Quarta feira da Quinta Semana da Quaresma.

Francisco (Chico) Machado. Missionário e escritor.

O tempo é quaresmal e estamos batendo às portas de mais uma Semana Santa. “Eis o tempo de conversão, eis o dia da salvação!” Assim cantamos na liturgia específica deste tempo litúrgico. Converter é fazer escolhas fundamentadas nos valores que nos vem da Palavra de Deus. Como toda escolha pressupõe consequências, nos colocamos entre o viver na plenitude e a vida pela metade. Como já nos alertara o Livro do Deuteronômio: “Escolhe, pois, a vida, para que vivas, tu e a tua semente”. (Dt 30,19)

Quem faz a opção pela adesão à Jesus sabe que não ficará isento de desafios e dificuldades, mas diante destes, terá a força necessária para seguir adiante confiante. Engana a si e aos outros, quem acha que estando trilhando as mesmas pegadas de Jesus, terá uma vida fácil. Como Ele mesmo nos advertiu: “Se alguém quer vir após mim, renuncie a si mesmo, tome sua cruz e siga-me.” (Mt 16,24) A cruz de cada dia simboliza os desafios que a missão de estar com Ele nos compete. É estar disposto a tornar-nos marginalizados por um tipo de sociedade fundada na injustiça e na desigualdade daqueles que não aceitam viver na verdade.

Converter para lutar contra a sociedade da contradição e da desigualdade. Estamos numa semana muito triste para aqueles que lidam com a educação em nosso país. Ontem (28), foi sepultada em São Paulo a professora Elisabete Tenreiro de 71 anos. Ela que morreu ao ser esfaqueada por um de seus alunos, dentro da sala de aula. Apesar de já ser aposentada, lecionava segunda a filha, como “propósito de vida”, porque acreditava na educação. No “mês das mulheres”, uma delas perde a vida numa condição deprimente: mulher, educadora, idosa. Alguma coisa está errada. Educação se aprende na família. A escola é apenas um espaço de produção do pensamento, de escolarização e aperfeiçoamento daquilo que se aprende em casa.

Aprender com Jesus é a missão de todos aqueles e aquelas que desejam com Ele caminhar. Nesta quarta feira mais uma vez o vemos no confronto com os judeus, apegados a sua tradição devocionista fundamentalista. A grande temática em volta do texto é a de permanecer ou não com Ele. Bem que Jesus ainda tenta convencê-los a fazer a adesão livremente: “Se permanecerdes na minha palavra, sereis verdadeiramente meus discípulos”. (Jo 8, 31) Porém, o apego à tradição judaica os tornou cegos acerca do messianismo de Jesus e não se abriram à perspectiva da libertação que Jesus veio trazer como mensageiro direto do Pai. A intenção dos judaizantes é matar Jesus a todo custo.

“Quem não está comigo, está contra mim. E quem não recolhe comigo, espalha”. (Mt 12,30) Foi assim no tempo de Jesus e está sendo assim entre nós, passados mais de dois mil anos. Que o diga o nosso Papa Francisco, sendo massacrado, principalmente por aqueles que dizem “comungar da mesma fé”. Ao propor uma Igreja em Saída dentro de um contexto de sinodalidade, o Papa deseja que a Igreja “escute” o que o Espírito Santo aponta através das pessoas e aprenda a “caminhar junto” (sinodalidade) com a humanidade, atenta às alegrias e aos sofrimentos do tempo presente e marcando presença amorosa nestas realidades. Assim como lá, os “judeus” de cá querem também crucificar o Pontífice, dizendo que “o Papa do fim do mundo” depõe contra o Evangelho que Jesus veio ensinar.

Ser Igreja é ser comunhão e participação. Comunhão com Jesus e com o Papa Francisco. Ou fazemos isto ou passamos para o outro lado e nos aliamos ao “diabo”, na verdadeira acepção originária desta palavra. Lembrando tal palavra nos chegou pelo latim “diabolus”, e também do grego clássico “diábolos”, expressando “separação”, “divisão”. Literalmente, a palavra “diabo” quer dizer “aquele que desune”, que inspira “ódio” ou “inveja”. Assim, fazer a adesão a Jesus é fazer adesão a verdade que Ele representa. A verdade que liberta é aceitar a vida nova trazida por Ele, que relativiza tudo aquilo que antes parecia absoluto: riqueza, poder, ideias, estruturas. Desta forma, só é possível viver a liberdade quando se rompe com toda ordem injusta, que impede a experiência mais profunda do amor de Deus através do amor as pessoas. Ser do “diabo” ou ser com Jesus, a escolha é de cada um.