Quarta feira da Décima Nona Semana do Tempo Comum. Dia de festa para a comunidade católica. Celebramos hoje a memória de Santa Dulce dos Pobres, o anjo bom da Bahia. Irmã Dulce, foi uma religiosa católica brasileira, cujo nome de batismo Maria Rita de Sousa Brito Lopes Pontes, nasceu em Salvador, Bahia, em 26 de maio de 1914, e faleceu em 13 de março de 1992. Desde muito jovem, dedicou sua vida ao cuidado dos pobres, mendigos e doentes, que andavam pelas ruas. Aos 18 anos, ingressou na Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus, em São Cristóvão, Sergipe, escolhendo o nome de Irmã Dulce, em homenagem à sua mãe, que falecera quando ela tinha apenas sete anos. Retornou a Salvador e, em 1939, iniciou seu trabalho solidário no Convento de Santo Antônio, amparando doentes e mendigos que viviam em situação de rua e também os leprosos.

Indicada ao Prêmio Nobel da Paz, em 1988, como um reconhecimento ao seu incansável trabalho dedicado aos pobres e sofredores. Nesta época ela já era conhecida como “O Anjo Bom da Bahia”. Irmã Dulce faleceu, mas deixou um legado imenso de amor, bondade e solidariedade às causas do pobres e marginalizados. Em 2019, ela foi canonizada pelo Papa Francisco, tornando-se assim a primeira santa católica nascida em solo nacional. Incorporou em si o carisma franciscano com a sua dedicação aos pobres, sem medir esforços, a serviço dos últimos. Particularmente, gosto de uma das frases que ela gostava de dizer: “Tudo o que acontece no universo tem uma razão de ser; um objetivo. Nós como seres humanos, temos uma só lição na vida: seguir em frente e ter a certeza de que apesar de, às vezes, estar no escuro, o sol vai voltar a brilhar.

Irma Dulce, a guerreira dos pobres, assim como foi Margarida Maria Alves (1933-1983), que no dia de ontem (12), celebramos os 42 anos de seu martírio. Margarida foi uma trabalhadora rural e sindicalista brasileira, defensora dos direitos humanos e trabalhistas dos trabalhadores do campo. Foi uma das primeiras mulheres a exercer um cargo de direção sindical no Brasil. Atuou na região do Brejo Paraibano, agreste da Paraíba. Participou da criação do Centro de Educação e Cultura do Trabalhador Rural, que ainda hoje atua na formação política dos camponeses e busca promover o desenvolvimento rural e urbano sustentável, o fortalecimento da agricultura familiar, a reforma agrária e a defesa dos trabalhadores sem terra. Estudou apenas até a 4ª série primária e começou a trabalhar no campo aos oito anos de idade. Num contexto de muita pobreza, Margarida afirmou que: “era melhor morrer na luta do que morrer de fome”. Margarida Maria Alves foi assassinada na frente de sua casa em 12 de agosto de 1983 com um tiro de escopeta calibre 12 no rosto, disparado por um pistoleiro. Dulce e Margarida, Presentes na caminhada!

Uma quarta feira em que o tema central proposto pela liturgia, nos traz a palavra-chave “correção fraterna”. Quem ama, perdoa! Quem perdoa também corrige! Não de qualquer forma, mas fraternalmente. Correção como dom de Deus! Correção com vistas à inclusão, conforme nos propõe Jesus em seus ensinamentos, presentes neste seu “Discurso Eclesial” do capítulo 18 de Mateus. “Se o teu irmão pecar contra ti, vai corrigi-lo, mas em particular, a sós contigo! Se ele te ouvir, tu ganhaste o teu irmão”. (Mt 18,15) Para o cristão , o modelo de correção fraterna é a pessoa de Jesus de Nazaré. Correção esta que não pode ser fundamenta em princípios morais fundamentalistas, de quem se coloca numa atitude superior para corrigir aquele que errou numa situação de inferioridade, diminuindo a pessoa pelo erro que ela cometeu. Tal atitude em si já contraria o princípio da correção fraterna: perdoar para incluir.

Somos todos e todas pecadores e pecadoras, porque somos humanos. Devemos sempre nos lembrar de que aquele que errou é meu irmão, minha irmã, já que todos somos filhos e filhas da criação de Deus, pertencentes a grande família humana. Nesta família, da qual todos fazemos parte, devemos sempre recordar daquilo que São Paulo nos alerta em uma de suas cartas: “Deus, que nos reconciliou consigo por meio de Cristo, e nos confiou o ministério da reconciliação. Pois era Deus quem reconciliava com ele mesmo o mundo por meio de Cristo, não levando em conta os pecados dos homens e colocando em nós a palavra da reconciliação”. (2 Cor 5,18-19) Ou seja, com a cruz de Jesus anuncia-se o fim da inimizade com Deus e inaugura a era da reconciliação universal.

Estamos vivendo nos dias de hoje, um grande processo de desumanização. Humanidade desumanizada. Estamos perdendo a essência de nosso ser que é o amor, plasmado por Deus em nosso coração. Cresce cada vez mais a indiferença e insensibilidade, mescladas pelo ódio daqueles que semeiam a discórdia, tornando a vida mais difícil para os descartados de nossa sociedade, tendo como cúmplices aqueles que se dizem “cristãos de verdade”. Nunca é tarde para nos lembrarmos de que, quando um/a irmão/a pecam, prejudicando o bem comum, a comunidade deve agir com prudência e justiça, procurando corrigir aquele/a que errou. Desta forma, a comunidade reunida em nome e no espírito de Jesus, tem o poder de incluir ou excluir pessoas. Perdoar para incluir. Infeliz da comunidade que não sabe perdoar, promovendo definitivamente a exclusão do pecador. Perdoar é um gesto concreto de amar, pois quem ama sabe cuidar, perdoa e doa sem saber magoar. Palavras que nos fazem lembrar-se de Santa Dulce dos pobres. Santa Dulce olhe por nós!