Segunda feira da Décima Oitava Semana do Tempo. Dia de celebrar a vocação dos Presbíteros. Celebrado no mesmo dia da festa de São João Maria Vianney, padroeiro de todos os sacerdotes. Esta data é comemorada desde 1929, quando foi instituída pelo Papa Pio XI. São João Maria Vianney nasceu em 8 de maio de 1786, em Dardilly, próximo de Lyon, França. Seus pais eram camponeses e, desde pequeno, dedicou a sua vida ao trabalho na lavoura, tanto que, aos 17 anos, João ainda era analfabeto. Todavia, graças aos ensinamentos maternos, conseguiu aprender muitas orações, vivenciando assim a sua religiosidade de forma muito simples. Após superar as dificuldades nos estudos, foi ordenado presbítero em 13 de agosto de 1815, sendo considerado limitado pelos seus formadores, que questionavam sua aptidão para o sacerdócio, devido às suas dificuldades.

São João Maria Vianney é conhecido como Cura d’Ars, porque foi pároco da pequena cidade de Ars, na França, por longo tempo. Após ter-se dedicado sua vida ao Ministério Sacerdotal no serviço às pessoas mais simples, João Maria Vianney faleceu no dia 4 de agosto de 1859, com 73 anos de idade. Seus restos mortais descansam em Ars, no Santuário a ele consagrado, que recebe a visita de cerca de milhares de peregrinos a cada ano. Foi beatificado em 1905, pelo Papa Pio X, e canonizado em 1925, pelo Papa Pio XI, que o proclamou, em 1929, “padroeiro dos párocos do mundo”. Sobre a oração, dizia ele: “Para que nossa oração seja ouvida não depende da quantidade de palavras, mas da intensidade de nosso coração”. Em 1959, por ocasião do centenário da sua morte, São João XXIII dedicou-lhe a encíclica “Sacerdotii Nostri Primordia”, apresentando-o como um modelo dos sacerdotes.

Hoje estamos refletindo o Evangelho de Mateus, que inicia o texto descrevendo a tristeza de Jesus com a morte de João Batista, buscando refúgio num lugar deserto e afastado, mas a multidão o descobre e se faz presente ali, onde ele estava. Era muita gente, buscando estar ali com o Mestre Galileu. Era tanta gente que os discípulos ficaram preocupados, pedindo a Jesus que mandassem aquela gente embora, pois não havia meio de eles arrumarem tanto alimento para saciar a fome daquele povo todo. Daí, surgir da boca de Jesus a frase afirmativa: “Eles não precisam ir embora. Dai-lhes vós mesmos de comer!” (Mt 14,16) Na verdade, os discípulos estavam querendo eximirem-se das suas responsabilidades, perante o povo, coisa que Jesus não aceitava e nem admitia de modo algum.

“Dai-lhes vós mesmos de comer!” Esta frase já fez parte de um dos lemas da Campanha da Fraternidade. Este foi o lema da Campanha da Fraternidade de 2023, promovida pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). O tema desta campanha neste ano foi “Fraternidade e Fome”, e o lema, retirado do mesmo Evangelho de hoje de Mateus (14,16). Lembrando que esta iniciativa dos bispo é sempre um convite à reflexão e, principalmente a ação, diante da fome, destacando a responsabilidade de todos e todas em promover a partilha e a fraternidade. Em se tratando do Ministério Presbiteral, a responsabilidade destes é ainda maior, pois devem dedicar sua vida ao serviço dos mais necessitados, ainda mais num contexto de fome. É como prevê também um dos documentos do Concílio Vaticano II sobre o Presbiterato: “Os presbíteros do Novo Testamento, em virtude da vocação e ordenação, de algum modo são segregados dentro do Povo de Deus, não para serem separados dele ou do qualquer homem, mas para se consagrarem totalmente à obra para que Deus os chama”. (cf. Presbyterorum Ordinis, 3)

Jesus sacia a fome da multidão promovendo a partilha. Onde há partilha, não há fome, pois todos se dão de forma solidária, até mesmo diante da fome. Jesus não foge da missão de servir ao povo e nem permite que os seus seguidores se eximam desta responsabilidade. Ele continua fiel à missão de servir ao seu povo. Reúne e alimenta as multidões sofredoras, realizando os sinais de um novo modo de vida e de anúncio do Reino. Isso faz-nos lembrar do Papa Francisco, ele que foi o Papa que esteve mais próximo das lutas do povo simples, lembrando que o Cristianismo não iniciou nas suntuosas catedrais e sim na simplicidade dos espaços periféricos. Tanto que ele cunhou os três “Ts” “Terra, Teto e Trabalho, afirmando que estes são direitos sagrados, que faz parte da Doutrina Social da Igreja (DSI)”. E lutar por eles, é missão de todos nós, sobretudo dos sacerdotes.

No dia em que se comemora a vocação sacerdotal, seria muito importante que todos os presbíteros tivessem esta dimensão de seu pastoreio, dedicando as suas vidas às lutas populares e exercendo o seu ministério em nome da dignidade humana, da justiça social, do desenvolvimento dos mais pobres e dos descartados. Partilhar a vida e lutar pela sociedade da partilha, da igualdade e da fraternidade. Este mesmo texto de Mateus hoje aparece também em Mc 6,31-44. Ali, ele nos faz entender, através dos ensinamentos de Jesus, que não é preciso muito dinheiro para comprar comida para o povo. É preciso simplesmente dar e repartir entre todos, o pouco que cada um possui. Dando e repartindo, todos ficam satisfeitos, e ainda sobra muita coisa. Dar e receber, partilhar! É nisto que se consiste também a Eucaristia: Pão partilhado, saciando as mais variadas formas de fomes.