe do Universo”, como canta Roberto Malvessi.

https://robertomalvezzi.com.br/albuns/cristificacao_do_universo/

Jesus é o Verbo encarnado que incorporou e viveu a realidade dos pobres de Javé. Ao trazer-nos a realidade de um Deus que é amorosidade em pessoa, mostrou-nos que não estamos abandonados a própria sorte, mas somos abraçados pelo Projeto de Deus. A humanidade presente em Jesus é extremamente contagiante e aflora por todos os seus poros. “Jesus é tão humano que só poderia ser mesmo divino”. (L. Boff) E nesta sua humanidade divina, revela-nos um Deus que é regido pela ternura e compaixão. Um Deus que “enviou o seu Filho ao mundo não para condenar o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por meio dele”. (Jo 3, 17)

Jesus, o Homem Deus que se faz presente na realidade humana da “Decápole”, ou seja, as dez cidades que ficavam na fronteira oriental do Império Romano na Judeia e Síria. Ali, o mestre Galileu vai curar um pobre homem surdo mudo. “Jesus que fazia bem todas as coisas. Aos surdos faz ouvir e aos mudos falar”. (Mc 7, 37) Ele que inicia uma nova criação, diferentemente daquilo que está escrito em Gn 1,31. Entretanto, para que tal ocorra, é necessário abrir bem os ouvidos, não somente para escutar, mas para ouvir atentamente pela força interior. Ouvir bem para poder também falar sobre aquilo que o coração está ouvindo. Ouvir e falar! Manter a capacidade de discernir a realidade e saber dizer a palavra que transforma esta realidade por dentro. Ouvir e falar, dois verbos para conjugar a presença de Deus em nossa existência. Que saibamos pensar com William Shakespeare: “As palavras sem afeto nunca chegarão aos ouvidos de Deus”. Como Ele, saibamos fazer bem todas as coisas.