Crônica de uma Professora

“O valor das coisas não 
está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem.
Por isso existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis”
Fernando Pessoa

Estávamos no ano de 1971, quando veio um convite para que eu assumisse as aulas de Português, no Seminário Santa Teresinha, em Tietê, minha terra natal.
Com 19 anos e, ainda, no 3º ano da Faculdade Nossa Senhora do Patrocínio, em Itu, enfrentei o desafio do convite.
Tremendo na base, fui entrevistada pelo Padre Marcos Mooser, o então Diretor.
Contratada, disse-me ele.
Assim, em fevereiro desse ano, conheci os Padres daquela casa , os meninos , a rotina da Instituição.
Imaginei que seria muito difícil. Só meninos!
Ah! Como foi fácil! Como foi bom estar ali todos os dias!
APRENDI, e muito mesmo!

Nessa casa, convivendo com os meninos que vinham dos quatro cantos, permaneci até 1977, quando meu caminho me levou para outros rumos.
Mas… quero expressar aqui, minha alegria nesses 7 anos.
Acordar pela manhã e saber que iria encontrar meninos doces, amorosos, gentis , que queriam aprender, era tudo de bom.
Que paz ao entrar por aquela porta, passar na capelinha do corredor para uma oração, encontrar um ou outro menino que queria desejar um bom dia à professora.
O dia começava lindo! Radiante!
A campainha soava. Íamos para as salas.
Como era encantador aquele silêncio, cada um em seu lugar, tomados pelo respeito.
Olhar aqueles rostinhos, aqueles sorrisos amáveis, olhinhos ávidos para aprender são imagens que trago na memória e no coração.
E que satisfação ao perceber que aprendiam , que liam os livros indicados e muitos mais, que sabiam fazer uma análise crítica, que se mostravam responsáveis e comprometidos.
Sim, havia as traquinagens de criança. Os livros proibidos que liam escondido, os ataques na despensa para provar o vinho do padre, os truquinhos pra enrolar a professora, as brincadeiras, as escapadinhas para a cidade para os encontros marcados com as meninas, os bilhetinhos debaixo dos Santos na Igreja. Tudo era alegria.
Dentro e fora das aulas, imperava a alegria, até para disfarçar a saudade que tinham de casa.
Vez ou outra havia uma lágrima que escorria e secava com o afago da professora.
Havia as apresentações de peças teatrais, música, poesia. Estávamos juntos muito além das aulas.
Quantos momentos deixaram saudade!
Padre Libardi, o Diretor, dizia-nos “Formaremos um Ser Humano Completo.”

Sempre, sempre com muito Amor.
Testemunhei o amor e o cuidado que esse Padre Libardi tinha por “seus meninos”. E havia esse amor recíproco em cada gesto, em cada palavra, em cada olhar que nos alimentava para a jornada.
“Meus meninos” queridos, todos muito queridos, foi muito bom estar com vocês, conhecê-los um pouquinho, sentir esse amor que permanece ainda hoje, nas incontáveis manifestações de carinho.
Foi muito bom iniciar minha caminhada profissional na companhia de vocês, naquele Seminário Santa Teresinha, onde muito aprendi. Sinto estarmos de mãos entrelaçadas porque ,pela proximidade , me tornei parte da família Redentorista.
Hoje, vendo-os homens de bem, sinto orgulho por ter participado do processo.
Que tenhamos sempre Deus em nossos corações , como amparo e um farol a nos guiar!

“Meus meninos”,
Todo o meu amor, toda a minha saudade, toda a minha gratidão por tê-los encontrado em minha vida.
Que nunca lhes falte um sonho para lutar, um projeto para realizar, algo para aprender, um lugar para ir, alguém para amar.
Mali